debora-leao 12/03/2024
Triste por ter acabado esta leitura
Não posso dizer que foi uma surpresa. Eu decidi começar a ler este livro como logo um dos primeiros de 2024, em 16 de janeiro, por causa de um comentário da Paloma Lima, que dizia que recomendava este livro para quem queria começar a ler mais clássicos pois, apesar do tamanho, era acessível e mantinha todo mundo sempre muito interessado... Ela descreve o livro como um "grande novelão".
Cada ponto disso é verdade. Eu achei que fosse levar uns 4 meses lendo, visto que nas 800 páginas de Anna Kariênina levei isso, mas levei 1 mês e três semanas, li mais de 10 livros intercalados e pausei duas semanas entre o tomo 1 e o tomo 2. Se não tivesse intercalado com tantos livros e nem dado pausa, levaria menos de um mês. Não é mérito meu, mas da história, que é fluida, tem ritmo rápido e pontos consistentes e constantes de escalada - mas sem deixar ninguém sobrecarregado.
Se a Paloma diz que o livro é um novelão, eu fico feliz que seja uma novela com espaço para a vingança, mas também para o perdão e o amor. Curiosamente, eu, tão cristofóbica, rsrsrsrs, me vi afeita à abordagem religiosa do romance, que fala de justiça e pecado, de perdão e piedade, caridade, de aparências e de (auto)contemplação.
Achei muito bem tecidos os finais dos personagens. Se analisarmos bem, Monte Cristo nunca dá o golpe final em nenhum deles. Ele dá vários outros, "intermediários", que ajudam, claro, a constituir o caminho final, seja por sua ação ou abstinência, mas ulteriormente, o destino é trilhado pela pessoa que é afetada (Fernand Mondego que o diga!). Isso me parece profundamente filosófico.
Me incomodei com uma característica recorrente do autor nessa narrativa: no meio do livro (de fato, no início e no fim isso não ocorre), ele meio que esconde do leitor também as identidades e os respectivos backgrounds em jogo. Como sou meio lerdinha, demorei muito a sacar algumas identidades assumidas pelo Conde. Fiquei realmente pensando que eram outras pessoas. E depois, quando a dúvida surgiu, ainda achei que fosse coisa da minha cabeça. Mas além disso, muito tempo se passa sem que sejam novamente mencionados ou lembrados os infortúnios do Dantès, as injustiças cometidas pelos arquitetos da maldade, as motivações para tudo... Esse último ponto acontece notadamente quando começam as maquinações, que, devo concordar, parecem "dar voltas", mas que, no fim, são todas muito bem costuradas, fazem muito sentido com o livro todo.
As críticas presentes no livro foram ótimas. Me fizeram rir muitas vezes. Quando do nada o Dumas mete que "afinal a frança trata muito melhor os estrangeiros que os próprios franceses" (ou algo assim, puxei de cabeça) e volta pra cena, achei muito engraçado, parecia só um comentário despretensioso, sarcástico, leve e pairando por ali. É uma crítica, mas não me parece amargurada. Me parece vir no faiscar dos olhos, num meio-sorriso irônico, numa mesura risonha... Gosto muito disso.
O equilíbrio do autor em descrever uma cena com alguns detalhes mas também abrir espaço para imaginarmos muita coisa (a decisão do que ele dirá e do que imaginaremos) é sempre muito bom em todo o livro. Torna-o leve mas coeso, firme. O constante resgate de cenas anteriores foi ótimo, também. A história é longa e repleta de personagens (me lembrou literatura russa) mas é difícil esquecê-los (diferentemente dos russos)!
A tradução foi um pouco empolada no início, acho que os autores poderiam ter simplificado mais a linguagem (sua densidade não me parecia servir a um propósito, ali), mas ela se torna mais fluida (ou eu me acostumei a ela) a partir do meio do livro. As notas são interessantes, mas dispensáveis para uma primeira leitura mais fluida. Acho que serão muito úteis em uma releitura, pois traçam inúmeras conexões com o ambiente francês da época.
Já a edição dessa linha Clássicos Zahar dá simplesmente um show. Primorosa mesmo. Paguei quase 200 reais sem um pingo de arrependimento (não sou rica rsrsrs, é o meu maior investimento já feito em um livro). A edição em dois volumes é linda, termino a leitura de um tijolo desses como se fossem novos. Não é mérito meu, mas da editora. São lindos, e, devo dizer, é a primeiríssima vez que as ilustrações de um livro de ficção, majoritariamente textual, são muito enriquecedoras pra história. Pretendo sempre optar pelas versões dessa editora daqui pra frente.