Vitória 30/03/2021
"Ó Senhor, meu Deus, ouve a minha oração."
Confissões de Agostinho é um grande clássico da literatura cristã e devia ser lido por todos os cristãos. É uma obra fenomenal que junta uma biografia do autor desde sua infância até a fase adulta, momentos de louvor e adoração à Deus e grandes reflexões teológicas. Me emocionei em várias partes da obra com seu testemunho, sua adoração a Deus e seus ensinamentos, tão necessários e que abordam muitos temas relevantes como o amor, a fé, a criação, o pecado, a morte e a redenção em Jesus Cristo. Recomendo muito a leitura, sinto que não sou capaz de fazer uma resenha à altura da obra. Se tornou um dos meus livros favoritos.
Citações favoritas
Tu nos despertas a deleitar-mos em Teu louvor, porque Tu nos fizeste para Si mesmo e o nosso coração estará inquieto até que repouse em Ti. (Pág. 15)
Poderão os céus e a terra, os quais Tu fizeste e onde me criaste, conter a Ti? Ou, já que nada em toda a existência poderia existir sem Ti, tudo o que existe, então, contém a Ti? Se, portanto, também eu existo, por que busco que adentres em mim, quando eu mesmo não existiria se não fosses Tu em mim? Por quê? Não estou eu nas profundezas do inferno; e, mesmo lá, Tu também estás. Pois se eu descer ao inferno, ali Tu estarás. Então, eu não poderia existir, ó meu Deus, de forma alguma, se não fosses Tu em mim; ou melhor, a menos, talvez, que eu estivesse em Ti, de quem são todas as coisas, por quem são todas as coisas e em quem estão todas as coisas. Ainda assim, Senhor, ainda assim. Para onde invocarei a Ti, se eu estou em Ti? Ou de onde virás Tu para que possas adentrar em mim? Pois para onde poderei ir além dos céus e da terra, que de lá meu Deus possa adentrar-me, se Tu mesmo disseste "Eu encho os céus e a terra"? (Pág. 16)
Olhe, Senhor, meu coração está diante de Ti; abra os meus ouvidos e diga à minh'alma: "Eu sou a tua salvação". Que eu me apresse em buscar esta voz e segure-me em Ti. Não esconda a Tua face de mim. Que eu morra, ai de mim, somente para que veja a Tua face. Pequena é a minha alma, alargue-a e nela faça morada. Está em ruinas; repara-a. Ali encontrarás o que possa ofender aos Teus olhos: confesso e o sei. (Pág. 17)
Isto, portanto, aprendi: Tu, por meio dos presentes Teus, em mim e sem precisar de mim, anuncias a Ti mesmo a mim. (Pág. 18)
Foste um pai amoroso quando deste, mas foste ainda mais quando o filho retornou sem nada. A cobiça, isso é, as afeições abscuras, são a verdadeira distância da Tua face. (Pág. 29)
Graças sejam dadas a Ti, minha alegria, minha glória e minha confiança, meu Deus, graças sejam dadas a Ti por Teus dons, pois Tu os preservaste em mim. Assim também Tu preservarás a mim e a estas coisas que me deste serão desenvolvidas, aperfeiçoadas e eu mesmo estarei contigo, pois de Ti vem tudo o que sou. (Pág. 31)
Portanto, tudo imita a Ti, mas de forma pervertida, quando separa-se de Ti e contra Ti se levanta. Porém, mesmo ao imitar-te perversamente, apontam para Ti como Criador de toda a natureza, e reconhecem que não há lugar algum para onde possam retirar-se de Ti. (Pág. 39)
Pois o que sou eu para mim mesmo, sem Ti, senão um guia para a minha propria queda? O que sou eu, mesmo em minha melhor versão, além de uma criança sugando o leite que Tu dás e alimentando-se de Ti, a comida que não perece? Que tipo de homem é o homem que vê a si mesmo como nada além de apenas um homem? Que o forte e o poderoso zombem de nós, mas que nos, pobres e necessitados, confessemos nossas falhas perante a Ti. (Pág. 57)
Pois uma amizade não pode ser verdadeira a não ser que Tu a consolides e unas a Ti, pelo amor derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, a quem nos deste. (Pág. 60)
Tu, Altíssimo, pertíssimo estás, embora ocultíssimo e, ao mesmo tempo, presentíssimo, que não possui membros maiores, ou menores, mas és inteiro em toda parte, e em espaço algum, não tens forma corpórea, embora tenhas criado o homem conforme a Tua imagem e semelhança, e veja, da cabeça aos pés o homem está contido no espaço. (Pág. 96)
As maiores alegrias são sempre precedidas pelas maiores dores. (Pág. 139)
Sou pequenino, mas meu Pai vive para sempre, e é meu guardião suficiente. Ele é Aquele que me gerou e me defende; Tu és o meu bem supremo. Tu, Onipotente, estiveste comigo antes que eu estivesse Contigo. (Pág. 180)
Sem sombras de dúvida, com a consciência segura, digo que Te amo, Senhor. Tu arrebatastes meu coração com a Tua palavra, e eu Te amei. (Pág. 180)
Mas o que amo, quando amo a Ti? Não amo a beleza do corpo, em a justa harmonia do tempo, nem o brilho da luz, tão cheio de esplendor os nossos olhos, nem as doces melodias das canções, nem o perfume das flores e unguentos, e especiarias, nem o maná e o mel, nem os membros que permitem o abraço da carne. Nenhuma destas coisas amo quando amo o meu Deus. Todavia, amo uma doce luz, uma melodia, um perfume, um alimento, um abraço quando amo o meu Deus; a luz, a melodia, o perfume, o alimento, o abraço em meu interior: onde brilha em minha alma uma luz que o espaço não pode conter, onde soa a melodia que o tempo não apaga, onde exala o perfume que o vento não dissipa, onde se prova a delícia que a fome não diminui, onde se sente o abraço em que a saciedade não põe fim. Eis o que amo quando amo o meu Deus! (Pág. 181)
Perguntei a tudo que no mundo habita sobre meu Deus; todos responderam-me: "Eu não sou Deus, mas Ele me fez". (Pág. 181)
Assim é a mente do homem, cega e enferma, torpe e indigna. Deseja esconder-se, mas que nada dela se esconda. O contrário lhe serve de castige pois não se pode esconder da Verdade, mas a Verdade lhe está oculta. Mesmo assim miserável, preferiria alegrar-se na verdade a alegrar-se na mentira. Feliz será quando nenhuma distração se interpuser, alegrar-se-á na única Verdade de onde vem tudo o que é verdadeiro. (Pág. 196)
Teu servo mais piedoso é aquele que não procura ouvir de Ti o que lhe apraz, mas que procura sentir prazer naquilo que ouve de Ti. (Pág. 197)
Tarde demais Te amei, ó antiga Beleza, sempre tão nova, tarde demais Te amei! Tu estavas dentro de mim, e eu lá fora a procurar por Ti. Disforme era eu e mergulhei nas Tuas belas criações. Estavas comigo, mas eu não estava em Ti. Mantinha-me longe de Ti aquilo que, sem Ti, nem mesmo existiria. Chamaste-me, gritaste por mim e rompeste a minha surdez. Reluziste, brilhas-te sobremaneira, e a Tua luz dispersou minha cegueira. Exalaste o Teu perfume, e fui atraido, suspirando por Ti. Eu Te saboreei, agora tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e inflamei-me pela Tua paz. (Pág. 197)
E a minha esperança não está em lugar algum senão na Tua grande e imensa misericórdia. Dá-me o que me ordenas e o faça como quiseres. Ordenas que sejamos continentes; um sábio disse: "Saber que homem algum pode ser continente sem que Deus lhe conceda tal dom já é parte da sabedoria cujo dom Deus da". Por meio da continência, somos unidos e reconduzidos a tornarmo-nos Um, de onde fôramos dissipados entre muitos. Pois ama-Te muito pouce aquele que ama qualquer coisa Contigo, mas não a ame por Ti. Ó amor, sempre a queimar sem nunca se consumir. O caridade, meu Deus, incendeia-me. Te ordenaste continência; dá-me o que ordenaste e faça a Tua vontade. (Pág. 198)
São nossos afetos que revelamos a Ti, confessando nossas próprias misérias e as Tuas misericórdias para conosco, para que Tu nos libertes por completo, como já começaste a fazer, e para que deixemos de ser infelizes em nós mesmos, e sejamos felizes em Ti. Tu nos chamaste a nos tornarmos pobres de espírito, mansos, penitentes, famintos e sedentos de justiça, misericordiosos, puros de coração e pacíficos. Veja, eu disse a Ti muitas coisas, conforme o pude e conforme o quis, pois Tu quiseste primeiro que eu confessasse diante de Ti, meu Senhor Deus. Pois Tu és bom, e a Tua misericórdia dura para sempre. (Pág. 215)
Mas o nosso conhecimento, comparado ao Teu, é ignorância. (Pág. 218)
Uma coisa é responder a perguntas, outra é brincar com os questionadores. Então, não seria essa a minha resposta, pois prefiro responder "não sei" às perguntas para as quais não tenho resposta do que zombr daquele que faz perguntas profundas e ser elogiado ao dar falsas respostas. (Pág. 222)
Teus mistérios estão muito além da minha compreensão, são grandiosos demais para mim, não posso alcançá-los. Ao menos, não pelas minhas forças, mas posso alcançá-los por Ti quando Tu me concederes, ó doce luz da minha alma. (Pág. 227)
Pode-se, porém, dizer: "existem três tempos: o presente do passado, o presente do presente e o presente do futuro". Pois esses três, de fato, existem na alma, mas não podem ser vistos de outra forma. O presente do passado é a memória; o presente do presente é a visão; o presente do futuro é a expectativa. (Pág. 227)
Existem poucas coisas das quais falamos adequadamente, já que a maioria são ditas com equívoco, embora se compreenda o que se busca dizer. (Pág. 227)
Em ti meço o tempo; a impressão que as coisas deixam ao passar por ti permanece mesmo quando já não estão mais presentes. Isso é o que meço no presente; não as coisas em si, mas a impressão que deixam. Isso é o que meço quando meço o tempo. (Pág. 233)
Mas porque a Tua bondade é melhor que todas as vidas, minha vida nada é senão uma distração, e a Tua destra me sustenta em meu Senhor, o Filho do homem, o Mediador entre o Único e nós muitos. Muitas também são nossas variadas distrações dentre muitas coisas; que por Ele eu me segure Naquele que me tem mantido seguro e recorde de minhas antigas concepções, a fim de seguir a Ti, o Único. Esqueço-me do que passou e não me distraio com o futuro, nem com o passado; fixo os meus olhos no que existe antes do tempo, não com dispersão, mas com todas as minhas forças prossigo em direção ao meu chamado celestial, onde ouvirei a voz do Teu louvor e contemplarei Teus deleites que não são vindouros nem passados. (Pág. 234)
Meu coração, ó Senhor, movido pelas palavras da Tua Santa Escritura, conturba-se na miséria desta minha vida. Por isso, na maioria das vezes, a pobreza da inteligência humana é atestada pela profusão de palavras; o questionar tem mais a dizer que o descobrir, o demandar demora-se mais que obter, e a mão que bate tem mais trabalho que a mão que recebe. Nós temos a promessa, quem a anulará? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Pedi, e recebereis; buscais, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que busca, encontra; e àquele que bate, a porta lhe é aberta. Estas são as Tuas promessas. E quem temerá ser enganado, quando a Verdade é quem promete? (Pág. 237)
Isso é o que Concebo, ó meu Deus, quando ouço as Tuas Escrituras falarem que no princípio Deus fez os céus e a terra; e a terra era invisível e informe, e as trevas cobriam o abismo, sem mencionar em que dia Tu os criaste, concebo falavas do céu dos céus, aquele céu racional, cuja inteligência tudo sabe de que não em partes, não obscuramente, não através de um vidro, mas por inteiro, com clareza, face a face; não ora isso, ora aquilo, mas, como disse, tudo sabe de uma só vez, sem sucessão de tempos. E, porque falavas da terra invisível e informe, sem sucessão de tempos, cuja sucessão apresenta ora isso, ora aquilo, pois onde não há forma, não há distinção. São, portanto, essas duas criações, uma formada desde o início; outra, informe; uma, o céu dos céus; a outra, terra invisível e sem forma. Por causa delas, entendo quanto ao que Tuas Escrituras dizem sem mencionar os dias, "no principio Deus criou o céu e a terra. Pois logo adiciona de que terra se trata e narra a divisão do firmamento no segundo dia, chamando-o céu, transmitindo-nos a que céu se refere antes mesmo de falar, sem mencionar os dias. (Pág. 243)
Para Ti não existe a diferença entre viver e viver feliz, pois Tu mesmo és a Tua própria Felicidade. (Pág. 263)
Somente disso sei: tudo é miserável se não estou em ti; não somente à minha volta, mas também dentro de mim; e toda abundância que não o meu Deus é para mim um vazio. (Pág. 265)
Pois Tu repousarás em nós, como hoje trabalha em nós; e Teu será o repouso que teremos em Ti, como as Tuas obras por meio de nós. Mas Tu, Senhor. sempre trabalhando, nunca descansas. Nem vês também no tempo, nem nele se move, nem nele descansa. E, ainda assim, fazes que vejamos todas as coisas no tempo, até mesmo o próprio tempo, e o descanso além dele. (Pág. 287)
A Ti devemos pedir, por Ti procurar, bater à Tua porta. Então, sim, somente assim receberemos, encontraremos e nos será aberta a porta. Amém. (Pág. 288)