Flávia Menezes 02/06/2022
O QUE SERIA DO VERDE, SE TODO MUNDO GOSTASSE DE VERMELHO
?? CONTÉM SPOILERS ??
?Verity?, publicado em 2018, é mais um dos livros mais lidos e resenhados aqui no Skoob, escritoras pela famosa Colleen Hoover.
Com uma capa muito bonita e chamativa, e um enredo bastante intrigante, esse foi um dos livros escolhidos pelo meu grupo de leitura, e pelos comentários dos leitores do Skoob, essa parecia ser uma leitura bastante promissora.
Colleen Hoover, que é carinhosamente chamada pelos seus leitores de CoHo, é uma das autoras mais lidas aqui nessa plataforma, e seus livros estão sempre no topo dos best-sellers pelo aclamado New York Times. E pela história de como tudo começou, com um livro que ela publicou no Kindle unicamente para que a sua avó lesse, e que viralizou a ponto de receber uma proposta de uma das maiores editoras americana, parece que tudo o que ela toca, vira best-seller!
Neste livro, o que me chamou a atenção, é que as cenas iniciais se mostraram uma verdadeira receitinha de bolo: um macho alfa conhece uma mulher amargurada e que está vivendo o luto em uma situação inusitada, onde começam a dividir segredos pessoais, e pronto... instantaneamente estão perdidamente apaixonados um pelo outro. Não sei se nos outros livros dela também acontece dessa forma, mas fui premiada com dois em que o começo é praticamente o mesmo.
Aliás, essa coisa de paixão instantânea que não traz nada a não ser sexo, é uma receita que funciona bastante para quem gosta do gênero hot, mas para quem esperava o suspense que o livro prometia, foi bastante decepcionante.
Especialmente porque nessa história, esse homem é casado com uma mulher que se encontra em estado vegetativo, e que faz uma proposta irrecusável para uma escritora sem sucesso, para terminar os livros da esposa, que ao contrário dela, teve muito sucesso na vida.
Em sã consciência, quem desperdiçaria uma oportunidade como essa para ficar 24 horas por dia pensando só em sexo? Sem contar que durante todo o livro, escrever é tudo o que ela não faz. Ao contrário, ela bisbilhota a vida pessoal da mulher que veio para salvar a sua vida da falência, e ainda se coloca na vida dos seus familiares como se ela fosse a esposa, a mãe. Um comportamento tão inadequado, que só mostra uma mulher desequilibrada e um tanto obcecada pela vida de outra pessoa. E se essa personalidade fosse o intuito e fosse explorada, aí sim teria sido interessante. Mas não. Foi posto de uma forma como se ela fosse só uma boa moça apaixonada.
Aliás, desequilíbrio é a palavra exata para esse livro. O personagem masculino, o macho alfa bonitão pelo qual tanto sua esposa foi obcecada, quanto essa escritora contratada, não passa de um homem imaturo, que se joga em seus relacionamentos de forma superficial. Tudo para ele também se resume em sexo, e a impressão que eu tive, é de que ele é um homem que sofre de alexitimia, que é a dificuldade de compreender e expressar emoções. Porque para mim, ele não me convenceu nenhum pouco de ser um homem capaz de se apaixonar e se envolver emocionalmente com uma mulher.
Se Verity é uma personagem desequilibrada e obsessiva, Jeremy e Lowen também podem ser enquadrados na mesma categoria. E eu tenho que confessar que fiquei muito decepcionada, porque apesar de todas as atrocidades da Verity, ela era uma personagem de grande potencial
De fato, o início do livro me lembrou aquelas tramas dos filmes de suspense psicológico dos anos 1990, tais como ?A mão que balança o berço?, ou ?Nunca fale com estranhos?. Eram enredos que falavam de paixão proibida, traição, obsessão, mas tudo tão bem trabalhado, tão bem construído, que você se envolvia. Bem diferente desse livro!
Uma das maiores falhas que eu vejo, está na construção dos personagens. Não existe carisma, e suas emoções são muito banais. Tudo muito imaturo, com diálogos muito bobos, e sem nenhuma profundidade. Eles não passam a imagem de amor, de paixão, mas de uma forte atração sexual e ponto!
Eu acho péssimo quando alguém diz ?esperava algo diferente?, mas eu tenho que confessar, queria mais da Verity! Queria que essa obsessão dela pelo marido criasse cenas apavorantes, que seu amor doentio a fizesse até matar. Mas tudo o que eu vi foi uma Anastacia Steel, que fez atrocidades com duas filhas, porque queria o marido só para ela, porque precisa fazer sexo 24 horas por dia.
E sabe o que isso significa? Não que ela seja uma ninfomaníaca, mas que ela seja emocionalmente imatura. Porque essa fixação em sexo, demonstra uma pessoa que não consegue se envolver com alguém emocionalmente.
É! A alexitimia parece ser algo presente em todos os personagens dessa história!
Sobre o final, a contradição que foi colocada, tenho que reconhecer, foi sim eficaz, porque não há como afirmar se é real ou não. Só que para mim, foi um balde ainda maior de água fria. Porque, vamos combinar, que mulher escreveria uma carta toda apaixonada, emotiva, para um marido que tentou matá-la? Sem contar que, quem faria isso enquanto ele estava na cama com outra? Ai gente!! Pára vai? E pior que o lado mau dela é ainda mais bobo!!! Que mulher descreveria uma tentativa de aborto de suas filhas gêmeas com um cabide, ou ?reescreveria? suas mortes reais, como algo provocado, só para aprender a desenvolver a visão de um antagonista? Surtou, né? Camisa de força nela!
E se isso parece ruim, vamos falar sobre a Lowen. Uma mulher frustrada, malsucedida profissionalmente, incompetente, invejosa, e que também tem tantos problemas para se envolver emocionalmente, que tudo acaba em cama. E ela fica tão obcecada para viver a vida da outra, que não se sente nem culpada por se envolver com o marido dela. Está certo que ela leu coisas terríveis sobre a Verity, mas daí ela querer que a outra não existisse e ainda tomar seu lugar, é loucura!
Todo esse excesso de descrições sobre o que a protagonista está pensando, as constantes e degradantes cenas de sexo, e esse final tão ambíguo, que mais parece que a autora só queria uma desculpa para ?humanizar? a personagem da Verity, para mim, foi um verdadeiro tiro no pé, porque só deixou a história desinteressante, e sem qualquer nexo.
Eu terminei a leitura bastante frustrada, porque a história tinha muito potencial, mas sua execução, com todo o respeito, deixou a desejar. Bom... pelo menos para mim. Até porque cada um tem um gosto, uma forma diferente de se conectar com uma história, um tipo de personagem que lhe encanta. Afinal, como diz o ditado: ?O que seria do verde, se todo mundo gostasse do vermelho??