Thainá - @osonharliterario 31/01/2020Vampiros, anos 90 e Rio de JaneiroDurante a década de 90, pesquisadores curiosos descobriram que dentro da Pedra da Gávea existia um santuário cuja a ornamentação se assemelhava muito a uma colmeia. Porém, para grande surpresa e choque da população e da mídia, o santuário não estava vazio, contendo assim uma adaga de Níquel, pedras preciosas, marfim e túmulos.
A antologia, composta por 19 contos, inicia-se com a história A Parábola da Colmeia, escrita pelo organizador do livro Raul Dias. Nela conhecemos sobre a vida de Badezir, o rei de Tiro, e as consequências de seu ato desesperado para salvar o amor de sua vida, Sabathine, da morte. Para ter a sua esposa de volta, Badezir é obrigado a firmar um pacto tenebroso que acarretará em muitas maldições e matanças em seu reino.
Os próximos contos irão se passar anos depois quando a colmeia é finalmente encontrada e aberta. O Sangue que Liberta, da autora Nancy Scarlett-Hayalla, terá como protagonista Lívia, uma bibliotecária, que encontra documentos misteriosos que pertenceram a Dom Pedro I. A curiosidade falará mais alto e fará com Lívia leia cada um dos papéis, se interessando pela pesquisa e querendo tirar suas próprias conclusões sobre o assunto.
A Resistência, do autor Leo Surcin, abordará a chegada de três militares no Rio de Janeiro após estarem na selva amazônica por seis meses. Eles encontrarão loucura, caos e mortes, e terão que lidar com os monstros de um jeito brutal que já conhecem. Enquanto isso, em Insaciável, de Letícia P. S., conhecemos Dandara em sua jornada de chegar até a igreja, mas sendo impedida por um ser desconhecido e mortal.
Já em Filha, de Luan Araujo, a narradora-personagem é uma mãe apreensiva que sente que algo a está rondando e a cercando, como uma sombra podre que a deseja e, consequentemente, a terá. Esse foi o meu conto preferido da antologia, pois a escrita e a história me envolveram e me chocaram de uma maneira particular e eu também adorei as sensações de confinamento e desespero que a personagem conseguiu transmitir. O próximo da sequência é Monstros Não Existem, da querida J.C. Gray, onde conhecemos o delegado Alberto e o depoimento absurdo de um grupo de adolescentes.
Zumbido Azul, da autora Debora S. Mattana, é narrado por uma personagem vampira, a qual está tendo lapsos de consciência e de sua memória quando ainda viva. É bastante interessante para termos um gostinho do outro lado, ou seja, dos vilões. Já em As Sombras do Beco, da Fabiane Prieto, voltamos a ter uma protagonista humana, a Rachel, uma empregada doméstica que precisa fazer todo o seu trajeto à noite sozinha para voltar para casa. É importante alertar que esse conto tem gatilho de estupro, e por isso não o recomendo para os leitores mais sensíveis ao assunto.
Em Noite Sangrenta, do autor Diego Scariot, acompanhamos um grupo de meninos que gostam de jogar futebol nas quartas-feiras, e será em um desses dias de jogatina que eles conhecerão os novos monstros do Rio de Janeiro. Samba Atravessado, do Alan de Sá, traz o policial Amaral tendo que sofrer com a vingança de Fernando, uma vítima do passado.
Mil Faces, de Abel Cavira, conta a história de Frida, uma mulher que pode aparentar não ser quem realmente é. Já Alice, da autora Luara Melchor, narrará a descoberta da personagem, que dá nome ao conto, ao ter contato com livros misteriosos e cheios de histórias macabras. Seguido por Patrícia, de Bruno Godoi, que nos apresenta o casal Patrícia e Victor que estão escalando a montanha na Pedra da Gávea e lá descobrem que o medo é uma sensação poderosa.
Em A Lenda, da autora Liz Negrão, conhecemos mais um casal, agora Pedro e Cris, que também adentra a Pedra da Gávea e descobre a verdade por trás da lenda da rainha Sabathine. Continuando há Rio 40° (abaixo de zero), do autor Yuri Leal, com um narrador-personagem chamado Júlio, um adolescente morador de rua. Essa história consegue ser ainda mais visceral por trazer personagens jovens desprovidos de qualquer cuidado ou atenção da comunidade. Chega a ser desesperador presenciar o futuro do grupo.
O Monstro de Copacabana, de Leandro Zapata, traz Sylos, um homem que é obrigado a vir para o Rio de Janeiro para caçar as criaturas que acabaram de despertar. Em Homens e Monstros, de Marcus Hemerly, temos a narração de uma capital sendo engolida pelo caos, por monstros e pela brutalidade. Uma história que foca no ambiente, nas sensações e no desespero.
Hell de Janeiro, de Leo Surcin, mostra Marcos, um dos chefes do laboratório BioStar, fazendo um experimento com possíveis candidatos para cargos na empresa. O que deveria ser apenas uma entrevista normal de emprego, na verdade faz parte de uma pegadinha de muito mal gosto. Por fim, fechando a antologia, O Último Capítulo do Tomo Vermelho, de Raphael Albuquerque, é narrado através de uma carta escrita por Benjamin Drummond, um membro da Ordem de Nabu. Nessa carta ele contará tudo que aprendeu sobre os vampiros que invadiram o Rio de Janeiro e como isso pode ajudar em estudos e caças futuras. Gostei muito de como esse conto foi escrito e da maneira escolhida para narração.
Se você gosta do gênero e do monstro em questão, aconselho que dê uma chance ao livro. Além, é claro, de apoiar o trabalho de autores e autoras nacionais e dar uma chance para que suas histórias alcancem ainda mais leitores.
Resenha completa no blog Sonhando Através de Palavras.
site:
https://sonhandoatravesdepalavras.com.br/2020/01/31/resenha-colmeia-de-sangue-varios-autores/