Para onde quer que nos voltemos, ela está presente, infinitamente presente desde o século XVI ao século XVIII; no conjunto das cenas doméstica, económica, intelectual, pública, conflitual e mesmo lúdica da sociedade, a mulher está lá. Dela se fala muito, a perder de vista, para se pôr o universo em ordem. Mas aqui reside o paradoxo, porquanto esse discurso pletórico e repetitivo sobre a mulher e sua natureza é um discurso atravessado pela necessidade de a conter.
Pressentimo-lo a partir de agora: o discurso não dá conta da realidade da sua existência; cego, não a vê senão através de uma imagem, a da mulher que se arrisca a ser perigosa pelos seus excessos, ela que é tão necessária pela sua função essencial de mãe. O discurso não a mostra, inventa-a, define-a por meio de um olhar sábio que não pode senão subtraí-la a si mesma.
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