"Aonde você vai Sam?" 29/09/2022
Esperava Édipo, mas era Jó
Os cristãos são mesmo uns masoquistas com essa mania de sofrimento gratuito.
Esperava algo mais edipiano, mais heróico, mais épico, com aquele q de quebra-cabeça sendo montado, mas o Tolkien, católico como era, achou melhor recorrer a bíblia e deixar suas personagens à mercê de um mal inelutável, como na aposta que deus fez com o diabo pra f*der a vida do desgraçado do Jó a troco de nada.
A diferença aqui é tão somente que o diabo em questão, Morgoth, nem precisou barganhar com a divindade, ausente desde o começo; Beleriand é seu domínio, sua vontade é soberana e, se quiser perseguir um desgraçado qualquer em particular e com mais afinco, é só escolher qual.
Não há heroísmo aqui (e olha que as personagens lutam a história toda até contra um dragão!), heroísmo pressupõe a chance, ainda que mínima, de vitória; e não a "vitória" de Jó, que de pouco ou nada deve lhe ter valido (a menos que ele fosse tão canalha quanto seu deus), mas a vitória de Édipo que, uma vez estando estoicamente ciente da sua condição de peão, nega-se a fazer mais um movimento que seja; não aceita a "promoção" que Jó recebeu como paga por seu sofrimento desnecessário, apenas coloca um ponto final e amaldiçoa o que tem que ser amaldiçoado, maldiz o que é maldito!