Este livro propõe uma leitura política do conceito do trágico, numa tentativa de jogar luz sobre o desespero humano na era contemporânea, do chamado capitalismo tardio. Terry Eagleton parte da convicção de que um materialismo genuíno, que se opõe tanto ao relativismo historicista quanto ao idealismo, precisa levar em conta também os aspectos da existência que constituem as estruturas permanentes do ser humano, entre os quais está a realidade do sofrimento. Com base nas ideias de Hegel e Freud, ele constrói um novo conceito de tragédia, crítico tanto em relação à visão dos conservadores – para quem a tragédia está morta, pois já não há deuses nem se acredita em destino – quanto à abordagem da esquerda, para a qual a tragédia simplesmente não é mais desejável. Eagleton defende que a tragédia continuou ocupando seu espaço no século 20, mas transfigurou-se no âmbito da modernidade e tornou-se parte, núcleo mesmo, da cultura ocidental contemporânea. Está interiorizada em cada ser humano, como a “noite do mundo”, de Hegel, em luta contra a razão, ou como o Thanatos descrito por Freud como o instinto de morte em eterna oposição a Eros, o amor. O ser humano moderno, diz o autor, fez um pacto faustiano com os extremos do mundo capitalista tardio e ficou preso entre o desejo e a “noite do mundo”, sujeito a deslizar inesperadamente do sonho de liberdade individual ao pesadelo de uma solidão angustiante. Eagleton também visita autores como Ésquilo, Edward Albee, Melville, Kafka, Dostoiéviski, Goethe e Thomas Mann para desmontar a crítica que enxerga na tragédia possibilidades de redenção e transcendência ou mesmo de alegria. Ele sugere que a própria definição de tragédia jamais foi aprofundada, mas permanece superficial, incapaz de dar conta da profundidade semântica do conceito.