Angústia

Angústia Graciliano Ramos


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Angústia





Dos livros de Graciliano Ramos, Angústia é provavelmente o mais lido e citado, pois a maioria da crítica é dos leitores considerarem-no a sua obra-prima. Trata-se, na verdade, de um livro fuliginoso e opaco. O leitor chega a respirar mal no seu clima opressivo, em que a força criadora do romancista fêz medrar o personagem mais dramático da moderna ficção brasileira - Luís da Silva. Raras vêzes encontraremos em nossa literatura estudo tão completo de frustração.Com efeito, Luiz da Silva éum frustrado violento, cruel e irremediável, que traz em si reservas inesgotáveis de amargura e negação.

Há certos indivíduos que têm instalado na alma um zero funcionando como multiplicador dos valores que se aproximam. Em Luís da Silva, não existe êsse dissolvente integral, como poderíamos pensar a primeira vista. Um zero interior anula os valores propostos ao pensamento: nêle, o que há é depravação dos valores, sentimento de abjeção ante o qual tudo se colore de tonalidade corrupta e opressiva. Em Luis da Silva vemos uma fúria evidente contra a sua vida e a sua pessoa pelas quais não tem a menor estima; falta-lhe, na verdade, o mínimo de confiança necessária para viver. Luis da Silva se sente sujo fisicamente, e a obcessão da água purificadora percorre o livro, em que o banheiro desempenha papel importante.

Êste sentimento de abjeção volta-se sôbre êle próprio: Luis da Silva se anula pela autopunição e só consegue equilibrar-se assassinando o rival. Um equilíbrio precário que o deixa arrasado, mas de qualquer modo é a única maneira de afirmar-se.

Na realidade, nojo, inércia e desespêro são características de Luís da Silva; estendem-se por todo o livro porque êle dissimula o mundo ao seu mundo interior. Na crispada corrente da narrativa, todos se dispõem como projeção dêle próprio: a miséria dos outros é a sua e uma vaga fraternidade liga-o a seu Ramalho, à fraqueza de d.Amélia, à maluquice de Vitória. O vagabundo Ivo é um eco da sua própria inquietação, da resignada submissão aos fados. Moisés tem na Revolução a confiança que quisera ter e não pode. O próprio Julião Tavares, que entra na vida de ombros e cotovelos, possui uma desenvoltura que o atrai. Essa solidariedade do narrador com os outros personagens constitui para unificar a atmosfera pesada de Angústia, multiplicando em combinações infindáveis o drama básico da frustração."

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In: Orelha da Edição

Literatura Brasileira / Romance / Ficção

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