Paulo 19/10/2023
Conquistador irresistível
Mais uma comédia deliciosa de Molière. Embora não seja tão profundo como Shakespeare, o francês é meu dramaturgo favorito.
Dividida em 5 atos, a peça narra as conquistas amorosas do mulherengo incorrigível Don Juan, acompanhado de seu criado Esganarelo.
Não há limites para a luxúria do conquistador: ele seduz Dona Elvira, tirando-a do convento; tenta raptar uma noiva na véspera do casamento; galanteia simultaneamente duas roceiras, Carlota e Maturina.
Ademais, Don Juan é um trapaceiro que enrola seu credor Domingos com artimanhas. Trata-se de um imoral completo: desrespeita o próprio pai e desdenha da Igreja.
Mesmo assim, embora grande velhaco, tendemos a nos apaixonar por Don Juan, pela sua coerência e rebeldia sem medida. Ele não se sujeita a nada, desdenha de todas as regras sociais, é completamente livre. É o arquétipo do super-homem de Nietzsche, auto suficiente e materialista. Um personagem que reflete, como poucos, as aspirações do homem moderno, onipotente, porém vazio. Por isso, nos identificamos com ele.
No final, o herói tem uma morte trágica, sendo atingido por um raio e tragado pela terra. Esse evento simboliza o materialismo completo de Don Juan até sua morte, desprovido completamente da vida espiritual.