Carina Fontes 16/01/2024
“Acontece uma coisa estranha com esses hóspedes do enorme hotel. Nenhum deles sai pela porta giratória do mesmo modo que entrou.”
Personagens de diferentes origens e classes sociais nos apresentam seus dramas, esperanças, sonhos e medos. Cada um se hospeda no Grande Hotel com um objetivo próprio, e suas histórias acabam se entrelaçando dentro das paredes do hotel. Todos os personagens apresentam falhas e virtudes, são complexos e humanos, muito bem escritos, e a trama é contada de uma maneira espetacular. São solidões que se encontram, provocando mudanças em cada um, da maneira que só o encontro com o outro (e, consequentemente, a descoberta de si mesmo) é capaz de fazer. Além disso, o livro também apresenta o contexto histórico da época (fim dos anos 20, há quase 100 anos atrás), pós primeira guerra mundial, com um clima de desesperança e vazio. Embora, em determinados momentos, alguns núcleos da história sejam menos interessantes ou mais maçantes que outros, as reflexões provocadas, o modo de escrita e o final fazem com que a leitura valha muito a pena.
“Os destinos vividos num grande hotel não são destinos completos, inteiros, totais. São apenas trechos, farrapos, partes de um destino. Por detrás das portas habitam indivíduos indiferentes ou esquisitos, homens em ascensão e homens decadentes; venturas e catástrofes moram parede contra parede. A porta giratória vai girando, e o que se passa entre a chegada e a saída não é um todo. Talvez não exista mesmo no mundo um destino completo, mas apenas partes dele, inícios sem sequência, pontos finais sem nada a precedê-los. Muita coisa que parece um acaso é uma lei. E o que acontece por trás das portas da vida não é qualquer coisa de fixo e imóvel como as colunas de uma construção, algo delineado como a partitura de uma sinfonia, calculado como o percurso de um astro - porém humano, mais fugidio e difícil de apreender do que as sombras das nuvens que deslizam na campina. E aquele que compreendesse a tarefa de narrar o que viu por trás das portas, correria o perigo de ficar oscilando entre a mentira e a verdade, como sobre uma corda bamba.”