“Camila Fabbri é uma observadora minuciosa, mas nada passiva: não renuncia ao sonho de que as palavras façam algo, modifiquem algo, tenham efeitos concretos do outro lado do livro. É preciso ler em voz alta estes contos, porque neles abundam descrições belamente caprichosas e um fraseado personalíssimo. É impressionante a capacidade da autora para manter no ar as ilusões de seus personagens desesperados.”
– Alejandro Zambra
Quando Amalia tinha 12 anos, gostava de frequentar a casa da vizinha. Por lá, havia uma piscina no quintal, o desejo maior em meio ao verão implacável de Buenos Aires. Mas havia também um filhote de jacaré. O réptil era pequeno e, no entanto, sua boca assustava. Quando alguém esboçava um mísero pavor, ouvia dos donos da casa: “Não tema, é inofensivo”. Nada que se mexa, que tenha fome ou que sinta cheiro pode ser assim tão livre de causar algum tipo de receio. Ser alvo da animalidade – a nossa e a alheia – é o destino implacável de todos. Essa é a ideia por trás de Estamos a salvo, reunião de dezessete contos afiados como caninos da escritora argentina Camilla Fabbri, um dos grandes nomes da atual literatura latino-americana.
“Os olhos do jacaré eram aquosos e mornos, como os de quem acaba de chorar e não quer que se note. Ela percebeu certa agitação no animal, queria demonstrar compreensão e passou a mão através do limiar dourado”, arrepia-se a personagem do conto Sobras.
Entre os protagonistas de Fabbri, em sua maioria mulheres e crianças, impera uma espécie de aceitação da vida como elemento de constante selvageria, que obriga a todos a viver em estado de alerta como um animal numa selva. Ou numa jaula. Seja no caso da atriz madura que se envolve com um operador de som bem mais jovem, ou no do homem preso dentro do terror que pode ser um shopping, Estamos a salvo é um livro que nos obriga a escutar as feras.
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