Helder 13/04/2019
A relevância do pensamento de Marx para a hodiernidade
Magalhães introduz seu livro nos remetendo a um fato histórico de grande relevância para a teoria marxista, a queda do muro de Berlim em 1989, a qual levou consigo toda uma tradição histórica de movimento capitalista nos países europeus onde vigorava naquela época levantando a ideia de que: Marx morreu! (p . 75). Destaca a constante perseguição que se levanta contra sua teoria, e que é perceptível uma necessidade emergente de se crer na sua morte. Ressalta que o objetivo de Marx era a emancipação do ser humano (p. 138).
Na primeira lição, Fernando Magalhães desenvolve o questionamento O pensador do século? Traz à tona a situação pontual em que Marx viveu com sua forma de capitalismo industrial vigente acentuando que ele já havia percebido uma certa mudança em suas articulações, e suas previsões sobre um novo tipo de relações sociais, antecipando até as revoluções científicas de nossa época. Enaltece a relevância de sua crítica, defendendo o fato de que as características do capital que embasavam sua crítica ainda continuam vigentes, e que este fato torna seu pensamento tão necessário quanto antes.
Na segunda lição, intitulada O primeiro marxismo, o autor traça o caminho percorrido por Marx à crítica do capitalismo. Nascido em Trier à 5 de maio de 1818, iniciado nos clássicos por influência de um vizinho aristocrata, aos 17 anos volta-se ao Direito, e em 1836, na cidade de Berlim, ligado a esquerda hegeliana, extrai sua crítica a religião. Em Paris, no ano de 1843 emerge seu comunismo filosófico em que exalta a condição do proletariado e concebe o termo alienação. Tem seu pensamento dividido em dois períodos: da juventude e da maturidade. Naquele que Fernando classifica como ‘primeiro marxismo’, Marx desenvolve filosoficamente sua concepção do comunismo e descobre o sujeito da transformação social; neste que ele classifica como a fase madura, análises político-econômicas passam a fazer parte de sua rotina.
Na terceira lição, que tem por título Marxismo: uma filosofia da práxis, O autor se propõe a sintetizar a filosofia marxista. Destaca que sua filosofia é uma transformação social possível unicamente pela práxis revolucionária. Marx usa o termo práxis para definir uma prática revolucionária que só se dá por meio da luta dos trabalhadores, que é uma leitura da realidade, uma ação que visa a mudança social que une teoria e prática. A práxis é a alma do marxismo. É a manifestação prática da filosofia.
A quarta lição tem por título as concepções do Estado e da revolução. Seu conceito de Estado se opunha ao entendimento de Hegel, que o via com o fim de interesse geral, Ele o entendia como “um organismo repressivo de interesse de classes” (p. 493), percebendo-o de duas formas: “restrita e ampliada” (p. 509). Para revolução conclui que se trata da pedra motora que converge a sociedade do capitalismo ao socialismo e que esta revolução pode ser tanto explosiva, onde se dá a grande ênfase de Marx, como processual, concepção marxista percebida por Engels posteriormente.
A quinta lição traz O partido: um conceito amplo, onde o autor mostra que a concepção de Marx se volta à ação das massas trabalhadoras a par de elementos constitutivos. Vê os trabalhadores como elementos representativos de si mesmos sem subjugar ou ser subjugado por outras classes.
A sexta lição traz por tema Ditadura e democracia: a transição para o socialismo. O autor destaca que eles não viam no pacifismo uma forma mais viável de transformação social, mas, era uma opção, assim como a violência. Entendia que não havia como dissociar o proletariado de um corpo político apoiado por um poder coercitivo, chegando à concepção de uma “ditadura do proletariado” (p. 728). Desta, sabe-se apenas que não se extinguirá enquanto houver contraposição de classes (cf. p. 763); que é desenvolvedora de projetos para seu próprio interesse e que pressupõe a existência do Estado.
Na sétima lição, Proletariado: o sujeito revolucionário, acentua a visão de Marx da classe operária como dignatário da revolução capaz de extinguir a dominação burguesa e única capaz de transformar a sociedade. Porque nela estão reunidas as todas condições sociais de vida. Esta classe é composta pelos trabalhadores assalariados, todos aqueles que são explorados pelo sistema capitalista.
Na oitava lição, Maturidade e revisão, descreve o materialismo histórico como um processo evolutivo, uma teoria que se molda às condições históricas. E essa renovação inicia pelo próprio Marx. Percebe que Marx olhou para a transição pretendida de uma forma mais democrática com o tempo e nestes processos vê uma maturidade do argumento histórico.
A nona lição questiona se há lugar para Marx no século XXI. O autor defende que nada em sua teoria, impede-a de superar seu tempo. Seus valores normativos a tornam sempre atual. Destaca que ela não tem pretensões de dogma e afirma que sua teoria critica e renova a si mesma e tem por princípio fundamental a evolução histórica, voltando-se para o desenvolvimento humano e por isso eles sempre buscaram realizar uma auto renovação histórica. Sobretudo, toda a problemática levantada por sua crítica durante sua época se encontra vigente hoje.
Por fim, na lição 10, ele trata da Ética e sujeito na teoria de Marx, argumenta sobre as possíveis causas que o encaminharam para o comunismo. Descreve que, possivelmente, tudo resultou de uma tomada de consciência da situação que o circundava, de seu interesse pelo bem-estar social, sua indignação contra as injustiças sociais, e a degradação moral do trabalhador sob o regime econômico. Apesar de não ser um moralista seu espírito se encontra no seu projeto ético, inconfundível com a ética capitalista, e dissociada da ação comportamental do homem enquanto no regime de mercado e partidário de classes.
Conclui seu livro exaltando a pessoa e o pensamento de Marx e afirmando que, independente de críticas, permanece vivo, e sua teoria sempre será o motivo de sua rejeição.
Como bem afirma Fernando Magalhães, na sua introdução, não há como um autor não se envolver na interpretação de um pensador enquanto escreve sobre ele. De fato, todo livro possui nas entrelinhas as intenções daquele que o escreve. Tudo que se pretendeu explicitar sobre foi desenvolvido com qualidade, inclusive as questões que não são sistematizadas pelo próprio Marx. Seu aparato critico se sobressai ao desenvolvimento das ideias de Marx, logo predomina um grande teor de apologético.
Marx é apresentado como um revolucionário adiante de seu tempo. Não há como discordar que os problemas a que se opõe são vigentes até hoje e que sua critica está atualizada. O que preocupa é forma revolucionária imposta em seu sistema. Será que uma revolução, nos moldes marxistas seria a solução? Como dissociar nossa vida do capitalismo? Parece-me uma proposta inalcançável. Porque foi melhor para a Europa a queda do muro de Berlim do que a sua permanência? Há um certo romantismo do autor com o pensador que não o permitiu ver os malefícios que vem juntamente com o socialismo. Os destaques acerca de como Lênin interpretou e utilizou a teoria marxista são preocupantes, nos dá insights do que pode acontecer quando sua teoria for interpretada e colocada em prática. De fato, “a eliminação da ideia é o melhor caminho” (p. 91).