spoiler visualizarMicael81 05/05/2020
Retrato sofrido de vidas sofridas
Eu sabia que era um livro feminista e muito polêmico na Coreia do Sul. Achei chato, sofrido, penoso. É um livro que tenta resumir a experiência de a mulher sul-coreana. Talvez de toda mulher daquele país. Talvez consiga de fato de alguma forma resumir a vida de mulheres de todo o mundo. No entanto essa experiência, de ser mulher como retratada nesse livro é uma experiência chata, sofrida, penosa e ler sobre isso para mim também o foi. Há poucos momentos bonitos no livro, talvez feitos mais bonitos por serem pausas pequenas numa catástrofe continua.
Alguns momentos felizes em meio a tanta injustiça. A mãe defender os direitos das filhas e consegui-las um quarto cada, ter um ambiente de trabalho onde há um nível de profissionalismo e uma chefe mulher, conseguir casar com alguém compassivo e apoiador. Mas tudo isso em meio a um mundo machista parece como no meio de uma cena de batalha de guerra mundial durando 2 horas ter 3 cenas de 15 segundos cada onde se faz carinho a um cachorro, se alimenta um passarinho, se conta uma piada boba.
Não acho ruim ter lido. Acho que aprendi um pouco e acho que o livro traz muita verdade. Acho que é um retrato bastante fiel de muito da podridão do machismo. Talvez de alguma forma comparável seja o privilégio de dirigir um carro versus andar numa biclicleta. E muito talvez se fale da podridão dos motoristas de carro em relação aos ciclistas, de uma cultura tóxica do carro, poluente, desumana versus a cultura sustentável, idealista e fragilizada da bicicleta. Talvez as mulheres sejam como os ciclistas, os homens tantas vezes cegos aos seus privilégios e a realidade das mulheres-ciclistas, nessa analogia.
Eu gostei muito da parte meio psicológica mediúnica do começo do livro. A protagonista quase encarna num sentido mediúnico pessoas que ela conheceu em vida. Parecia que o livro poderia ter sido meio Haruki Murakami, retrato de mistério e psicologia, algo que eu valorizaria. Em vez disso o livro é bastante didático, entremeado ocasionalmente de dados meio secos e demográficos que apoiam a tese feminista. Quase um livro-tese portanto, com um argumento, com tudo valendo como uma ilustração desse argumento.