PorEssasPáginas 27/03/2013
Resenha: Columbine - Por Essas Páginas
Em 20 de Abril de 1999, dois adolescentes no último ano do Ensino Médio entraram na sua escola e começaram a atirar em colegas e professores, matando um total de 13 pessoas e ferindo mais de 20 antes de tirarem as próprias vidas. A tragédia que chocou a pequena cidade de Littleton, Colorado, foi transformada em um circo pela mídia e pelas igrejas locais, causando intermináveis debates sobre aquisição de armas, medicamentos para depressão, e pais que não criam seus filhos com valores morais. Mas a pergunta que assombrou os estudantes, seus pais e todos que acompanharam o caso nunca foi propriamente respondida: Por quê? Juntando elementos da investigação, relatos de profissionais ligados ao caso, entrevistas com diversas pessoas envolvidas, e os diários e vídeos dos assassinos, Dave Cullen formou um esboço de Eric Harris e Dylan Klebold, que nos ajuda a entender melhor seus motivos e, quem sabe, prevenir que mais tragédias desse tipo aconteçam.
Existem vários mitos sobre o tiroteio em Columbine. Para quem – como eu – não se lembra dos detalhes da tragédia (com apenas 15 anos de idade, lembro-me de ter ficado horrorizada, mas nada além disso), uma busca básica na internet contará como se acreditava que os pais de Eric e Dylan também eram responsáveis, a história de Cassie Bernall, a garota que disse acreditar em Deus e por isso foi assassinada, ou que um grupo do qual Eric e Dylan faziam parte – a “Máfia dos Sobretudos” – estaria por trás do ataque. Durante muito tempo também se acreditou que Eric e Dylan teriam tido alvos específicos, ou que eles fossem góticos solitários. A realidade, de acordo com Cullen, era totalmente oposta.
Eric Harris e Dylan Klebold eram ambos de famílias de classe média, tinham vários amigos e tiravam notas boas na escola. Apesar disso os dois garotos eram extremamente diferentes, e sendo assim os caminhos que percorreram até chegar no mesmo objetivo foram igualmente diferentes. Uma das coisas que mais me surpreendeu foi apesar de Columbine ter sido um tiroteio, a ideia inicial não era essa. Eric desprezava atiradores: por quê perder tempo atirando em meia dúzia de pessoas quando se pode matar mais de 500? O plano – arquitetado por Harris mais de um ano antes – era simples: colocar duas bombas de propano na cafeteria da escola no horário mais movimentado, esconder-se atrás de seus carros estacionados em locais estratégicos e esperar para que as bombas destruíssem a escola. Eles então atirariam em todo e qualquer sobrevivente que tentasse escapar. Somente ao ver que as bombas não explodiram foi que Eric e Dylan entraram na escola.
Mas o que torna Columbine uma leitura fascinante não é a tragédia em si, mas os relatos dos diários de Harris e Klebold, bem como de The Basement Tapes (algo como Os Vídeos do Porão), uma série de vídeos filmados pelos dois no período de um mês antes do ataque, nos quais eles explicam seus planos e motivos. Entretanto, Columbine não se foca somente no ataque e no que levou a ele, mas no que aconteceu depois. Dave Cullen mostra como a mídia apresentou conjecturas como fatos, como as igrejas da região fizeram uso da tragédia para atrair mais fiéis, e como os pais de algumas das vítimas lidaram com a perda dos filhos. Um dos fatos que mais me chocou foi a mãe de uma das sobreviventes do ataque – que sofria de depressão – que entrou em uma loja de armas, escolheu um revólver e enquanto o dono se preparava para checar seus dados, carregou a arma e se matou. Também me emocionei com o relato de pais das vítimas que após alguns anos fizeram questão de se encontrar com os pais de Harris e/ou Klebold para dizer a eles pessoalmente que os perdoavam ou que não os culpavam pelos atos dos filhos.
Sendo o livro sobre o que é, obviamente Cullen apela para o sensacionalismo algumas vezes, e frases como “ela nunca mais veria sua filha novamente” estão por toda a parte. Entretanto, é uma leitura que me deixou grudada no livro, não por eu esperar um final diferente ou por curiosidade, mas por uma vontade maior do que eu de conseguir entender. Dizer que Columbine aconteceu porque Harris era um psicopata e Klebold lutava contra pensamentos suicidas é uma maneira fácil de responder à inquietante pergunta. Eu acho que nunca será possível compreender inteiramente os motivos que levam tragédias como essa a acontecer, mas Columbine nos dá uma visão assustadora das mentes de Harris e Klebold, e nos ajuda a pelo menos começar a vislumbrar uma resposta.
Resenha original em http://poressaspaginas.com/resenha-columbine