Vidas de meninas e mulheres

Vidas de meninas e mulheres Alice Munro




Resenhas - The lives of girls and women


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Edmar Lima (@literalgia) 21/04/2021

Lives of Girls and Women
Este foi mais um livro que li para a faculdade, mas ao contrário de outros que são um pouco maçantes, Lives of Girls and Women me surpreendeu pela forte mensagem que carrega. Fico impressionado que essa obra ainda não tenha tradução para o português, uma pena, pois acredito que teria grande reconhecimento aqui no Brasil se fosse traduzido. Alice Munro é uma escritora canadense, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura e Lives of Girls and Women nos mostra exatamente o poder da escrita de Munro. Ambientado no próprio Canadá de algumas décadas atrás, o livro conta a história de Del Jordan que vive com sua família em uma área rural chamada Flats Road. Acompanhamos a vida de Del ao longo das páginas, desde quando era uma criança até se tornar uma adulta. Com o passar dos anos, Del percebe que seus sonhos ultrapassam os limites da cidade e que uma sociedade conservadora como aquela em que vive não está preparada para ver uma mulher desejando estudar e ingressar numa faculdade ao invés de buscar um marido e se estabilizar. A mãe de Del tem grandes esperanças para a filha, coisas que ela mesma não conseguiu obter. O mais incrível desse livro é observarmos o amadurecimento de Del, suas dúvidas, seus questionamentos e sua esperteza. Del enfrenta constantemente os malefícios de uma sociedade patriarcal e mesmo assim não aceita a submissão. Ela faz o próprio destino e resolve ter as mesmas experiências que os meninos de sua escola tinham acesso. Sempre indo contra o sistema, considerada muito diferente das outras meninas, Del deseja provar que a vida de meninas e de mulheres precisam ser respeitadas.
Alice Munro é incrível com as palavras e subverte à ordem "natural" da posição das mulheres na sociedade. Esse livro foi banido das escolas por um longo tempo justamente por tocar na ferida de uma sociedade que ainda conserva o machismo e o patriarcado em sua estrutura. Uma leitura extremamente importante e gratificante! Espero que seja traduzido logo para o português para que mais pessoas tenham acesso.
Thabi.Almeida 27/04/2021minha estante
Aahh fiquei com vontade de ler esse, otima resenha!!! Pena que não tem tradução t.t


Edmar Lima (@literalgia) 29/04/2021minha estante
Obrigado pelo elogio! Adorei essa leitura, pena mesmo que ainda não traduziram, mas quem sabe num futuro próximo! :)




estevesandre 02/10/2024

O extraordinário no ordinário
Não é preciso ir muito longe para nomear um livro. Muitas vezes, a ideia mais simples é a mais adequada para sintetizar uma história. “Vidas de meninas e mulheres”, de Alice Munro, é esse tipo de romance que carrega todo o seu cerne no título, justamente por tratar sobre o período de transição entre ser menina e ser mulher e a relação entre o primeiro e o segundo ato.

Munro ainda exemplifica que se tornar mulher não ocorre apenas por fatores biológicos, mas pela forma como a menina enxerga outras e não só – perceber-se mulher é também observar homens. E a personagem principal deste livro está constantemente observando meninas, mulheres, meninos e homens – é este exame cuidadoso que a coloca no percurso de descoberta sobre si mesma e sobre os outros.

Há um trecho particularmente emblemático em que a protagonista, em seu anseio de catalogar o mundo e as pessoas à sua volta, narra: “Eu tentaria fazer listas. [...] A esperança de exatidão que incutimos nessas tarefas é louca, de partir o coração. E lista nenhuma poderia conter o que eu queria, porque o que eu queria era tudo, era cada camada de fala e pensamento, cada raio de luz nos troncos ou nas paredes, cada cheiro, buraco no asfalto, dor, rachadura, delírio, imobilizados e unidos – radiantes, perpétuos”.

“Vidas de meninas e mulheres” pode ser classificado como autoficção porque o intento da personagem de olhar para a sociedade e compreender o que esta é em toda a sua vulgaridade é o próprio desejo de Munro, essa autora que ficou conhecida por revelar, por meio da escrita, como os eventos mais triviais do cotidiano podem abrigar tramas extraordinárias.

Extraordinário é o que este livro é. Nada de atípico ou mirabolante acontece. É somente uma menina do interior procurando o seu lugar no mundo e se questionando se, de fato, temos um lugar nele ou estamos apenas tentando caber. Ainda assim, o li como se fosse a história mais instigante já escrita, porque Del Jordan, agora dando a ela seu devido nome, conversou diretamente comigo, me fez compartilhar de suas visões e me ensinou que na literatura eventualmente podemos fazer amigos.

Obrigado, Alice Munro, por me dar essa amiga.

| Resenha originalmente publicada na minha conta no Instagram: @memorialdeumleitor |
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