Conchego das Letras 29/01/2016
Resenha Completa
Olá pessoal!
Hoje vou trazer mais um clássico a vocês, mas desta vez já alerto: ele é forte.
Germinal, do autor Émile Zola, não é um daqueles livros que você vai ler com um sorriso no rosto. Não. Ele é um livro angustiante, que te faz pensar, refletir e ver o quanto a injustiça social, ainda nos dias atuais, está presente em nossas vidas.
Entrei em contato com este livro através das aulas de Literatura Brasileira, apesar de ele ser um clássico francês. O livro é naturalista e foi considerado um dos primeiros livros do Naturalismo a ser publicado. Assim, para termos uma ideia de como era o naturalismo estrangeiro, ele entrou como leitura obrigatória e eu fui a premiada.
Posso, sim, afirmar que fui premiada, pois fui surpreendida por este livro de forma inexplicável.
No começo, quando comecei a lê-lo, acho que estava de má vontade. O livro era grosso, o tema era forte e eu não tinha muito tempo. O negócio foi meio assim: leia ou leia.
Minha professora me emprestou uma versão em português de Portugal, o que dificultou muito a minha leitura e me fez optar em ler em pdf a versão da Martin Claret. Mas, quando a leitura de fato começou, fui fisgada pelos personagens e não consegui desgrudar os olhos ou o pensamento do livro até concluí-lo.
O livro
Germinal conta a história dos mineiros que lutavam por uma vida mais digna e é de forma tão cruel que sentimos na pele o quanto a fome, o frio e a miséria humana podem desvirtuar até o mais correto dos homens.
"Em breve, só um ficou, torturante, fatigando-o com uma interrogação a que não podia responder: por que não tinha acabado com Chaval quando o subjugara com a faca? E por que aquela criança terminava de esfaquear um soldado de quem nem sequer o nome sabia? Essa coragem para matar, o direito de matar, transtornava todas as suas crenças revolucionárias. Seria um covarde?"
Acompanhamos a trajetória de Etienne Lanthier, um rapaz que, desempregado, põem-se na estrada a peregrinar, até chegar a Montsou, lugar onde a imponente mina de carvão Voreux domina a paisagem. Com fome e frio, o rapaz aborda um velho que se apresenta como Boa Morte e pergunta a ele se há emprego naquele lugar. O velho não mente, diz que a crise chegou ao local e fechou todas as indústrias. O que resta é a Voreux, mas que não sabe se ele conseguiria algo lá.
Esperançoso, Etienne segue até a mina e então temos o encontro dele com a família Maheu. Maheu é um homem robusto e pai de sete filhos, que precisa sustentar a casa e por isso coloca todos os filhos para trabalharem no veio, sob os perigos iminentes dos gases explosivos e a água que, às vezes, bate na cintura.
Por saber como é sentir fome e não ter o que comer, o homem se apieda de Etienne e coloca-o para trabalhar de operador de vagonete, no lugar de uma moça que morrera no dia anterior. Maheu tem uma filha moça, a encantadora Katherine, que a princípio Etienne pensa ser um menino por conta de seu corpo miúdo e a coiva a tampar-lhe os cabelos ruivos. Porém, quando Etienne descobre que ela é uma menina, passa a observá-la com mais atenção e desejo e mesmo que inconscientemente, passa a trabalhar com mais afinco, dia após dia, apenas para estar junto dela. Porém, Katherine é cobiçada pelo traiçoeiro Chaval, um mineiro bruto e que não aceita não como resposta.
Em meio a miséria, Etienne sente-se divido entre ir embora a procura de uma vida melhor, ou ficar e ajudar aquelas pessoas tão miseráveis. Passa a morar na pensão de um ex-mineiro, o senhor Resseneur, onde faz amizade com um russo, Souvarine, mecânico que tem ideias muito inovadoras e apresenta a ele as teorias do novo mundo. Com o incentivo de Pluchart, um velho amigo, Etienne passa a estudar sobre direitos e deveres e até mesmo as teorias de Darwin, pois ele quer se tornar um líder.
“Etienne, agora, estava entusiasmado por Darwin. Lera fragmentos seus, resumidos e vulgarizados num volume de cinco soldos, e dessa leitura mal compreendida, fazia uma idéia revolucionária da luta pela existência, os magros comendo os gordos, o povo forte devorando a fanada burguesia.” (p.351)
Quando a situação beira o insuportável, Etienne instiga o povo a se rebelar contra a companhia e a reivindicar os seus direitos, gerando caos e devastação. Será que eles, pobres mineiros, serão ouvidos?
Então, de forma brilhante, Zola nos trás o ponto de vista dos burgueses, representados pelo diretor da companhia, o senhor Hennebeau e sua família, e os Grégoire, os proprietários da Piolaine. Temos a chance de ver como eles também não são perfeitos e as críticas sociais feita por Zola são brilhantes.
Enfim, não posso contar mais da trama, que é muito, muito rica. Mas gostaria de ressaltar que o personagem principal não é Etienne, muito menos Chaterine ou Chaval, a personagem principal é a própria mina e o que ela representa.
Minha opinião pessoal
É um livro intenso, onde os personagens são muito bem construídos e que aborda todas as características do Naturalismo: o detalhismo, o determinismo, o cientificismo, a crítica a burguesia e a Igreja e também o tratamento do ser humano como meros animais, entre outros aspectos que leva o leitor a sofrer junto com os personagens e a mergulhar no enredo de corpo e alma.
Quando cheguei ao fim da leitura, sentia a pele arrepiada e tive que voltar algumas vezes no final que explica exatamente o nome do livro. Sim, há uma explicação brilhante para este nome: Germinal e vocês vão se surpreender com ela.
“Num ímpeto, pendurou-se ao rapaz, procurando sua boca, onde colou apaixonadamente a sua. As trevas desapareceram, voltou a ver o sol, readquiriu um riso calmo de enamorada. Ele, trêmulo de a sentir assim contra a sua carne, seminua sob a jaqueta e as calças, cingiu-a, num despertar de virilidade. Realizou-se enfim sua noite de núpcias no fundo daquele túmulo, sobre um leito de lama, na ânsia de não morrerem sem antes serem felizes, no obstinado desejo de viver, de gerar vida pela última vez. Amaram-se desesperados de tudo, afundando na morte." (p. 442)
Não é uma leitura fácil. Na verdade, recomendo-a para aqueles que querem algo mais denso e que te faça refletir, pois se você não gosta desta profundidade, dificilmente vai conseguir chegar até o final. Enfim, já falei demais a respeito do livro, só posso dizer que amei, amei e amei!
Quando tiver um tempo, gostaria de lê-lo novamente, com mais tempo e apreciando cada página a fim de compreender melhor estes personagens tão complexos e sofridos. Émile Zola, definitivamente, entrou para o hall dos meus queridinhos literários.
Bem, acho que é isso pessoal!
Até a próxima!
Curiosidades:
- Émile Zola (Paris, 2 de abril de 1840 — Paris, 29 de setembro de 1902) foi um consagrado escritor francês, considerado criador e representante mais expressivo da escola literária naturalista além de uma importante figura libertária da França. Foi presumivelmente assassinado por desconhecidos em 1902, quatro anos depois de ter publicado o famoso artigo J'accuse, em que acusa os responsáveis pelo processo fraudulento de que Alfred Dreyfus foi vítima.
- Há um filme de Germinal, de 1993 com atores como Gérard Depardieu e Anny Duperey. O filme ganhou os prêmios de melhor fotografia e melhor figurino no prêmio César do cinema francês. Também foi indicado as categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Miou-Miou), Melhor Ator (Gérard Depardieu), Melhor Ator Coadjuvante (Renaud), Melhor Atriz Coadjuvante (Judith Henry), Melhor Diretor (Claudie Berri), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Som, Melhor Edição e Melhor Produção de Design.
site: http://conchegodasletras.blogspot.com.br/2016/01/resenha-germinal-emile-zola.html#more