O Triunfo da Terapêutica

O Triunfo da Terapêutica Philip Rieff




Resenhas - O Triunfo da Terapêutica


1 encontrados | exibindo 1 a 1


Gabriel Dayan 20/07/2018

Sociologia. Psicanálise. Análise Cultural. Psiquê do Homem Moderno. Religião. Marxismo.

Livros acadêmicos tem uma vantagem por conseguir explicar detalhes de algum assunto específico. Os livros comerciais podem ser mais fáceis de ler e fascinar com frases de efeito. Não que eu seja contra frases de efeito, mas perdemos muito ao receber um assunto mastigado. É justamente no “digesto” de um assunto, que o conhecimento se solidifica dentro do coração. Esse é o caso do livro de Philip Rieff, que se propôs a anunciar, profeticamente, o aparecimento de uma figura que não temos a coragem de olhar, por medo de se identificar: O homo psicológicos, o homem terapêutico.

Rieff, Sociólogo e Crítico cultural Freudiano, tenta demonstrar como Freud e seus discípulos moldaram uma cultura totalmente dependente de si mesma, de seus próprios impulsos e que seu maior objetivo é “ser agradada”. O que assusta é como um livro de 1966 consegue demonstrar exatamente os passos da nossa sociedade rumo a sua destruição. Seus paralelos com a religião impressionam pela lucidez e clareza de relacionar uma sociedade que trocou Deus por liberdade, a Igreja por um partido, a adoração por uma práxis social e sexual revolucionária, o padre/pastor pelo terapeuta e a benção por satisfação consumista.

Crítico ferrenho dos seguidores de Freud, Rieff denúncia como todos eles, de Jung com sua psicanálise espiritualista “mística”, ou o marxismo religioso de Alfred Adler e Wilhelm Reich, ou o papel estético-pornográfico-transcendente de D.H. Lawrence como formadores de uma sociedade hiper compulsiva e disposta apenas a receber. É como se o Ubermensch de Nietzsche fosse agora o padrão das pessoas de nossa sociedade; e é ela própria que se desmorona.

O autor critica a religião achando que ela está fadada a desaparecer, o que não é nenhuma novidade para qualquer seguidor da escola de Durkheim. Porém apesar disso, Rieff reconhece o mérito da religião cristã de unir sob Deus, a totalidade da vida que nenhuma outra doutrina, inclusive de Freud, conseguiu unir. Ao final, recomenda que uma boa forma de lidar com o homem terapêutico é associá-lo em comunidade. Individualismo se combate com alteridade. Para um cristão, o livro contém pequenos sofismas sobre a fé, mas nada que comprometa o resultado final.

Altamente recomendado para discussões acadêmicas sobre teologia pública, psicologia, teorias da justiça (principalmente autores comunitaristas), psicanálise e análise cultural. É um livro denso que não se lê rapidamente. Dá vontade desistir várias vezes, não porque o livro é ruim, mas por descobrir como estamos imersos em uma cultura individualista sem nos darmos conta disso.
comentários(0)comente



1 encontrados | exibindo 1 a 1


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR