Wal - Ig Amor pela Literatura 01/02/2019Ausências.Em "Morreste-me", José Luís Peixoto falou da partida do pai e de toda saudade que nasceu daquela ausência - as lembranças morando em todos os vãos da casa, memórias andantes que nunca param de reverberar dentro alma de quem fica.
Em "A criança em ruínas", o autor aborda mais uma vez o luto, a saudade, o silêncio de tantas solidões..., mas dessa vez em forma de poesias. Esse livro, de certa maneira, trava um diálogo com o "Morreste-me", pois Peixoto traz, novamente, seu pai a caminhar entre seus versos carregados de nostalgia. Contudo, o que fala alto nesses poemas, é o desenrolar de uma vida que se mostra como as ruínas de um sonho projetado na infância. Tudo que foi deixado e nunca mais voltará: as alegrias das brincadeiras, os amores perdidos, a família que vai se separando para nunca mais se reunir na sua composição original. De verso em verso todos os sonhos vão desabando pelo caminho.
_______"quem pode esquecer as tardes, se os ramos das laranjeiras eram inesquecíveis? cada palavra possui um palmo desse quintal infinito"_______
Mas o primeiro poema do livro, que também faz parte do livro "Cemitério de pianos", traduz, de maneira inigualável, toda a força trazidas pelas memórias.
_______"na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha casou-se. depois, a minha irmã mais nova casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco, menos a minha irmã mais velha que está na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco. enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco."_______
Livro lindo, como tudo escrito por esse autor português. Recomendo muito!
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