Leandro.Bonizi 19/12/2022
Alberto Caeiro é considerado mestre de outros dois heterônimos de Fernando pessoa e de ele mesmo. Álvaro de Campos, em um poema em sua homenagem, o define como "flor acima do dilúvio da inteligência subjetiva.
É um poeta de extrema simplicidade. Faz uma poesia antipoética com uma filosofia de vida antifilosófica. Despreza e repreende qualquer tipo de pensamento filosófico, afirmando que "pensar é estar doente dos olhos". Refletir sobre como as coisas são é entrar num mundo complexo, desnecessário e problemático onde tudo é incerto e obscuro. O único modo de conhecer o mundo é através dos sentidos de forma objetiva e natural "Penso com os olhos e com os ouvidos". Seu maior prazer é apreciar a beleza da natureza, sem pensar no ontem ou no amanhã:
"Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar"
Pensar é um grande empecilho para captar a realidade "Pensar incomoda como andar à chuva / Quando o vento cresce e parece que chove mais". Não acredita em Deus:
"Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(...)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol."
E não acredita que as coisas são mais como mostram-se ser, por isso não acredita em nenhum sentido oculto e em nehum mistério sobre elas. As coisas têm existência apenas, são diferentes uma das outras, mas não faz nenhum juízo do que é melhor ou pior.
E por conhecer o mundo através dos sentidos, "Sei a verdade e sou feliz", demonstra que aproveita muito a vida e é fascinado por ela:
"E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo..."
Com essa concepção to mundo, possui serenidade até diante da morte:
"Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências."
E nesse verso muito bonito, diz para dar valor ao que temos:
"Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia."
Tendo nascido em Lisboa, em 1889 e morrido em 1915, mas que viveu quase toda a sua vida no campo, com uma tia-avó idosa, porque tinha ficado órfão de pais cedo. Era louro, de olhos azuis. Como educação, apenas tinha tirado a instrução primária e não tinha profissão.