Um dos trabalhos filosóficos mais lidos e influentes de todos os tempos, Assim falou Zaratustra talvez deva sua extraordinária fortuna ao seu caráter híbrido: filosofia, religião e literatura nele se juntam de maneira complexa e atraente. Ao publicar Além do bem e do mal, livro imediatamente posterior, Nietzsche revelou ao amigo Jacob Burckhardt que a nova publicação continha "as mesmas coisas que havia dito antes pela boca de Zaratustra, mas de modo diferente, bem diferente". De fato, o leitor reconhecerá, na linguagem metafórica e alegórica dos discursos e diálogos de Zaratustra, muitas das ideias que seriam desenvolvidas em prosa reflexiva nas obras posteriores - ou que já haviam sido abordadas em Aurora e A gaia ciência, livros aos quais ele chegou a se referir como "comentários ao Zaratustra antes que ele aparecesse".
Quem é Zaratustra? Ele se baseia numa personalidade histórica, da qual, porém, sabe-se muito pouco. Zaratustra ou Zoroastro - seu nome grego - viveu em algum momento entre os séculos XII e VI a.C., na Pérsia. A ele se atribui uma concepção do universo em que o mal ou a escuridão se acha em perene conflito com o bem ou a luz, doutrina que depois seria registrada no Zend-Avesta. Numa passagem de Ecce homo, Nietzsche justifica da seguinte maneira a escolha desse personagem: "Zaratustra foi o primeiro a ver na luta entre o bem e o mal a roda motriz na engrenagem das coisas - a transposição da moral para o plano metafísico, como força, causa, fim em si, é obra sua".
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