Poemas Escolhidos

Poemas Escolhidos Cláudio Manuel da Costa




Resenhas - Poemas Escolhidos


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Breno.Franco 01/10/2023

A "mágoa do perdido"
Cláudio Manuel da Costa foi um poeta brasileiro do século XVIII. Sempre achei intrigante a sua história. Cláudio foi amigo íntimo de Tomás Antônio Gonzaga, também poeta, autor da Marília de Dirceu e das Cartas Chilenas. Envolveram-se ambos na Inconfidência Mineira de 1789. Quando interrogado pelas autoridades em julho daquele ano, Cláudio acaba comprometendo Gonzaga, que é então preso e degredado para Moçambique, onde passará o resto da vida. Cláudio Manuel da Costa se suicidou poucos dias depois do interrogatório, naquele mesmo mês de julho, enforcando-se em seu próprio gabinete. Autos da época nos fornecem uma vívida descrição de como seu cadáver foi encontrado, "encostado a uma prateleira", com um "cadarço encarnado" (isto é, vermelho) amarrado em volta do pescoço. Terá sido o remorso de ter comprometido Gonzaga que o moveu a isso? Isso, claro, é matéria de especulação, mas essa é uma das hipóteses aventadas por historiadores e biógrafos.

Isso quanto à sua história. A sua poesia é que não me cativou tanto quanto eu esperava. Essa coleção reúne todos os 86 sonetos que Cláudio escreveu em português, mais uma porção de outros poemas líricos, de éclogas e odes, e um excerto do poema épico Vila Rica.

O que eu mais gostei na poesia de Cláudio foram os seus sonetos. Quero indicar aqui alguns aspectos que me cativaram.

O primeiro deles é a presença (ainda tímida, é verdade) da natureza local. Cláudio retrata repetidas vezes nos seus sonetos as paisagens montanhosas de Minas Gerais: os "rochedos" ou as "penhas" da serra mineira são uma figura constante aqui. Por exemplo, nesses belos versos do soneto 84, a meu ver entre os melhores do livro:

"Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci! Oh quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!"

Cláudio também invoca algumas vezes o rio da sua cidade (o Ribeirão do Carmo), que era rico em ouro, como nesses versos:

"Turvo banhando as pálidas areias
Nas porções do riquíssimo tesouro
O vasto campo da ambição recreias.
Que de seus raios o planeta louro
Enriquecendo o influxo em tuas veias
Quanto em chamas fecunda, brota em ouro" (do soneto 2)

O segundo aspecto que me cativou foram as recorrentes elaborações que Cláudio dá a um tema atemporal da poesia: a "mágoa do perdido", na memorável expressão do poeta (ela aparece nos sonetos 52 e 57). Acho que poucos dos nossos poetas tiveram tamanha predileção por esse tema quanto Cláudio Manuel da Costa. A dor da felicidade passada, que no presente não passa de lembrança, aparece em muitos dos seus versos:

"Tirano foi comigo o fado ingrato;
Que crendo, em te roubar, pouca vitória,
Me deixou para sempre o teu retrato:
Eu me alegrara da passada glória,
Se quando me faltou teu doce trato,
Me faltara também dele a memória!" (do soneto 30)

"Que feliz fora o mundo, se perdida
A lembrança de amor, de amor a glória,
Igualmente dos gostos a memória
Ficasse para sempre consumida!" (do soneto 34)

"Que alívio em te lembrar minha alma alcança,
se do mesmo tormento de não ver-te
Se forma o desafogo da lembrança?" (do soneto 57)

E o meu exemplo preferido desse tema nos sonetos de Cláudio:

"Que molesta lembrança, que cansada
Fadiga é esta! Vejo-me oprimido
Medindo pela mágoa do perdido
A grandeza da glória já passada.
Foi grande a dita sim; porém lembrada,
Inda a pena é maior de a haver perdido" (do soneto 52)

O tema da "mágoa do perdido", ou ainda da "grande dor das cousas que passaram" (de um verso de Camões), é uma rica fonte de alta poesia. Cláudio Manuel da Costa tem belíssimos versos sobre isso, como também os terá depois um outro mineiro, Carlos Drummond de Andrade.
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Paulo 09/06/2020

Preciosismo
Sempre me questiono de onde vem tanta genialidade de poetas, acredito que muito tem a ver com sua época, não só suas paixões e leituras e estudos pessoais, e as épocas tem seus próprios linguajares e leis gramaticais mais ou menos rigorosas; assim, duvido que hoje existiriam outros Castro Alves ou outros Cláudio Manoel da Costa, se sua escrita tão formal e pomposa está de fato ligada diretamente ao exigido na época.
Cláudio Manoel escreve com uma perfeição e um preciosismo insuportáveis. Leitura maçante e difícil. Admiro sua inteligência, mas não a aprecio.
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