Denise Ximenes 09/11/2024
"Só de joelhos se lê Conceição Evaristo, em prece!"
Até que ponto, o homem escravo dos seus instintos é SÓ um homem insaciável? A gana de subjugar as mulheres não seria, talvez, a tentativa de camuflar alguma dor escondida lá num canto inacessível de sua alma? É assim que Conceição Evaristo tece os fios da composição do personagem central desse que, na minha opinião, é o melhor dos livros da autora.
Fio Jasmim é o típico exemplar do "primeiro sexo", que exerce a manutenção do comportamento patriarcal com excelência (perdão, não achei outra palavra mais adequada). Eleita a mulher ideal para chamar convenientemente de esposa, Jasmim atravessa a vida ignorando o significado da palavra 'respeito'. E vem a questão inicial: o instinto desmedido não seria esconderijo de algo impublicável?
A estrutura patriarcal prejudica, inclusive, os homens. Bell Hooks vem dizer que eles não têm certeza sobre o que vai acontecer com o mundo que eles conhecem tão bem se o patriarcado mudar. É mais fácil apoiar passivamente a dominação masculina, mesmo quando sabem, no fundo, que estão errados.
Evaristo não enfatiza, nesse enredo, senão a fragilidade do homem. Esse, a quem desde sempre é ensinada a cartilha da força e da dominação, é descrito, sobretudo, como um "menino grande" - que usa o sexo como o apaziguamento para as lacunas da vida.
Minha quinta estrela vai para o posfácio de Valter Hugo Mãe, que traduz em palavras o que muitos pensamos:
"Só de joelhos se lê Conceição Evaristo. Em prece. Eu penso que desde a raiz do tempo, se previa que Mestre Conceição Evaristo nos haveria de educar a todos com a grandeza de sua mensagem."