Linhas férreas cortam paisagens, emprestam-lhes movimento e pouso, determinam os campos de trânsito e comércio, sublinham os espaços de multidão e exílio. Se a imagem que organiza esta coletânea de contos curtos suscita rigor plúmbeo, é apenas para conferir mais acento ao colorido de transbordamentos e latências que dominam cada uma das situações colocadas um vizinho malcriado, o instantâneo de um homem que descansa em frente ao mar, um casal e suas distâncias numa mesa de restaurante, uma menina e os significados da casa da avó. Histórias em que o tempo da ação se vê dominado pela força gravitacional da memória e suas projeções; o foco narrativo dominado pela perplexidade ante o mistério da manifestação exterior de medos e desejos; o silêncio que contorna experiências de cárcere, fraternidade e impermanência os quadros expostos dão notícia de um universo em que pouco interessam identidades regionais ou predominâncias do urbano ou rural: teatros, praças, praias, restaurantes, prisões, asilos, casas de fazenda e apartamentos são os palcos assinalados pelas variadas paixões e sentimentos de seus atores.
Linha férrea, de Tércia Montenegro, foi publicado originalmente em 2001 como vencedor da categoria conto do Prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira, promovido no ano anterior pela revista CULT.
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