Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 20/03/2018
Rory Gilmore Book Challenge
Flora Rheta Schreiber, falecida em 1988, foi uma jornalista americana que se especializou em escrever romances sobre casos reais de esquizofrenia. Além do seu bestseller Sybil, ela também escreveu um livro sobre o serial killer Joseph Kallinger.
Sybil, escrito em 1973, documentou o caso real da paciente Shirley Ardell Mason, na época ainda viva e que, por isso, ganhou o pseudônimo que dá nome ao livro. Sybil procurou psicoterapia pois sofria de lapsos de memória, bem como de crises de ansiedade. Ao longo de seu tratamento co a psicanalista Connelly Wilbur, descobriu-se que Sybil, na realidade, sofria de múltiplas personalidades e estava dividida em 16 partes. O desafio da Dra. Wilbur foi de descobrir suas 16 personalidades e integrá-las, para que Sybil pudesse voltar a ter uma vida funcional.
Aos poucos, o processo psicoterápico deixa claro quais são as origens da ruptura da mente de Sybil. Sua mãe, Hattie, era esquizofrênica e abusava de Sybil quando criança, tanto fisica quanto psicologicamente. Hattie molestava crianças, torturava Sybil e a mutilava nos orgãos genitais, quando Sybil tinha não mais que quatro anos de idade. Três personalidades de Sybil (Ruthie, Peggy Lou e Peggy Ann) foram derivadas destes traumas iniciais. Além disso, os pais de Sybil faziam sexo na frente dela, o que contribuiu para sua doença.
As personalidades de Sybil comunicavam-se entre si, através do inconsciente de Sybil, mas Sybil não tinha conhecimento de nenhuma delas. As personalidades tinham vidas próprias (amigos, trabalhos, atividades) e, quando estas personalidades desempenhavam estas vidas paralelas, Sybil ficava completamente ausente, de onde vinham seus lapsos de memória. Quando um(a) amigo(a) de uma das personalidades encontrava a Sybil consciente, momentos esquisitos e desconfortáveis aconteciam, e Sybil não conseguia compreender como tantas pessoas a conheciam sem que ela soubesse quem elas eram. Estes episódios do cotidiano foram muito bem escritos por Flora e sua competência narrativa faz o leitor apreender a existência confusa e dolorida de Sybil.
Vicky, uma das personalidades, começou a ajudar a Dra. Wilbur, orientando-a sobre como conduzir as sessões com as outras personalidades. Vicky parece compreender a totalidade do inconsciente de Sybil e é a ferramenta mais importante da psicanalista. Suas dicas foram imprescindíveis para que a integração de Sybil fosse possível.
Outro aspecto curioso é que Sybil tinha duas personalidades masculinas - Mike e Sid - que eram espelhos de traços de personalidade do pai e do avô de Sybil. Elas também representavam todo o desprezo que Sybil sentia pelos homens e por relações íntimas. Além delas, Sybil tinha personalidades extremamente fanáticas e religiosas (Marcia, Helen, Nancy) que odiavam Sybil e queriam prejudicá-la. Talvez estas personalidades, as negativas, tenham sido as que mais atrapalharam o processo terapêutico. Por outro lado, Sybil tinha personalidades alegres, expansivas e muito interessantes, como a própria Vicky e Vanessa. Elas ajudavam a Dra. Wilbur a perceber que Sybil ainda tinha possibilidades de ser feliz.
A Dra. Wilbur mostrou-se envolvida afetivamente com Sybil, considerando-se sua amiga, e estes sentimentos a impulsionaram a prosseguir com a terapia quando tudo parecia perdido. Posteriormente, alguns jornalistas disseram que todo o caso não passava de uma fraude mas, na minha opinião, é só a dificuldade que as pessoas tem de entenderem que a mente humana é muito mais complexa do que somos capazes de imaginar.
O livro é pesado e, embora trate de psicanálise, qualquer leigo no assunto é capaz de entender o passo-a-passo da integração. Flora escreveu de uma forma que o relato não parece um documentário nem um prontuário, e sim, uma obra de ficção, o que prende a atenção de quem lê. Foi uma leitura muito intrigante e que, de forma geral, me agradou
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