Mr. Jonas 05/02/2018
Eu
O período conhecido como pré-modernismo compreende o início do século XX. Seus marcos cronológicos são os anos de 1902 (publicação dos livros Canaã, de Graça Aranha, e Os sertões, de Euclides da Cunha) e 1922 (Semana de Arte Moderna em São Paulo). Outra denominação possível para esse período é a de Belle Époque, que também vigora no estabelecimento da cronologia artística dos movimentos europeus.
A Belle Époque se caracteriza pela apologia da modernidade e do desenvolvimento tecnológico, que toma conta de países irradiadores de cultura como França e Inglaterra. No entanto, há outra vertente dessa tendência, marcada pela morbidez e pela decadência. É nela que se pode incluir o poeta Augusto dos Anjos.
O entusiasmo pelas ciências, que se manifesta na face mais otimista da Belle Époque, está também presente em Augusto dos Anjos. O cientista alemão Ernst Haeckel (1834-1919) escreveu, em seu livro Os enigmas do Universo: ?Em cada musgo ou em cada vergôntea d?erva, num besouro ou numa borboleta, um exame minucioso nos fará descobrir belezas diante das quais, ordinariamente, o homem passa sem fazer caso?. Em seus versos, Augusto dos Anjos demonstra a mesma atenção pelo imperceptível, pelo microscópico e pelo orgânico.
No entanto, versos como os de ?Monólogo de uma sombra? ? ?Ah! Dentro de toda a alma existe a prova / De que a dor como um dartro se renova, / Quando o prazer barbaramente a ataca...? ? sugerem uma visão melancólica da existência, o que nos permite aproximar o poeta da obra de outro alemão, Arthur Schopenhauer (1788-1860), o filósofo do pessimismo. Assim, Augusto dos Anjos se manteve distante da visão empolgada e elogiosa manifestada por muitos de seus contemporâneos.
Inseri-lo na linhagem da literatura brasileira também não é tarefa fácil. Isso porque o escritor soube se manter distante de todas as escolas literárias, embora sustentando com todas elas um diálogo respeitoso. Do realismo, preserva alguma porção da crítica social e muito da análise da miséria humana; do naturalismo, a linguagem cientificista, que o conduz a uma crueza expressiva sem precedentes; do simbolismo, a exploração da musicalidade; do parnasianismo, o rigor técnico de sua métrica impecável e de suas rimas raras. Tudo isso convivendo com a disposição para tratar de temas considerados então indignos de figurar em matéria poética, feito comparável ao dos modernistas, e de figurá-los com imagens grotescas, o que seria bastante explorado pelos expressionistas.