"Existe uma dor latente em 'As Mulheres que Ninguém Vê'. Uma dor que só se aprofunda quanto mais se lê. “28 anos e cinco filhos. Casada desde os 16 anos.” O primeiro filho, aos 17. O segundo, aos 18. O terceiro, aos 20. O quarto, aos 22. O quinto, aos 25. “Carmim, assim, era criminosa ardilosa.” Não só ela, mas Rosa, Líria e Margarida. É tão duro quanto necessário conhecer as histórias dessas mulheres. Porque existe um tribunal em curso. E ele não só é injusto como desumano.
Perseguir a humanidade, matéria-prima cada vez mais rara no jornalismo, é dever de ofício. Em tempos obscuros e de retrocesso, negligenciar os contextos, as desigualdades e os privilégios é negar o sentido de reportar. O jornalismo existe para o que nem sempre é visto ou revelado. Somos olhos. Inquietos, críticos e plurais.
Ao nos aproximar, de forma tão sensível e respeitosa, das vidas de Carmim, Rosa, Líria e Margarida, a autora vai além de contar. Denuncia e faz compreender que numa cena trágica de uma mulher sangrando, no banheiro de casa, se escondem e se escancaram muitas violências. A de estar sozinha. A de decidir sozinha. A de pagar sozinha por um crime que sequer existiu.
'As Mulheres que Ninguém Vê' é um grito urgente. Um desabafo. Um chamado ao humano que habita em nós e no jornalismo".
Ciara Carvalho, jornalista, em comentário sobre o livro.
Não-ficção / Sociologia