alaurabreu 10/06/2024
É bem diferente de tudo que já li!
Lolita é um livro pesado em vários sentidos. Primeiramente, pela linguagem. É dito um clássico pela sua linguagem e também pela sua descrição e narrativa sobre os contornos das estradas e cidades norte-americanas... a verdade é que isso torna a leitura maçante e pesada, pois na tradução meio que se perde um pouco a "riqueza linguística" que o tornou um classico da língua inglesa, além das descrições das viagens se tornarem bastante cansativas e, talvez, meio repetitivas na segunda parte do livro.
Apesar disso, Vladimir Nabokov rebate as criticas sobre o livro ser desnecessariamente extenso com sua ideia de arte e tal perspectiva me fez ver "Lolita" como um livro realmente diferente dos demais: não é uma história para te ensinar alguma coisa, não precisa significar o que o leitor espera que significa... É simplesmente arte.
Mas, a arte, principalmente aquela arte trágica que encontramos no livro em questão, não tem compromisso com a moral, mas pega essas ferramentas humanas e transforma em algo que nos faz rir e ter pena do ser humano, da forma mais comicamente trágica, como só a arte pode fazer. Ainda que, por ventura, não seja considerado um exemplar da escola realista, representou para mim o que só livros realistas foram ate então.
O enredo em si é também pesado... Contudo, como é o próprio abusador que narra a historia, seu lirismo em todo momento tenta mascarar ou enfeitar seus crimes. Dessa forma, ao ler, não há um espanto tão grande, mas quando paramos para pensar no que realmente aconteceu, trazendo para aquele universo nossas próprias ideias e sentimentos, é que o estômago embrulha e tendemos a ficar bastante atordoados.
Como uma boa tragédia, ninguém tem um bom fim. Mas, também como uma boa comédia, a reflexão sobre como as peculiaridades da narrativa em primeira pessoa podem ocultar muita coisa, torna intrigante, cômico e, mais uma vez, trágico imaginar Humbert Humbert sem ser com seu próprio ponto de vista. Um homem que se diz bonito, elegante e inteligente... se mostra desequilibrado e mal caráter, mas pode ainda ser visto como mediocre em tudo aquilo que ele promete ser muito bom. Assim como Lolita, que ele descreve como um raio de sol tão distinto, pode ser apenas uma garota comum, até mesmo sem graça, ainda que com um final extremamente trágico...
Acredito que o livro tem muitas camadas. Vale a pena lê-lo e até mesmo relê-lo... e eu espero um dia poder fazer isso e descamar essa história de maneira mais profunda. Confesso que, nessa primeira leitura, foi um livro desafiante que demorei muito para finalizar e, por vezes, não compreendia o que queria dizer. Então, acho que não sou capaz ainda de compreender tudo que se desprende do desinteresse e do compromisso exclusivo com a arte e a língua que Nabokov clama nas páginas dos livros, o que torna a releitura de Lolita obrigatória em breve.