Em 1871, um encontro casual nas movimentadas docas de Yokohama une um jovem aventureiro da Nova Inglaterra, engenheiro mecânico, e o arruinado filho de uma outrora altiva linhagem samurai. Desta improvável aliança nasce Hosokawa-Napier, Limited - uma sociedade perfeitamente ajustada, em que a engenhosidade técnica e a energia americanas se somavam à diligência e honra japonesas. Dono de terras em Kyushu, a ilha mais ao sul do arquipélago japonês, onde cultiva amoreiras e bichos-da-seda, Fujio Hosokawa e Andrew Napier selam um aliança temperando-a com sabedoria: jamais seus sangues se misturariam, num respeito mútuo entre as duas raças. Coroando o pacto, Andrew oferece ao amigo uma caixa preta laqueada, com caracteres gravados a ouro na tampa, feita a mão por ele mesmo, como repositório dos documentos legais da sociedade, mas , acima de tudo, com um gesto de confiança e boa vontade entre amigos. Nesta noite, suas assinaturas determinariam o rumo das gerações futuras, e ficou acordado que a caixa apenas seria aberta caso uma séria violação do acordo forçasse o rompimento do pacto.
1936. Quando o mundo treme ante a ameaça de guerra, recai sobre a segunda geração da dinastia mecantil - Douglas Napier e o Barão Tadashi Hosokawa - a responsabilidade de salvar o império; a seda financiara a revolução industrial japonesa, o artigo mais importante do comércio com o Ocidente, mas, após a Grande Depressão de 1929, o mercado de luxo para a seda japonesa entrara em colapso, e a economia do país ainda sofria as consequenciais desse golpe severo. Mas nenhum dos dois está preparado para aceitar o devastador documento cujo conteúdo mudaria para sempre os destinos de uma relação que, mais do que um acordo comercial, era a própria trama das suas vidas. Naquela caixa estava a história não contada de uma dinastia. Agora, os fios que uniam a duas famílias tinham que ser rompidos: o casamento de Maxwell Napier e Shizue Hosokawa, a terceira geração, apagaria o hífen que separa as duas raças como uma lâmina afiada, mas representaria a dissolução obrigatória da sociedade. Também os acontecimentos mundiais exigem e forçam uma separação: Japão e Estados Unidos estão em lados opostos da guerra. E a história ganha em suspense e emoção.
Oriente e Ocidente se misturam nessa fabulosa epopeia em que acordos, compromissos, severos códigos de honra e amores proibidos se entrelaçam numa narrativa de ritmo ágil, cheia de colorido, emoção e detalhes vívidos. Das colinas viçosas de Kyushu, onde um amor proibido floresce ao sol do último verão de paz, até a China dilacerada que se prostra ante os exércitos vitoriosos do Sol Nascente; desde a Berlim de Hitler até San Francisco e os campos de batalha do Pacífico;e, finalmente, o pesadelo que foi Nagasaki, Omamori arrebata o leitor num torvelinho de vidas atadas por implacáveis códigos de honra, divididas por paixões inevitáveis, que parecem lutar contra a História. Mas, acima da força arrebatadora dos acontecimentos, adejam as asas do pássaro Hoo gravado no omamori, símbolo da vida eterna, da esperança imorredoura.
Literatura Estrangeira