Lolita

Lolita Vladimir Nabokov




Resenhas - Lolita


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seribeli 30/07/2024

Meu trauma literário
Lolita, um clássico escrito por Vladimir Nabokov, é uma leitura perturbadora e ao mesmo tempo impossível de parar por sua escrita impecável.

Com um conteúdo polêmico e controverso, o livro possui um protagonista e narrador não confiável: um professor de literatura de meia/ idade com o pseudônimo Humbert Humbert contará como se apaixonou por Dolores Haze, uma criança de 12 anos, que recebeu o apelido ?Lolita?. O leitor, sabendo da falta de confiança necessária no narrador, compreende que na realidade o protagonista não passa de um pedófilo obcecado por uma criança.

Durante o livro, o próprio Humbert se intitula e reconhece ser um pedófilo, tendo consciência de todos os atos e pensamentos criminosos com as vítimas ao decorrer de sua vida. Enquanto lia o livro, via toda aquela romantização falsa e delirante do homem, me perguntando a todo momento ?como essa situação foi na visão de Dolores??. Eu me questionava a todo momento o ponto de vista da pobre criança, vítima de um homem doente e sem escrúpulos.

No começo de sua obsessão a romantização de Humbert conseguia tornar a narrativa natural, onde se você não soubesse que o mesmo não era confiável, poderia de fato acreditar no que era contado. Mas conforme a história evoluía ao passo que os meses dentro da narrativa só iam passando, era possível perceber algumas ?falhas? nessa mesma romantização, era possível perceber que era tudo falso, porque o comportamento da própria Dolores dizia o contrário do que lhe era narrado.

Meus sentimentos durante toda história era de agonia, pena e indignação. Não conseguia me conformar com as palavras escritas por aquele monstro. Não conseguia aceitar o que acontecia com aquele criança, e principalmente o final dela. Apesar de se ver livro de seu abusador no final da história, Dolores acaba tendo uma vida pobre e precoce, estando casada e grávida aos 17 anos, e após um mês da morte de Humbert (que estava preso por assassinar o homem que ajudou Dolores a fugir) ela vem a falecer por complicações do parto.

Lolita é um livro extremamente perturbador e bem escrito, onde só um gênio poderia escrever tão precisamente bem como a mente de um pedófilo funciona ? ou outro pedófilo.
Iris.Kawane 30/07/2024minha estante
Sua resenha ficou maravilhosa! Eu só gostaria de não ter lido sobre o final kkkk pretendo ler


seribeli 30/07/2024minha estante
mdssss, perdão, esqueci de colocar a aviso de spoiler ?


Krist_Hyna 30/07/2024minha estante
MDS KKKKK


Iris.Kawane 30/07/2024minha estante
Kkkkkkk faz partee




Bíh948 02/02/2024

Um dos piores livros que eu já li
Eu não sei nem por onde começar essa resenha, porque eu poderia facilmente escrever umas vinte páginas sobre o que foi minha experiência com esse livro.

Primeiramente, é fato, e acredito que ninguém discorda disso, que se trata de um livro sobre pedofilia. Até porque isso é dito diversas vezes durante o próprio livro. O próprio Humbert Humbert diz sim que é pedófilo e convenhamos que não precisa ser nenhum gênio pra ver que o interesse sexual de um adulto por volta dos seus quarenta anos por uma menina de 12 anos não poderia ter outro nome.

Porém, vejo muita gente avaliando esse livro positivamente como se fosse uma "cartilha anti-pedofilia", o que não é! O próprio autor fala isso no fim do livro! Ele diz que não têm um propósito em mente quando escreve um livro e que "Não escrevo nem leio obras de ficção com fins didáticos, e, a despeito da afirmação de John Ray, Lolita não traz nenhuma moral a reboque." Ou seja, ele afirmou que escreveu um livro sobre pedofilia sem nenhuma intenção moral!!!

Outro argumento que vi bastante foi de que a escrita do Nabokov é primorosa e blá blá blá, o que também vou ter que discordar. Achei a escrita dele muito ruim. Além de ser podre 90% do tempo, os outros 10% a história é apenas entediante e repetitiva. Muito descritiva, cheia de rodeios, cheia de passagens que não tem cadência lógica. Os personagens são todos chatos, inclusive a própria Lolita - o que não muda nada o fato de você sentir total empatia por ela e pela forma como o Humbert Humbert destrói a vida dela e arranca a infância e os sonhos dessa menina) - mas sim, ela não é uma personagem que você consegue se apegar, assim como nenhum outro.

E o que dizer de Humbert Humbert? Um dos piores protagonistas e mais nojentos. Eu já livros narrados por protagonistas completamente problemáticos, como o Alex de Laranja Mecânica, mas nem dele eu senti tanto ódio. Até porque qual é a evolução que o Humbert Humbert tem? Na minha opinião pouquíssima. Apenas muito no final ele tem um resquício de reconhecimento pelas cagadas que fez, mas fica por isso mesmo. Sei que pedofilia, muito mais do que uma questão criminal, é um transtorno, mas isso não significa que nós devamos passar pano para as atrocidades que ele comete.

Cada vez que eu achava que não poderia ficar pior o livro ia lá e ficava. Foi uma das leituras mais difíceis que eu já fiz. Apesar dos pesares, me proporcionou uma certa reflexão sobre como a pedofilia pode acabar com a vida de alguém. Mas o meu ponto, é que eu não senti que foi pra isso que o autor escreveu o livro. Então, me questiono com qual propósito alguém escreve uma coisa assim se não com o propósito de gerar uma conscientização sobre o tema? Até porque, esse clássico (que até agora estou tentando entender como se transformou em um) foi o responsável não por diminuir, ou por colocar em pauta, mas por disseminar a "temática Lolita", muito utilizada no k-pop por exemplo, da "ninfeta", de mulheres adultas se vestindo e utilizando traços e objetos infantilizados, mas agindo de forma provocadora e sexual.

Enfim, após ver tantas avaliações positivas estou até me questionando se eu sou louca e interpretei tudo errado, mas sinto que não... Poderia falar muito mais, mas acho que já descarreguei uma boa parte da minha raiva e asco por esse que se não é O, é pelo menos UM dos piores livros que eu já li.
nathalya. 02/02/2024minha estante
caraca que resenha nossa, também não imagino pra que um livro desse tipo se não é para criticar a temática, não tem validade né? entendi sua opinião!


Moliv 03/02/2024minha estante
Tentei ler esse livro duas vezes e não tive estômago para continuar, acredito que se tivesse lido também pensaria assim. Parabéns por ter conseguido terminar, amei a resenha ??


Bíh948 03/02/2024minha estante
???? Juro, até agora tentando entender porque o povo paga pau pra esse livro. Tô dando uma de Felipe Neto e pensando "vão ler uma coisa que preste gente!"


Favodemel00 11/02/2024minha estante
Releia a sua descrição de perfil ?




Etiene ~ @antologiapessoal 19/05/2020

Lolita se tornou personagem de domínio público. Não há quem não tenha ouvido falar dessa história ou lido o trecho inicial da polêmica obra. Lo. Li. Ta. É certo que o escritor exerceu uma espécie de feitiço sobre mim, e sua estilística é a responsável por meu cativeiro. Ao escolher um narrador-personagem que escreve suas memórias, o autor nos obriga a conhecer cada ponto podre da mente doentia de Humbert e, admito, chega perto do bizarro como Nabokov consegue fazer vibrar essa voz de modo tão verosímil.

Dolores é uma menina de 12 anos que está refém de uma relação abusiva com o padrasto. Então, diferente de tudo que eu imaginava da obra, encontro um livro que não é eroticamente obsceno. Nabokov escancara a mente sórdida de Humbert através de uma escrita manchada por lirismos que me deixou num paradoxo entre gostar da leitura, porém achar que não deveria. Entendem? Como é possível odiar um personagem, reprovar sua conduta, sentir asco por ele, e ainda assim não conseguir parar de ler sua história? É o cativeiro do Nabokov de que falei acima.

O autor entrega um romance psicológico que nos insere num longo suspense pra revelar o que acontece na vida de Lolita, pois, desde as primeiras páginas, sabemos que o pedófilo está preso. Ele chega a comparar o corpo de uma mulher madura a um 'caixão onde a feminilidade das ninfetas é enterrada viva'. É perturbador, não há dúvidas. Apesar de tudo, não acho que aja romantização da pedofilia na obra, pois a trama facilmente nos causa repulsa, e o próprio protagonista repetidamente reconhece sua sujeira.

Decerto há uma marca pulsante deixada pela obra: a maneira com que Humbert tentou me manipular durante a narrativa. Ele me tratou como júri, se dirigiu diretamente a mim, enquanto leitora, na esperança de que eu o entendesse, quem sabe até o absolvesse. Mas para isto, sr. H., não há absolvição.
Michelle 19/05/2020minha estante
Que resenha! Me lembrei na hora q vi nos stories do Instagram blogliterature-se (da Mell Ferraz) referência desse livro e comentário bem breve, como o seu. O quanto é perturbador a romantização dessa obra com um contexto tão pesado e sério.


Michelle 19/05/2020minha estante
Está lá ainda, ela falou hoje, 19 de maio de 2020.


Etiene ~ @antologiapessoal 19/05/2020minha estante
é verdade, eu vi também. parece que ela leu um que trazia a perspectiva da vítima... temática perturbadora, certamente!


Michelle 19/05/2020minha estante
Isso. O livro q ela está lendo é Minha Sombria Vanessa. Não o conheço.




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Joviana 13/05/2022minha estante
Comigo foi igual ):


Cah_Censi 13/05/2022minha estante
aff. Detestei. Li na força do ódio ahhaa.


Joviana 13/05/2022minha estante
Hahahaha sim. Fiquei pensando que realmente não alcancei o povo que ama esse livro. Porque olha... o.o


Cah_Censi 13/05/2022minha estante
eu até entendo que existem razões nobres para ele ter chego a top classico e tals. O autor mitou, com certeza mas claramente tem gente que descreve esse livro como um romance romântico e/ou erotico e dá super like nisso. Tipo não. Eu não consigo chegar nesse público, E se disser que ama esse livro eu já questiono a moral da pessoa . Achei muito nojento.




Lydiane3 31/07/2023

Um tema pesado e repugnante! mas realmente a escrita é o que faz a diferença nesse livro!
o personagem se acha a ultima bolacha do pacote (sendo isso um alívio cômico) e ele conversa com o leitor o tempo todo como se ele existisse. deixa o livro menos pesado.
acredito que o Joey da série You foi inspirado no Humbert! tanto física quanto mentalmente!
e tem quebra de quarta parede várias vezes, como o protagonista conversando com o tipografo do livro (adoro essa quebra em historias)
mas o livro não é explícito, erótico ou tem palavras de baixo calão! achei que seria pior! me senti incomodada em poucos momentos para um livro de 300 pgs. recomendo? não! ?
culpa da minha amiga Renata! ?
Renata 01/08/2023minha estante
Culpa minha?? Kkk ??


Renata 01/08/2023minha estante
Aee terminou ???? agora bora começar a sequência de livros bons ?


Lydiane3 01/08/2023minha estante
????


Lydiane3 01/08/2023minha estante
brincadeira miga!




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Letícia 22/06/2019minha estante
Tive exatamente a mesma impressão no final, só não favoritei por esse motivo.


Duzin 27/06/2019minha estante
Sobre o cara ou sobre a viagem? Se for sobre o cara foi algo meio confuso pra mim, eu fiquei tentando lembrar se ele tinha aparecido ou até ter o nome citado em alguma parte antes do ocorrido, mas aparentemente não. Mas se parar pra pensar que o livro é narrado pela visão do Humbert, faz até sentido, pq ele se dá conta do que tá acontecendo só quando de fato acontece.


Letícia 28/06/2019minha estante
Em relação as duas coisas. Mas fiquei bem confusa quando entrou aquele personagem e o desfecho foge da característica do Humbert trabalhada desde o início.


Duzin 26/07/2019minha estante
Ah sim, eu também fiquei bem confuso com a aparição dele.

Sobre o final, eu particularmente gostei dele, ele tinha perdido a Dolores e admitido todo o mal que fez a ela. Ele decidiu deixa-la para viver sua vida e só tinha apenas um objetivo que era matar a pessoa que "tirou" ela dele. Quando ele faz isso acredito que ele não tinha mais nenhuma motivação para continuar vivo e apenas se deixou levar, pra mim ficou claro que ele não se importava mais com nada, então essa quebra da característica dele foi pra mostrar o quão destruído ele estava.




Carolina.Gomes 27/06/2021

Lo-Li-Ta
?Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes.
Lo-Li- Ta?

Com esse intróito belíssimo, o leitor desavisado pode acreditar que essa é uma história de amor?mas, não!

Não, caro leitor.

Essa é a narrativa da trajetória ignominiosa de um pedófilo. Um narrador que se vale de um pseudônimo deliberadamente escolhido para camuflar sua identidade e preservar sua imagem.

É um livro polêmico e perturbador mas penso que para literatura não pode haver tabu e para um escritor genial, toda liberdade é permitida.

Esse é um dos romances mais importantes da literatura mundial e foi uma experiência literária e tanto ! Todo leitor apreciador de literatura clássica de boa qualidade deve se aventurar, sem pudor, sem tabu, com espírito crítico e o distanciamento necessário para contemplar o texto em sua magnitude.

?Uma obra de ficção só existe na medida em que me proporciona o que chamarei sem rodeios de prazer estético.? (Vladimir Nabokov)
Fabricio268 28/06/2021minha estante
Caroline, depois da sua resenha, sinto-me na obrigação de ler esse livro.


Fabricio268 28/06/2021minha estante
Carolina, depois da sua resenha, sinto-me na obrigação de ler esse livro


Carolina.Gomes 28/06/2021minha estante
Leia, Fabrício! Tome fôlego e leia. Leia atentamente o prólogo do autor. Genialidade pura!


Thamiris.Treigher 30/06/2021minha estante
Amei sua resenha. Quero muito ler!




Jaque.Barreto 13/12/2020

"Lolita é um livro cruel sobre a crueldade."
Durante a leitura eu tentei conjecturar tantas possibilidades, tentei ver nuances de um final diferente, de uma história diferente e por fim me vi frustrada, me vi vazia...

Lolita não fala sobre uma história de amor entre Humbert e Dolores... Na verdade Lolita é um livro que conta uma história, sem lição de moral, sem final feliz, é o aquilo e ponto, sem mais!!

Eu queria tanto esse mais, desejei tanto isso, torci por mudança e no final terminei oca, sem sentimentos, sem sentido algum!

Meu Deus, como um livro é capaz de nos deixar assim, sem rumo, sem chão!

Estou aqui olhando para o teto do meu quarto e pensando em tudo que foi contado nesse livro... E não sei mais o que dizer, não sei o que sentir!
Carine 13/12/2020minha estante
Uma profundeza no raso... Difícil e indigesto esse livro


Jamile.Almeida 13/12/2020minha estante
A escuridão do fim do túnel!


Moon ð 14/12/2020minha estante
o pior são os filmes desse livro romantizando a história


Jaque.Barreto 14/12/2020minha estante
Meu preconceito com a obra era esse, que essa relação doentia fosse romantizada, e no livro, não é!
Mas no filme, extremo mau gosto a produção!




gabriela cardoso 06/03/2022

lolita
eu jurava que ia odiar esse livro mas a escrita impecável me fez amá-lo. o autor deixa claro que hh é um personagem completamente obcecado e doente, um pedófilo que abusa de dolores várias e várias vezes. quem romantizar essa história e/ou interpretar de outra forma não será nada além de mais um ignorante entre os leitores de lolita. é uma história repulsiva, tive que parar a leitura várias vezes pra dar uma respirada. esse não é um livro pra ser divertido ou agradável de ler, é pesado e horroroso. leia com a mente atenta a esses fatos e sua leitura talvez seja boa, mas nunca será confortável.
Julia 06/03/2022minha estante
ah sim eu entendo...eu tô dando pausas tbm


Lore 06/03/2022minha estante
Não consigo entender o pessoal que vê lolita como um romance. Será que leram mesmo?


Julia 06/03/2022minha estante
Então...




Renata CCS 27/09/2016

Dolores, Dolly, Lo, Lola, Lolita.
.
“Pela manhã ela era Lo, não mais que Lo, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita.” (p.11)

Por muito tempo fiquei apenas na vontade de ler LOLITA. A sinopse não é das mais agradáveis, leitores se dividem em opiniões controversas, e a obra não tem qualquer finalidade moralista latente. Sim, é um livro que traz uma proposta polêmica: a relação de um homem de meia idade, Humbert, com uma menina de 12 anos, Lolita.

O livro é narrado em primeira pessoa por Humbert. Envolvente e muito irônico em diversas situações, ele tem plena consciência da pedofilia que comete, chegando a admitir, em diversos momentos, que foi ele o culpado por arruinar a vida da enteada. Assim como Nabokov, Humbert é um europeu residente nos EUA, e retrata o modo de vida norte-americano com muita ironia, fazendo troça das pessoas, zombando de comportamentos e situações. Isso sem mencionar as vezes que ele caçoa dele próprio. Faz uso de uma narrativa bem-humorada, e isso, sem dúvida, somou vários pontos a favor da obra.

A relação entre os dois protagonistas nada moralistas é o ponto fortíssimo do livro, que muito aguça - ou distancia - o interesse dos leitores pela obra. O romance de Nabokov ganha atenção por sua ousadia de falar de um assunto que é um tremendo tabu, e exatamente por isso, evitado pelas pessoas. Mas o livro não é apenas uma história de paixão obsessiva e ruína: é também um painel dos EUA revisitado, é uma brilhante utilização da linguagem e suas nuances, e é uma mostra perfeita de como a linguagem pode ser elevada à categoria de arte.

Você deve estar se perguntando o porquê de três estrelas depois de tantos adjetivos. Difícil explicar tantos sentimentos contraditórios a respeito do livro. Antes de mais nada, gostaria de registrar que detesto Humbert. Também não gosto de Lolita. Não gosto de Charlotte e tampouco de Quilty. Resumidamente, não gosto de ninguém daquela história. Mas gosto de Nabokov. De todo modo – e falando francamente – gostar ou não dos personagens simplesmente não tem relação alguma com a qualidade do livro, mas, talvez, tenha a ver com o que colocaria aqui como a minha relação pessoal com a qualidade da leitura: aquela ligação rápida e geralmente prazerosa com a obra, entendendo, ao menos, algumas das motivações do protagonista. No caso de LOLITA, isso não foi possível. Resquícios (ou culpa?) das minhas leituras da juventude? Talvez...

Um outro ponto que me desagradou foi seu ritmo. Nabokov arrasta demais a narrativa, parecendo não querer se deparar com o final da história. Achei muito cansativo os trechos das longas viagens, e nem mesmo a prosa poética do autor ajudou em determinados momentos que, para mim, seguiram um tanto arrastados.

A meu ver, o grande problema é que o romance é narrado apenas por Humbert: ele está no comando da história, selecionando o que será revelado, quando e como será contado. Humbert é um ser desprezível que atravessa o livro todo explorando uma criança. Ele é arrogante e doente, e passa parte da história tentando justificar suas ações. É irônico o contraste entre o Humbert narrador e o Humbert personagem. Enquanto o primeiro se enxerga como uma pessoa inteligente, sensata e irresistível para as mulheres, o segundo não passa de um velhaco asqueroso e covarde. Ele é ridículo, e Lolita sabe perfeitamente disso.

E nós, os leitores, ficamos resignados ao papel de voyeur, completamente à mercê de Humbert, assim como a própria Lolita. Humbert faz questão de romancear seu relato com ímpetos de lirismo calculado para seduzir o leitor. E mesmo em se tratando de um crime horrendo, ele consegue colocar a sua paixão num patamar acima do que o crime que ela representou. A todo momento ele quer romantizar o que faz, culpando a vítima por seus atos. É o discurso do pedófilo. Não é o sexo que corrompe Lolita: é Humbert colocando-a como um objeto de seu desejo que a arruína e desumaniza. A meu ver, fora do olhar doentio de Humbert, não há ninfeta alguma. A ninfeta Lolita só existe através do obcecado Humbert.

A questão é que, o que chamo de incômodo no romance é justamente o que também representa a genialidade do autor. É que ele nos coloca, com sua narrativa convincente e tendenciosa, o amor acima de tudo, fazendo com que algo tão abominável aparente ser, ao mesmo tempo, um discurso convincente de homem apaixonado. É neste momento que uma angustiante desordem de sentimentos parece desafiar o leitor e o romance mostra-se dos mais desconcertantes, mas não menos cativante. É genial! E Nabokov muito faz uso desse recurso: a obsessão do protagonista é, simultaneamente, sua destruição e seu álibi – se é que pode existir um. Mas é essa a grande energia da narrativa, pois consegue nos lançar em uma profusão de sentimentos contraditórios e embaraçosos, e ao mesmo tempo, envolventes e instigantes. Sim, são páginas muito difíceis de digerir, mas há uma recompensa intelectual para quem conseguir ultrapassar a barreira do desconforto.

LOLITA é um livro maravilhosamente bem escrito. Ele trata de um tema terrível: a pedofilia, mas limitar-se a este argumento para repudiar o livro é absurdo. Também é absurdo alguém ver o livro como uma história de amor, principalmente por causa do final, quando Humbert se arrepende. Arrependimento que não tem nada de convincente, pois ele passa mais de 400 páginas narrando o abuso de uma menina, buscando nos convencer como isso é perfeitamente natural, então não é um parágrafo do suposto arrependimento no remate do livro que o torna uma história de amor.

Sim, é possível gostar do livro sem gostar dos personagens. E mais ainda: sem endossar a pedofilia. Não me apaixonei pela leitura, mas também não me arrependo de tê-lo lido. Portanto, recomendo que você leia LOLITA. Leia para entender o que eu estou tentando explicar e o que todas as pessoas que leram vivem tentando explicar. LOLITA é um romance fora da lei, condenável e, mesmo assim, sedutor.

Vale a cada um ter a sua própria perspectiva.
Hester1 27/09/2016minha estante
Este livro está desde sempre em minha listinha, e desde sempre vou protelando.


Natalie Lagedo 18/10/2016minha estante
Gostei MUITO da sua resenha. Em breve tirarei minhas conclusões sobre Lolita.


Isabelle.Lima 02/02/2017minha estante
Resenha muito bem escrita. Apenas um adendo: Não é mesmo pra gostar de Lolita, até pq ela aparece sob a ótica de Humbert apenas, jamais saberemos como ela é realmente, já que sua personaliodade foi descrita por um louco que tende a parcialidade.




Henrique_ 10/05/2016

Um relato sobre a crueldade
Tomo emprestada a constatação de Martin Amis, no posfácio, a respeito sobre o que de fato o livro trata: a crueldade, em que temos um narrador já subjugado, que subjugou uma criança de doze anos, contando sua versão de maneira extremamente apaixonada e prolixa, e que leva o leitor a cogitar a ideia de que é, talvez essa menina não seja flor que se cheire.
O livro não está preocupado em descrever momentos íntimos entre o narrador e a criança. Há uma preocupação em substituir a obscenidade pelo "prazer estético". E é aí que o leitor desavisado se frustra, como o próprio autor prevê.
A prolixidade do narrador está inserida numa estratégia para fazer com que suas ações sejam justificáveis. Ao mesmo tempo confere ao romance a estética que Nabokov procura valorizar em detrimento do banal.
Diante disso, é um livro instigante, por vezes surpreendente, e com um humor sutil que requer do leitor um olhar apurado a respeito dos pontos mais corriqueiros. Vale a pena ser lido.
edu basílio 10/05/2016minha estante
vou inverter a pergunta que eu faria usualmente: porque a "perda" de uma das 5 estrelas? ^_^


Henrique_ 11/05/2016minha estante
É verdade, eu deveria ter esclarecido...acontece que a estratégia do narrador não foi feliz. A forma como ele nos tenta convencer de que não só ele era insano, mas Lolita também, valendo-se da descrição de temas, a priori, pueris, deixa o texto muito cansativo de se ler. Inclusive essa reação do leitor foi prevista pelo próprio Nabokov ao esclarecer que ele procurava ressaltar a estética do romance ao invés de simplesmente fazer um romance mercadológico que focasse no erótico.


edu basílio 11/05/2016minha estante
obrigado por esse esclarecimento super preciso e elegante! :-D




Bruna Suelen 05/12/2020

Lo. Li. Ta
“Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta: a ponta da língua toca em três pontos consecutivos do palato para encostar, ao três, nos dentes. Lo. Li. Ta”.

P.S: Sem sombra de dúvidas essa não é uma história de amor.

Através de uma escrita poética e envolvente, ao mesmo tempo muito desconfortante, o autor nos conta uma história de tragédias e abusos. Nela o europeu Humbert Humbert de 37 anos recém-chegado a América fica obcecado por Dolores Haze, uma garota de 12 ANOS que ele conhece quando fica hospedado em sua casa e de sua mãe Charlotte. Humbert tem um longo histórico de envolvimento com meninas mais novas que ele chama de ninfetas: “Entre os nove e os catorze anos de idade, ocorrem donzelas que, a certos viajantes enfeitiçados, duas ou muitas vezes mais velhos do que elas, revelam sua verdadeira natureza que não é humana, mas nínfica (isto é, demoníaca)”.

Ele acaba se casando com Charlotte para – nas palavras dele – ter acesso livre à sua filha (Lo, Lola, Lolita). Quando um acidente acaba colocando Dolores nas suas mãos e aos seus cuidados. Assim, eles partem em uma longa viagem que durará uns dois anos, onde um Humbert controlador manipulava Lola através de subornos e ameaças. Sozinha e sem parentes ela não tem a quem recorrer.

Ele claramente cria em sua mente doentia um ser apelidado de Lolita, hipersexualizada, ela é um demônio sedutor no corpo de uma criança, e ele a vítima que é fisgado. Dessa história só temos o ponto de vista de Humbert Humbert, que vemos não é nada confiável, em muitos momentos ele age de maneira paranoica, principalmente quando há a presença masculina por perto de Lola.

Foi uma leitura densa e demorada. Como os acontecimentos não são explícitos e sim floreados, eu tive que reler algumas partes que eu não captei completamente e mesmo assim muita coisa passou batida. Depois que eu assisti ao filme de 1962 eu fiquei com muita vontade de ler o livro, só anos mais tarde descobri que Hollywood deu uma romantizada. Lendo percebi que eu tinha uma visão distorcida da história, o narrador é um monstro criminoso e o que ele fez com a Dolores foi muito cruel.
Lara 07/12/2020minha estante
Este livro é, sem dúvidas, muito perturbador. Não sei como tem gente que ainda tem empatia pelo cara. Bizarro


Bruna Suelen 10/12/2020minha estante
Também fiquei chocada com pessoas que por um momento ficaram com pena dele. Não senti isso em nenhum momento.


M£R¥ 10/08/2021minha estante
Claramente a Dolores e uma vítima como tantas outras garotas que não conhecemos sua história.




resenhasdajulia 10/08/2021

Incômodo, porém maravilhoso.
É muito difícil falar sobre esse livro, porque ele é complexo, incômodo e, com certeza não é uma leitura para todo mundo. Mas o mais importante a ser dito aqui, é: essa não é uma história de amor. O que Humbert Humbert sente por Dolores nunca foi, não é, e nunca será amor. Só tem um nome para isso: pedofilia. E, ao contrário do que ele transmite ao leitor, Dolores nunca teve culpa de nada, ela foi uma vítima nas mãos dele.

O livro conta a história de Humbert Humbert, um professor, de quase 40 anos, que se hospeda na casa de Charlotte Haze, e "se apaixona" por Dolores, sua filha, de 12 anos, a quem ele passa a chamar de "Lolita." Ele fica tão obcecado com a garota, que se casa com Charlotte, só para "ter livre acesso à sua filha."

A história toda é narrada por Humbert Humbert. Quando um livro é narrado em primeira pessoa, temos que ficar com um pé atrás, porque talvez, o que estamos lendo, não seja toda a verdade
Principalmente, tratando-se de alguém como ele, que não é confiável nem como narrador, e nem em qualquer outro aspecto.

Não conhecemos a verdadeira Dolores Haze nesse livro, somente a Lolita, que é uma criação da mente doentia de Humbert Humbert. Então, o livro todo nos mostra o ponto de vista de um pedófilo.

Achei a escrita de Nabokov incrível. Apesar de rebuscada e com poucos diálogos, não achei uma leitura cansativa.

Com certeza, um dos melhores livros que já li!
Thamiris.Treigher 11/08/2021minha estante
Concordo com todo que você escreveu!


Thamiris.Treigher 11/08/2021minha estante
Tudo*


resenhasdajulia 11/08/2021minha estante
??




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