Vinicius648 23/01/2024
Uma Atmosfera Sufocante...
Dito isso, essa é a história em que sinto a melhor construção do mundo na qual o escritor teve a paixão inicial de criar, mesmo sendo algo do feitio do Lovecraft ser tanto crítico a respeito de suas próprias obras. Essa no entanto ressalto por todos os seus elementos e creio ser um dos pontos fortes de destaque:
1°Atmosfera: A natureza da história se apresenta, no início, como uma história rural da cidade de Dunwich que é retraída nos recônditos da Nova Inglaterra em que um povoado perdido e a meio passo da degeneração que se situa em algo que está na latrina do grande centro urbano. Tirando o foco usual para quem cai de paraquedas no autor vendo-o por cima, bem como o que é muito divulgado ser a interpretação comum; o racismo pode soar um ponto central, todavia Lovecraft já indicia que o povo é escondido e habita cidades da antiga povoação britânica e com "telhados holandeses" de ascendência européia e contudo se esquecem que o autor era um aficionado pela história (e pelas ciências) do seu estado e tanto pelo estudo genealógico. Muito bem explicitado esses elementos, sua imaginação fértil contribui para a demolição de certos preceitos puristas de um povoado relativamente excluído e transforma esse cenário em um amontoado de folclore/história/geologia local para deixar o insuspeito em uma montanha de sentidos ocultos. A atmosfera se dá pela insurgente insinuação de perigos não-humanos que ameaçam nossa sanidade, os primeiros capítulos nos situam no seio do misterioso grupo familiar com características bizarras dadas as suas qualidades referidas e fazem-nos crer tratar de algo que ocorreu no passado de uma cidade comum, Lovecraft situa a narrativa como algo que ocorreu nos idos de 1928 e não diz a nenhum momento que é algo falso já que utiliza jornais, testemunhas e outros sortilégios para manter nossa fé no desenrolar de eventos.
2° trama: Hoje pode parecer algo batido, mas a medida que escrevia, Lovecraft viajava por seu estado e ia a casa de amigos, escrevendo diários de viagem e também indicando sua leitura de O Grande Deus Pã, que toca em uma inspiração tão profunda e criativamente tão aterrador quanto a obra de Arthur Machen... Acompanhamos inicialmente o neto da família Whateley do ramo degenerado (a própria mãe de Wilbur uma albina e tanto é uma doença genética, talvez sugestão de incesto, pois o ramo não tem relação com outras famílias no tocante ao parentesco). Uma criança prodígio e estranha que é educada pelo mais estranho Velho Whateley que é seu avô e claramente conhecedor de ramos ocultos da ciência e que observa e ensina seu neto nas suas artes obscuras e que tanto se atraem o desenvolvimento do neto quanto do progresso na construção e reformas da própria casa...
Seguindo depois para os professores da Universidade Miskatonic que está em situação próxima por ser a cidade mais conhecida da região, enquanto as placas indicativas de Dunwich caem aos pedaços e suas ruas se apagam pelo matagal intenso. Os professores tomam notícia dos horrores que começam a assomar seu pequeno mundo...
3° estilo de escrita: Lovecraft pode parecer prolixo, talvez seja mesmo em vários momentos, no entanto, sua prosa tem uma característica elementar, "tornar o conhecido desconhecido", leia-se: a todo momento o mundo, a natureza, o tempo e os fenômenos recorrendo se tornam algo com muitos sentidos a todo momento se insinuando como algo estranho, insólito, Weird. O que conhecemos carrega além de sua substância, suas aproximação, qualidades ocultas, uma floresta é mais do que simples árvores, geografias não são padrões ao que sabemos, até mesmo uma pedra tem sugestão de eras anteriores ao Ser humano... Nisso reside seu poder e sua qualidade de prosa "prosaica" exceto que o poético nele reside no mar de possibilidades a cada instante e assim o mundo desconhecido é um novo mundo de possibilidades extra-cósmicas ou sobrenaturais ao racionalismo moderno.