xzsatur.no 15/08/2024
?Eu manipulo a verdade quando considero adequado.? ? Lowen.
?O que você vai ler às vezes terá um gosto tão ruim que terá vontade de cuspir. Mas vai engolir essas palavras a ponto de elas fazerem parte de você, das suas vísceras, a ponto de elas te machucarem.?
?Verity?, de Colleen Hoover, é frequentemente promovido como um thriller psicológico revolucionário e chocante, especialmente entre jovens leitores que estão começando a explorar a literatura. No entanto, a realidade do livro é bem diferente dessa imagem. Lançado em 7 de dezembro de 2018, o romance se revela um exemplo de escrita apelativa e exagerada, mais preocupada em chocar do que em oferecer uma narrativa realmente envolvente. Apesar da ampla promoção e da fama que conquistou, ?Verity? não corresponde às expectativas criadas e falha em justificar seu status elevado no cenário literário. É evidente que há um atraso cultural no mundo literário, entre as pessoas que leram e recomendam este livro, que apresenta enredos ilógicos e cheios de falhas narrativas, além de passagens que provocam vergonha alheia.
A história do livro ?Verity? gira em torno de Lowen Ashleigh, uma escritora em uma fase difícil da vida, tanto pessoal quanto profissionalmente. Com problemas financeiros e um relacionamento amoroso instável, Lowen vive à beira do colapso. Sua vida muda drasticamente quando Jeremy Crawford, marido da renomada autora Verity Crawford, lhe faz uma proposta inesperada. Verity, que alcançou sucesso com sua série de livros, sofreu um grave acidente de carro que a deixou incapaz de continuar escrevendo. Jeremy acredita que Lowen é a pessoa ideal para finalizar os livros inacabados de sua esposa e lhe oferece uma grande quantia em dinheiro, prometendo resolver todos os seus problemas financeiros.
Lowen aceita a oferta e se muda para a mansão dos Crawford, um lugar isolado e opressor que parece carregar o peso dos segredos e traumas dos seus habitantes. Durante sua estadia, ela descobre um manuscrito autobiográfico não publicado de Verity, que revela um lado perturbador e sombrio da autora. O manuscrito inclui confissões chocantes, como a alegação de Verity de ter assassinado seus próprios filhos. Esta descoberta coloca Lowen em uma posição moralmente delicada, dividida entre a lealdade a Jeremy e a tentação de manter esses segredos enterrados.
Conforme Lowen mergulha no manuscrito, sua percepção da realidade começa a se distorcer. O conteúdo perturbador a consome, gerando uma crescente sensação de desconforto e dúvida sobre a veracidade das palavras de Verity. A relação com Jeremy, que inicialmente parecia ser a solução para seus problemas, se torna cada vez mais complicada e tóxica, à medida que as tensões aumentam. Com o avanço da trama, Lowen passa a suspeitar que Verity pode não estar tão incapacitada quanto aparenta, mergulhando em uma espiral de paranoia e medo enquanto tenta desvendar a verdade por trás da fachada de Verity e garantir sua própria segurança.
No entanto, a construção dos personagens é profundamente decepcionante. Nenhum deles possui carisma ou personalidade minimamente desenvolvida. Os diálogos são banais, superficiais, sem emoção ou profundidade. Se Verity é retratada como desequilibrada e obsessiva, Lowen e Jeremy não ficam atrás, sendo igualmente problemáticos e mal delineados. É difícil acreditar que tantas pessoas veem Jeremy como uma vítima, quando ele é claramente manipulador e obsessivo. Desde o momento em que ele confessa que foi ele, e não Verity, quem desejava que Lowen continuasse a série, fica evidente que ele planejou e arquitetou tudo. Lowen, por sua vez, também se revela completamente instável. O livro é tão mal escrito e pouco desenvolvido que, em alguns momentos, a falta de coerência nos diálogos e descrições cria uma narrativa confusa, cheia de furos que qualquer revisão básica teria corrigido.
A obsessão de Lowen por Jeremy e Verity é perturbadora, mas mal explorada. Em vez de utilizar essa obsessão para criar um arco narrativo interessante, a autora a apresenta como se Lowen fosse apenas uma ?boa moça apaixonada?. Essa caracterização rasa faz com que Lowen, uma mulher frustrada, malsucedida profissionalmente e emocionalmente instável, pareça apenas uma invasora na vida dos Crawford, sem qualquer senso de moralidade ou culpa. Em pouco tempo, ela se torna tão obcecada com a vida de Verity que parece querer tomar o lugar da autora.
A paixão instantânea e sem sentido entre Jeremy e Lowen é completamente irrealista e mal desenvolvida. A relação deles se resume a cenas de sexo mal escritas e desnecessárias, que parecem estar lá apenas para preencher os ?buracos? na trama. Isso também se aplica ao manuscrito de Verity, onde a relação entre ela e Jeremy se resume a um ciclo vicioso de obsessão sexual, sem qualquer profundidade ou desenvolvimento de personagem. É também inexplicável que alguém supostamente descrita como uma psicopata escreveria todas as atrocidades que cometeu em um manuscrito, deixando essas confissões ao alcance de qualquer um que pudesse encontrá-las. Não faz sentido algum dentro do contexto da narrativa.
Para ilustrar ainda mais o exagero das cenas de sexo no livro, veja este exemplo claro: ?Transamos. Comemos pizza. Transamos. Assistimos à TV. Transamos.? Não é preciso dizer mais nada, certo? Além disso, o ?plot twist? final do livro, que deveria servir como um clímax para a história, é igualmente mal escrito e elaborado. Quando finalmente se revela a verdade sobre Verity e Jeremy, o desfecho se mostra completamente sem nexo. Se analisarmos com um pouco mais de cuidado, fica claro que essa reviravolta não faz sentido algum, parecendo forçada e desconexa com o resto da trama. Em vez de surpreender o leitor, o ?plot twist? acaba por frustrar ainda mais, evidenciando as falhas na construção da narrativa e dos personagens.
E para mim, essa discussão entre os leitores sobre o que é mais verdadeiro ? a carta ou o manuscrito ? nem deveria existir, pois nenhum dos dois faz sentido. Colleen Hoover claramente escreveu este livro às pressas, como se nem ela própria tivesse pensado direito nos detalhes. Isso fica ainda mais evidente com o capítulo extra que ela escreveu, que só reforça a loucura de Jeremy e Lowen, além da obsessão que Lowen desenvolveu por Verity. Esse capítulo adicional, para mim, deixa claro que Colleen queria que a carta fosse o verdadeiro ?plot twist?, mas assim como o resto do livro, ele foi mal escrito e mal desenvolvido.
Esses excessos tornam a leitura extremamente frustrante e irritante. Colleen Hoover parece ter tentado chocar os leitores com elementos apelativos, mas o resultado é um fracasso completo. Embora muitos elogiem a fluidez da escrita de Hoover, para mim, o texto é superficial e mal trabalhado, mais parecido com uma fanfic ruim do que com um thriller psicológico bem elaborado. E inicialmente, eu não dei uma nota tão baixa ao livro, mas à medida que o tempo passava e eu refletia mais sobre a história, meu desgosto por ?Verity? só aumentava. O livro falha em quase todos os aspectos, desde a construção dos personagens até a coerência narrativa, resultando em uma experiência de leitura que eu não recomendo a ninguém. Livro desastroso, abominável.
Essa minha primeira experiência com o livro ?Verity? me fez decidir não ler mais nenhum livro de Colleen Hoover. Sinceramente, não tenho a mínima vontade de explorar mais obras dela, especialmente depois de ouvir críticas semelhantes aos pontos que encontrei em ?Verity? em suas outras obras.
?Aprendi muito cedo que seres humanos não são compostos de uma coisa só. Somos duas partes que compõem o todo. Temos a consciência, que inclui a mente e a alma, as partes intangíveis. E temos o ser físico: a máquina que sustenta a consciência e nos faz sobreviver. Se estragar essa máquina, você morre. Se negligenciar essa máquina, você morre. Se achar que sua consciência pode sobreviver sem a máquina, você morre logo depois de descobrir que estava errado.?