jota 31/10/2023ÓTIMO: cinco estrelas (de Davi) para essa obra envolvente que se lê como um romance de aventuras mas que, infelizmente, nada tem de ficçãoAcredite: Filho do Hamas é, como diz seu subtítulo, “um relato impressionante sobre terrorismo, traição, intrigas políticas e escolhas impensáveis”. Mosab Hassan Yousef, seu autor – juntamente com Ron Brackin, jornalista investigativo americano especializado em Oriente Médio –, atualmente com 45 anos (nasceu em 1978 em Ramallah, Cisjordânia, capital administrativa da Palestina) vive na Califórnia já há algum tempo e atende pelo nome de Joseph. Sua história impressiona mesmo: ele é filho de um dos sete líderes fundadores da organização terrrorista palestina Hamas (1987), xeique Hassan Yousef, e relata como acabou se tornando, por força das circunstâncias, espião do Shin Bet, serviço de segurança israelense, por cerca de 10 anos.
Dados obtidos por meio da colaboração de Mosab com Israel permitiram evitar dezenas de atentados no país e salvar a vida de centenas de pessoas dos dois lados da fronteira, inclusive a do próprio pai dele, sem que este soubesse, claro. Vivendo nos bastidores do Hamas, Mosab testemunhou as manobras políticas e militares que contribuíram para aumentar a tensão no Oriente Médio, que várias vezes descambaram para sangrentas disputas entre palestinos e judeus. E que recentemente, infelizmente, resultou no ataque terrorista de 7 de outubro, com consequências ainda imprevisíveis.
De modo geral muitas crianças palestinas crescem aprendendo a odiar os judeus (o que é até ensinado nas escolas da ONU na Palestina, conforme se pode ver no YouTube) e são estimuladas a lutar contra eles, como aconteceu na infância e juventude de Mosab, não por influência do pai, ressalte-se. Preso por contrabando de armas aos 17 anos, ele é interrogado pelo Shin Bet e enviado para a prisão. Lá, fica chocado e revoltado com a brutalidade que os membros da organização terrorista empregavam contra os próprios palestinos na prisão por qualquer suspeita ou não adesão às suas ordens, como também se revolta com a crescente onda de atentados suicidas praticados contra os habitantes de Israel.
Concorda, então, em espionar para o Shin Bet, o que ocorreu entre os anos de 1997 e 2007. É nesse tempo que passa a estudar e conhecer melhor o cristianismo, ao qual se converte depois que emigra para os Estados Unidos. Em 2010 publica Filho de Hamas, contando sua história: através da leitura vemos que os membros do Hamas e outros líderes de organizações islâmicas – mesmo no passado, como Yasser Arafat, por exemplo, que Mosab detestava por sua falsidade –, jamais se importaram realmente com o destino dos palestinos. Alguns deles, os que de fato decidem as coisas, vivem longe da área de conflito, levam uma vida segura e confortável no Qatar.
Esses, conforme relata Mosab, nunca quiseram de verdade celebrar a paz com Israel, porque fanáticos e aproveitadores que são pretendem criar um estado islâmico global, levar sua “guerra santa” contra todos os infiéis, ou seja, todos aqueles que não professam as mesmas ideias de Maomé. Empatia, compaixão e ética jamais farão parte do vocabulário dos muçulmanos radicais. No Brasil há uma porção de gente – como o governo e jornalistas com ele comprometidos – que, por razões ideológicas, se recusa a classificar o Hamas como organização terrorista, o que de fato ele é e fica amplamente provado neste Filho de Hamas, um livro emocionante, imperdível.
Para finalizar, as recentes palavras da historiadora e jornalista americana vencedora do Pulitzer de 2004, Anne Applebaum: a esquerda bajula a Rússia e demoniza Israel. Não apenas Israel eu diria, também demoniza os Estados Unidos muitas vezes.
Lido entre 23 e 29 de outubro de 2023.