spoiler visualizarnanda :) 08/01/2024
Três Dias e Mais Alguns: fluxo de consciência >>>
“Acho que, quando a gente gosta muito de um filme ou de um livro, a gente acaba sentindo falta dele. Ele nos completa, fica o tempo todo, acho que pra sempre, nos dizendo aquilo que a gente precisa ouvir, mesmo se tenha lacrado os ouvidos pra não escutar.
Ando meio tonto: ser eu ou ser o outro. Ser ou não ser o que o Miro quer que eu seja.
#sereumesmoéoqueimporta”
Encontrei esse livro na biblioteca da minha escola, e, como tinha uma proposta interessante, resolvi pegá-lo. Além disso, o fato dele não ter nem 150 páginas influenciou na escolha, já que não queria virar o ano com um livro da escola.
E que surpresa! Esse livro é positivamente melhor do eu esperava. Apesar de ser básico, e não entregar muito além do que promete, no que se compromete, que é uma história sobre a vivência de um garoto negro “preso” a essa “nomenclatura”, faz isso muito bem.
A forma como a história cresceu, mesmo sendo um pouco previsível, me agradou bastante. A princípio, a ideia de ser apenas três dias parece pouca, mas a forma com que o autor preencheu esse período de tempo foi melhor do que muitos livros que duram um período de anos.
Acho que um dos pontos que mais me agradou na leitura foi o estilo de escrita. O fluxo de consciência é muito bem feito; é realmente como se estivéssemos dentro da cabeça do Matias. Os pensamentos só aparecem, engatando um no outro, com linhas próprias de um adolescente. O formato funcionou muito bem com a história, e acho que era justamente o que ela precisava.
Também acho que a história precisava de um protagonista como o Matias; um garoto “comum”, sem grandes conquistas ou estereótipos ligados a ele, mas que se esforça continuamente em ser uma pessoa melhor. Apesar de não ter pegado 100% as referências, gostei do aspecto dele ser fã de Star Wars, e das analogias que ele fazia em sua cabeça. Penso que ele poderia ter sido um pouco mais desenvolvido, puxado para áreas menos comuns sobre a vivência negra, mas entendo que esse não é o ponto da história.
Tenho também essa sensação, de que queria um pouco mais de desenvolvimento, com os outros personagens da história. Achei a mãe do Matias uma personagem muito interessante, e gostaria de ter tido uma visão mais aprofundada sobre ela. Também gostei muito das relações entre os amigos do Matias, e achei engraçadinho a festa para que um deles perdesse o BV.
Entendo que o livro é curto, e não acho que estendê-lo seria uma boa opção, mas, não tem como, todo vez que eu leio essas narrativas mais curtas, eu fico com esse vazio, esse vontade de saber mais; talvez seja porque eu leio muitos romances.
A escrita foi um dos pontos que mais me impressionou na história; ela é engraçada e inteligente, nos parâmetros necessários para fazer a história funcionar. Ela deu para o Matias uma voz muito forte, que é constante durante toda a leitura, e faz com que ela seja bem rápida.
Em geral, gostei da história. Há pontos que não adorei, mas acho que isso tem muito mais a ver com a minha experiência do que com o livro em si. Questão racial é um tema que conversa muito comigo, que eu vejo e estudo bastante, e é bom ver ele sendo comentando em obras juvenis. Aliás, só para deixar bem claro, a violência nunca é a solução, mas o Matias estava certo em bater no cara!