Um grupo de especialistas dedicou-se durante 8 anos a reunir cópias de mais de 700 processos políticos que tramitaram pela Justiça Militar, entre abril de 64 e março de 79. O resumo desta pesquisa está neste livro. Um relato doloroso da repressão e tortura que se abateram sobre o Brasil.
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ORELHAS:
"A tortura é o crime mais cruel e bárbaro contra a pessoa humana. Tradicionalmente se argumentou que a tortura era um meio de forçar as pessoas a falarem a verdade. A realidade de hoje, porém, mostra que, com os sofisticadíssimos instrumentos de tortura, não somente física mas mental também, é possível dobrar o espírito das pessoas e fazê-las admitir tudo quanto for sugerido pelo torturador. Esta é a própria negação da identidade humana legada por Deus, e contraria a vontade do nosso Criador. O que é especialmente intolerável nos dias de hoje é que, justamente quando a maioria dos povos subscreve o reconhecimento e defesa dos direitos humanos e a dignidade do ser humano, esses direitos estão sendo mais flagrantemente suprimidos e violados no mundo inteiro.
Cremos, como cristãos, que a única e verdadeira segurança nacional reside em facilitar a plena participação das pessoas na vida do seu país. Somente quando houver diálogo e uma vida de confiança e respeito mútuos entre as pessoas em todos os níveis da sociedade, somente então poderá existir a verdadeira segurança nacional.
Este livro não pretende ser meramente uma acusação, mas sim um convite para que todos nós reconheçamos nossa verdadeira identidade através das faces desfiguradas dos torturados e dos torturadores. Fazemos isso em nome de Cristo que foi torturado e crucificado para que tivéssemos vida em toda a sua plenitude. Na cruz, Jesus intercedeu pelos seus torturadores. Foi este Jesus que falou aos seus discípulos, assim como a nós: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". E aquela verdade é conhecida e praticada quando se é justo e se afirma a dignidade de cada ser humano". (Philip Potter)
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CONTRACAPA:
"As experiências que desejo relatar no frontispício desta obra pretendem reforçar a ideia subjacente em todos os capítulos, a saber, que a tortura, além de desumana, é o meio mais inadequado para levar-nos a descobrir a verdade e chegar à paz.
Não há ninguém na Terra que consiga descrever a dor de quem viu um ente querido desaparecer atrás das grades da cadeia, sem mesmo pode adivinhar o que lhe aconteceu. O "desaparecido" transforma-se numa sombra que ao escurecer-se vai encobrindo a última luminosidade da existência terrena.
O que mais me impressionou, ao longo dos anos de vigília contra tortura, foi porém o seguinte: como se degradam os torturadores mesmos. Esse livro, por sua própria natureza, não pode dar resposta plena à questão.
Advertia um general, aliás contrário a toda tortura: quem uma vez pratica a ação, se transforma diante do efeito da desmoralização infligida. Quem repete a tortura quatro ou mais vezes se bestializa, sente prazer físico e psíquico tamanho que é capaz de torturar até as pessoas mais delicadas da própria família.
A imagem de Deus, estampada na pessoa humana, é sempre única. Só ela pode salvar e preservar a imagem do Brasil e do mundo. " (Paulo Evaristo, Cardeal Arns, Arcebispo Metropolitano de São Paulo)
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