Aos 40 anos, o iconoclasta Marcelo Mirisola, novo morador de Copacabana, faz um balanço de sua carreira literária ao relançar Fátima fez os pés para mostrar na choperia, seu primeiro livro, lançado pela Estação Liberdade em 1998. Em texto inédito para esta segunda edição, Mirisola declara sentir saudades “do garoto de vinte e dois, vinte e três e vinte e quatro anos que escreveu esse livro”. Em 1998, quando ele começou, Fátima agitou a literatura brasileira, que vivia período apático. Passados oito anos da estréia, Mirisola grita: “cumpri todas as expectativas desse moleque metido a besta e, hoje, aos quarenta anos, me sinto um fracasso. Quero dizer o seguinte: é como se a arte tivesse esmagado a vida”.
A descoberta do trabalho de Mirisola começou com a psicanalista e escritora Maria Rita Kehl, que assina o prefácio do livro. Ela revela a boa surpresa que teve ao encontrar, em meio às correspondências do então marido (o articulista Marcelo Coelho), muito ocupado na época, um maço de contos escritos a máquina assinados por Mirisola: “Há muito tempo eu não era surpreendida por um escritor muito bom”. Para Maria Rita, a escrita de Mirisola é de uma “liberdade impressionante”.
A narrativa deste autor não se caracteriza exatamente por um tipo de enredo clássico. Desde o livro de estréia, e depois dele com outra coletânea de contos e romances, o estilo literário de Mirisola é considerado, por muito críticos, iconoclasta. Segundo o escritor Marcelo Rubens Paiva, Fátima fez os pés para mostrar na choperia “é de difícil definição. São crônicas, mas são contos, e são cartas e pode ser um só romance”. E é exatamente a partir desta indefinição inovadora que o autor expõe, com originalidade, a banalização da vida cotidiana e o culto ao mundanismo.
Tanto neste livro de estréia quanto nos que sucederam, Mirisola abusa da atmosfera sexual, a qual rega com pornografia, perversões, cinismo e canalhice, os principais ingredientes de sua prosa.
Nos últimos anos, o autor publicou também Herói devolvido (contos, 2000), Azul do filho morto (romance, 2002), Bangalô (romance, 2003),Notas da arrebentação (contos, 2005). Além disso, em parceria com o cartunista Caco Galhardo, publicou O banquete (2003).