Alan.Nina 05/07/2022
A escola da ponte e suas limitações
Sem dúvida alguma é um livro inspirador para professores, educadores, amantes do conhecimento, a todos que, de alguma forma, acreditam na educação. Rubem Alves é genial, sua escrita, seu dislumbre com uma escola não convencional (de currículo flexível, sem salas de aula separada em turmas hierárquicas, com uma gestão participativa e democrática etc) é de fato tocante, e pode ser sentido em suas palavras poéticas e líricas.
Contudo, é preciso dizer que o livro não é apenas de Rubem Alves, há outros que contribuem para a obra. Particularmente, achei que o capítulo no qual ocorrem perguntas a situações práticas da escola (avaliações, questões disciplinares, o histórico de transformação daquele lugar) foi tudo dado com respostas vagas. Além disso, não sabemos nada do perfil social dos alunos ou das famílias dos alunos que frequentam a escola, ou do bairro, o perfil econômico, ou simplesmente ver uma opinião de quem já passou por ela, hoje adulto. Tivemos a opinião de uma mãe (educadora) e de uma menina de nove anos, cujas respostas são apenas elogios, quase mecânicos. Os demais adultos, todos de alguma forma ligados ao projeto.
Como se dá a preparação dos professores? Ou sua seleção? Como se dá medição do conhecimento? Quais exatamente os projetos que os alunos desenvolviam? qual o impacto desse modelo educacional na vida adulta de quem aprendeu por lá? Nada. Nada. Não houve sequer uma citação do tipo "os alunos aqui estavam desenvolvendo um projeto de x". Tudo vago. Parecia que estava navegando na superfície, e veja, não digo que a escola não seja supreendente, ela, por si, tem um mar de exemplos maravilhosos a serem explorados, mas é como se, pra mim, fosse mal aproveitado (ao menos nesse livro).
Olha, que me desculpem os sonhadores, mas eu sou muito cético quanto a paraísos terrenos. Obviamente, não há porque desmerecer a escola, sem dúvidas é um local fantástico!! Mas achei o livro parcial demais para um julgamento mais sólido, fiquei com a sensação de ler uma propaganda de uma instituição de ensino. Precisava de algo mais material, mais concreto. Talvez eu esteja apenas reproduzindo o modelo tradicional de pensar a educação. Mas se é pra fazer tocar realidades outras, que comece pelo básico: pela sinceridade prática de sua aplicabilidade e por pontos de vista que vão além da mera exposição midiática de pessoas ligadas ao projeto.