LuanGabs 16/09/2023
O titulo me deu uma leve assustada. Não sou fã de poesia, na verdade eu não gosto mesmo, e à primeira vista achei que o livro seria algo apenas sobre isso. E eu nunca tive tão enganado.
Primeiro de tudo: o livro não homenageia somente a poesia chilena, mas a literatura, as pessoas que escrevem e que nunca são publicadas, as que escrevem e atingem o panteão da fama, mas sobretudo quem tem a vida transformada pelas palavras, seja fazendo a arte, ou consumindo-a.
A narrativa divida em 4 atos (perfeitamente) nomeados se demora onde precisa se demorar e avança no tempo quando necessário. A linearidade padrão do início é quebrada na terceira parte ao apresentar novas personagens e esse dinamicismo percorre todo o livro.
Queria poder dizer que em nenhum momento me senti cansado, o encerramento é tão na medida certa, tão pontual, tão cativante, que quase me faz esquecer no quanto me senti entediado com a parte 3, mais especificamente no desenrolar entre Pru e sua pesquisa e Vicente.
Entretanto esclareço: adoro os personagens, o enredo talvez tornou-se cansativo ao descrever entrevistas e mais entrevistas e numerar diversas vezes pra provar um único argumento. (Pra quem pegou todas as referências da literatura chilena deve ter sido um deslumbre).
Mas o que me encheu o olhar, o que me fez avançar as paginas com rapidez e vontade foi o desenvolvimento de Gonzaga, Carla e Vicente. As relações fluidas entre os três e como a dinâmica muda no decorrer do tempo e das páginas é sensacional. Usando apenas 3 personagens o autor desenha temas: desabrochamento sexual, puberdade, vigilância dos pais, decisões de futuro, relacionamento amoroso (inicios, recaidas, recomeços e términos), ?e ses..?, maternidade, e paternidade. (Poderia enumerar muitos outros ainda?)
Esse último é simplesmente tocante. Aborda as definições do que é ser pai, do que não é ser pai. Qual deles era mais pai que o outro?
Todo o decorrer da relação entre gonzaga e vicente é emocionante! A forma como tudo começa, termina e recomeça.. Consegue dizer tanto em tão pouco. O quanto um influenciou na vida do outro com sua presença? O quanto essa influência permaneceu mesmo na ausência? E agora? Recuperar o tempo perdido, nao conseguir jamais voltar atrás?
Esse livro foi poesia ao falar de poesias sem ser poesia. Incrível!