Resenhas - Aias

Mario Miranda 11/04/2020

Aias (Ájax, em tradução usual) é a Tragédia mais antiga de Sófocles que chegou até nós, escrita quando o autor já possuía 52 anos. A maturidade do autor se apresenta plenamente em uma obra com forte apelo Ético-Moral.

Aias é o segundo maior guerreiro do exército grego, sendo superado apenas por Aquiles. Após a morte deste, ao término da Guerra de Troia, Aias espera ser agraciado com os armamentos de Aquiles em reconhecimento ao seu papel ao longo das batalhas; Contudo, decidem entregar os despojos do Peleu a Odisseu, o que enfurece Aias. Aias decide, então, assassinar os líderes gregos - Menelau, Odisseu, Agamemnon. Aqui é onde se inicia a narrativa Sofocliana.

Atenas, furiosa por Aias não ter prestado honras a ela - inclusive tendo recusado a sua ajuda na Guerra - engana o guerreiro, iludindo-o que um banco de animais cativos seriam os gregos rindo dele. Aias então mata diversos animais, crendo serem Gregos, e os leva para a sua tenda para tortura-los.

Após a ilusão passar, Aias é tomado por uma vergonha inesgotável, decidindo não restar nesta vida glória para si: decide suicidar-se. Apesar da tentativa do Coro e de sua mãe, despede-se do seu filho e suicida-se com a espada ganha em batalha contra Heitor, filho de Príamo, Rei de Troia.

Teucro, seu meio-irmão, ao deparar-se com o corpo de Aias, decide enterrá-lo, o que é proibido por Menelau, desejoso que seu corpo apodrecesse na natureza (temos aqui um embate que em muito recorda outro que ocorrerá na obra Sofocliana, de Antígona com o Rei Creonte, de Tebas). A disputa só encerra-se quando Odisseu, maior inimigo de Aias, intercede por Teucro e convence Menelau a deixar que sejam realizadas as honras fúnebres.

Odisseu, em todo universo Homerico (Odisseia, Hécuba, Aias) demonstra ser, não apenas valoroso por sua sagacidade intelectual, mas sobretudo capaz de sacrifícios pessoais em prol da justiça. Odisseu, injustiçado em seu retorno narrado na Odisseia, é um defender do Justo mesmo quando isto se aplica aos seus inimigos.

Toda a história de Aias é uma história de auto-afirmação (do Homo-Deus, de Nietzsche), negando a necessidade de apoio dos Deuses. Porém, o Deus Grego não é um que perdoa, e Atenas, após o desdém do guerreiro, decide vingar-se dele: incita-o a batalha contra os gregos, anuvia sua visão, permite o seu suicídio. Aias é um livro que traz o aspecto da falta de humildade, da Húbris: independente de quaisquer características pessoas, o homem não é páreo para uma divindade. Sófocles nos traz em Aias a necessidade de apesar de sucessos, é necessário comedimento, sabedoria.