"Todos os meus livros são simples tentativas de rodear e devassar um pouquinho o mistério cósmico, esta coisa movente, impossível, perturbante e rebelde a qualquer lógica, que é a chamada realidade, que é a gente mesmo, o mundo, a vida. Antes o absurdo que o óbvio, que o frouxo. Toda lógica contém inevitável dose de mistificação. Toda mistificação contém boa dose de inevitável verdade." Esta declaração de Guimarães Rosa contém a chave para que o leitor penetre no universo extraordinário criado por sua obra. Para ele, a elaboração da linguagem e a organização da narrativa devem restituir a complexidade e o mistério inerentes à vida. Rosa preservou e transfigurou o dado regionalista, dotando-o de uma universalidade fundada na indagação sobre as forças íntimas e subterrâneas que habitam o homem e na revelação de uma transcendência presente nos mais miúdos aspectos do real. Eleito em 1963 para a Academia Brasileira de Letras, adia por quatro anos sua posse e só assume sua cadeira em 1967. Três dias depois de sua posse, no dia 19 de novembro de 1967, Guimarães Rosa morre, prostrado por um enfarte. No seu discurso de posse, havia declarado: "As pessoas não morrem, ficam encantadas".
Ficção / Literatura Brasileira / Romance