spoiler visualizarErich 21/07/2024
Minha nota é pelo "Morte e Vida Severina - auto de natal pernambucano", que foi uma leitura extremamente vívida e impactante sobre o sertão e o processo de emigração. A versão que peguei tinha também os outros contos, mas não senti deles nenhum grande destaque.
Acho que o mais próximo que já li sobre o assunto foi o fenomenal Vidas Secas, que não chegou a me emocionar como o Morte e Vida Severina. Este subiu pra um nível acima.
Vamos acompanhando o personagem em uma decrescente de ânimo. A cada momento que uma novidade parece indicar melhoria, vê-se logo que não há grande melhoria. A sensação de impotência vai preenchendo a leitura, pois não parece existir ação que afaste o personagem da constante imagem da morte.
[...]
e quer nesta terra gorda,
quer na serra, de caliça,
a vida arde sempre com
a mesma chama mortiça.
[...]
- E esse povo lá de riba
de Pernambuco, da Paraíba,
que vem buscar no Recife
poder morrer de velhice,
encontra só, aqui chegando,
cemitérios esperando.
- Não é viagem o que fazem,
vindo por essas caatingas, vargens;
aí está o seu erro:
vêm é seguindo seu próprio enterro.
Quando chegamos a fundo do poço do desânimo, a narrativa pausa e troca de foco. Somos capturados pelo evento do nascimento de uma criança. Desfoca-se da morte e foca-se na vida. O autor não tenta enganar, não tenta dizer que as coisas vão definitivamente melhorar. Mas dá uma esperança realista. As dificuldades continuarão lá. Ao olhar o bebê vemos que é:
Belo porque é uma porta
abrindo-se em mais saídas.
A história de Severino é a história de sofrimento de tantos. Cuja trajetória de vida esteve sempre tão próxima da morte. Mas que ao persistirem e produzirem (aqui como coletivo) uma nova geração, dão mais um passo. Eles não necessariamente alcançam a vida desejada, mas graças ao esforço deles, seus filhos e netos podem conseguir.