Este livro trata do conceito de desenho entre os séculos XVI e XVIII, em Portugal, visando a demonstrar a importância dessa ciência nas ações oficiais da Coroa. O investimento nesse precioso instrumental de projeto e na formação de um quadro de profissionais habilitados a empregá-lo foi parte da política expansionista desenvolvida pelas nações do período.
Disegno apresentava a tripla conotação de raciocínio prévio (i.e., projeto), representação gráfica e desígnio. Nesse sentido, a interpretação da série de "desenhos-desígnios" e documentação correlata legada pelos engenheiros militares permite entrever os diferentes momentos da política de colonização e produção do território do Brasil e conhecer os instrumentos dessa ação política.
Tanto quanto qualquer arma de fogo, foi o desenho eficiente mecanismo de conhecimento, apropriação e controle do território; um veículo capaz de fornecer à Coroa a medida de seu império e materializar nas Conquistas Ultramarinas a presença de um rei distante.
Num panorama em que os jovens arquitetos e engenheiros pouco desenham ou, quando o fazem, muitas vezes concebem suas obras em folhas em branco ou diretamente nas telas dos computadores, é importante resgatar o alcance da ciência do desenho na formação de seus ancestrais colegas de profissão, para os quais desenhar significava raciocinar, em diálogo permanente com o sítio. Longe de ser tosca ou naïve, a principal ferramenta de trabalho dos engenheiros militares, em sua maioria desenhos manuscritos e aquarelados, é hoje admirável por sua beleza, codificação, engenho e pragmatismo.
Arquitetura e Decoração / Engenharia