Claire Scorzi 14/08/2010
Simenon e o "tema internacional"
Simenon aqui visita o tema internacional tão caro a Henry James: a relação/ contato/ contraste entre americanos e europeus. Nesta novela, porém, a situação é vista pelos olhos de um europeu - o comissário de polícia francês Jules Maigret. Em visita para observar os métodos de trabalho de seus colegas americanos, Maigret é confrontado por uma sociedade afluente, um país próspero no pós-guerra (1949). As casas bonitas, confortáveis, as pessoas saudáveis e os eletrodomésticos modernos causam estupefação (talvez, ressentimento?) num habitante da França da mesma época, cuja capital chegou a ser ocupada pelos nazistas. Este último fato sequer é mencionado, mas nem é preciso; há uma agudeza, um tom afiado no olhar de Maigret (e, assim, no de Simenon), que detecta uma insatisfação e um desespero entre esses indivíduos que bebem tanto, que tratam os estrangeiros com simpatia algo condescendente, mas que não parece maldosa; algo que suas leis, às vezes rígidas mas deixando espaço para tantos excessos - de sexo, de álcool, de conforto - deixam evidente (segundo o olhar do protagonista, e, quem sabe, do autor).
A destacar, a maneira como Simenon parece brincar com o próprio estilo da escrita americana: sua novela como que imita a forma dos romances policiais dos EUA, começando no meio da história e privilegiando os diálogos, num ritmo ágil.
O único senão: o desfecho, que soa como anticlímax. Mas é um dos melhores Simenon que tive o prazer de ler.