Toni 06/09/2021
Leitura 057 de 2021
A single man [1964]
Christopher Isherwood (UK, 1904-1986)
University of Minnesota Press, 1992, 188 p.
Muita gente talvez conheça a premissa de A single man [“Um homem só” (me recuso a traduzi-lo como “Um homem solteiro” e perder com isso os muitos sentidos do título)], que rendeu uma belíssima adaptação para o cinema com Colin Firth e Julianne Moore chamada “Direito de amar” (2009, Dir. Tom Ford): George é um professor inglês de meia-idade em uma universidade da Califórnia vivendo o processo de luto pela morte recente de seu parceiro Jim. A década é 1960 e a homossexualidade, um tabu. Filme e romance se concentram em um dia na vida deste homem só e ambos são brilhantes em suas diferenças. Em breve uma nova tradução brasileira sairá pela @companhiadasletras .
A single man é uma narrativa de deixar o coração aos pedaços. Não se trata apenas de uma história sobre perder alguém que se ama, mas viver o luto de um amor que “não ousa dizer seu nome”, para lembrarmos Oscar Wilde: o amor dos invisíveis, indesejáveis, “demônios que não se enquadram nas estatísticas da normalidade”, ou mesmo, na opinião daqueles treinados na “nova tolerância”, os “degenerados que não têm culpa de serem como são e merecem, por isso, nada mais que pena”. É nesse ambiente sufocante feito de aparências e no qual vizinhos e colegas de trabalho sequer têm conhecimento da morte de seu “companheiro” (essa palavra-punhal) que George tenta sobreviver a mais um dia sem Jim.
Escrito com a tinta da melancolia e a pena da decadência (parafraseando nosso Machado), Isherwood cria uma linguagem arrogante e mordaz, feita de lirismo e desfeita em desprezo pela farsa da terra do sonho e da liberdade. Linguagem que é também grito pelo direito de ser unapologetic como a Madonna (por essa referência vocês não esperavam!). Descrevendo um ciclo perfeito no conteúdo e na forma, o romance encerra toda a vida de George em um único dia e nos entrega, no acordar e fechar de olhos da personagem, a dor pungente de descobrir que todo “agora” é o único momento que temos para viver.
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