Lauraa Machado 24/02/2021
Uma surpresa maravilhosa, complexa e emocionante!
Esse livro foi uma das maiores surpresas da minha vida! Antes de ler, me recomendaram falando que era uma fantasia urbana no estilo de Caçadores das Sombras, que tinha a ver com o Rei Arthur e que era bom. Só isso. Ninguém me disse que eu encontraria um choque de dois mundos mágicos, uma protagonista passando por um luto intenso e se descobrindo enquanto desvenda esses dois mundos e um romance que me deu até frio na barriga! Ninguém me preparou para o quão complexo e cheio de camadas o enredo seria!
Eu já costumo parar e anotar os acontecimentos dos livros que leio, mas confesso que são poucos os que me obrigam a fazer isso para acompanhar todos os detalhes. Este foi assim, mas por uma boa razão. A autora não força explicações sobre o universo e as regras da Ordem do nada, nem faz a protagonista descobrir mais do que é de seu interesse. Tem algumas cenas em que informações foram cortadas e mistérios prolongados, sim, mas nenhum foi sem motivo. Bree está passando por um luto que veio acompanhado de um transtorno que a impede de superar a morte de sua mãe. Fez total sentido ela não ter cabeça para qualquer coisa a qualquer momento.
Acho que ela foi descobrindo tudo devagar como devia ser e o final, ainda que fosse algo que eu já esperava, foi bem interessante! É possível que pessoas que conheçam a história do Rei Arthur se surpreendam e percebam detalhes que eu não percebi, mas conheço muito pouco! Achei que o enredo teve um ritmo ótimo, em nenhum momento cheguei a ficar entediada e só queria ler mais e mais!
Também gostei muito do romance! Acho que a Bree e seu interesse romântico têm muita química e eu gostei demais de vários momentos entre eles! Mas, a partir de um pouco mais da metade para a frente, eles simplesmente viram um casal (do nada). O desenvolvimento da relação entre eles é colocado de lado e esquecido, chegando a fazer com que eu me desapegasse um pouco de tudo que tinha sido cultivado antes. Sei por fato o que aconteceu e como eles se sentem, mas a própria sensação de uma relação que ainda precisa crescer foi esquecida.
Nem sei se estou fazendo muito sentido, mas vamos a algumas outras pequenas críticas? Antes de mais nada, a mais besta: a Bree desmaia demais! Demais mesmo! Acho que ela desmaiou umas oito vezes nesse livro, senão mais. Se alguma coisa impactante acontecia, logo estava ela desmaiando, mesmo que fosse para acordar dali a segundos e voltar à ação. Não tenho a menor ideia do que levou a autora a fazer ela passar por isso tantas vezes, a ponto de quebrar um pouco a imagem de forte e resistente que ela tinha por causa de outros momentos.
Outra coisa que me incomodou foi a Bree entrar para uma competição que exigia muito dela fisicamente quando ela não tinha qualquer preparo ou experiência anterior, nunca treinava direito e, quando treinava, era muito pouco. Seria bem fácil incluir sessões de treinamento clandestinas entre ela e Nick ou qualquer outra pessoa. Não só para aprender sobre a Ordem, mas para preencher essa lacuna entre uma garota comum que nunca teve motivo para aprender a lutar com espada a uma que se dê bem o suficiente para ser a protagonista deste livro. Me fiz acreditar que ela teve um desempenho possível porque eu queria, não porque veio naturalmente.
Outra coisa que me incomodou foi que, depois de um certo ponto, Nick se torna um fantoche completo que só aparece se for para ficar com raiva à toa. Ficou tão caricato, que achei que a autora estava encaminhando apressadamente para um triângulo amoroso, mas não foi bem assim. Aliás, ainda bem que ela resolveu não fazer um triângulo. Ainda tem a tensão entre a Bree e outro personagem, mas teria sido rápido e forçado demais se tivesse se tornado algo romântico. Por enquanto, só poderia ter melhorado a personalidade do Nick e a mantido mais coerente com o que ele apresentou no começo.
Uma coisa que eu tinha esquecido de falar, mas que acho extremamente essencial: o Selwyn é agressivo e até violento demais com a Bree desde o começo e é completamente gratuito. Mesmo que ele suspeite dela, não acho que esse nível de hostilidade é justificado. Por sorte, a autora fez questão de mostrar outro lado dele, mas ainda acho que vou guardar um ranço dele para sempre por causa da sua atitude no começo.
Chega de críticas, porque todas elas são pequenas e em nenhum momento estragaram o livro. Eu adorei os personagens secundários, a terapeuta, a colega de quarto, o pai de Bree e todos os outros personagens que se aproximaram dela durante a iniciação da Ordem, como ê Greer, o Whitty, a Sarah e o William. Gostei muito do Nick também, e no final acabei gostando mais do Selwyn. Mas minha parte favorita foi a história dela com a mãe, do universo do lado de lá e de ver o protagonismo de uma garota negra no meio de uma Ordem fantástica criada por colonizadores com membros que se acham os incríveis maravilhosos e poderosos sem os quais o mundo pereceria, como se fossem os únicos a receberem poderes e salvarem o mundo. Amei também a conexão entre o passado e o presente, ainda que dolorosa.
Estou louca para ver o que vem no próximo livro! Esse foi só o primeiro! Essa montanha-russa de emoções, de acontecimentos, reviravoltas e descobertas foi só o primeiro! Acho que tem conteúdo e pontencial para se tornar uma série longa. A única limitação é por ser escrito na primeira pessoa, então só dá para irmos até onde a Bree for. Mas estou bem ansiosa mesmo para descobrir como vai ser a partir de agora, porque o final foi de tirar o fôlego (como várias outras cenas pelo livro) e a última reviravolta vai abalar tudo a partir do segundo livro!
Recomendo completamente. Eu estava lendo em ebook e ainda fiz questão de comprar em livro físico porque precisava ter Legendborn na minha estante! Estou bem feliz pela Intrínseca ter decidido publicar e fiquei só com um pouco de dó do tradutor, porque esse livro não é fácil de traduzir, nem um pouco. Mas é muito rico, interessante e divertido para não ser publicado aqui! Estou só esperando lançar para fazer ainda mais propaganda e recomendação!