Ludmilla Silva 26/01/2021"Being a Jedi was not about saving oneself. It was about saving others"The High Republic é uma iniciativa multimídia que incluirá uma grande diversidade de livros, HQs e revistas que contarão a história de uma nova era de ouro de Star Wars. Essa iniciativa será dividida em três fases: “Light of the Jedi”, “Quest of the Jedi” e “Trials of the Jedi”. Cada fase terá várias obras distintas, e devem durar, presumo eu, em média um ano cada, significando que High Republic vai continuar criando conteúdo pelos próximos 2/3 anos. Esta iniciativa é formada por autores bastante renomados e conceituados, que já possuem experiência prévia com a saga Star Wars. Sendo assim será possível encontrar uma grande diversidade de estilos de escritas e de mídias, que devem agradar vários públicos-alvo diferentes entre si.
Mas o que é está High Republic? Bom, é basicamente a era de ouro dos Jedi. É uma era que se passa há cerca de 200 anos antes das prequels – isto é Star Wars Episódio I: “Ameaça Fantasma” – é uma época de paz e prosperidade para a galáxia. A República está prosperando e a Ordem Jedi está em seu apogeu, com seus guardiões explorando a fronteira galáctica e mantendo a paz. A High Republic é um mundo de união onde a governança é atingida por meio do consenso e não pela coerção e medo. É uma era de ambição, inclusão e grandes trabalhos.
A High Republic está vivendo um incrível momento, pois está prestes a lançar o “Farol Starlight” (Starlight Beacon) na Borda Externa (Outer Rim) e está estação servirá como uma luz de esperança para todos na galáxia. A Borda Externa é a região perfeita para escapar da República, é cheia de predadores e de perigos imensuráveis. Assim sendo, como uma forma de mudar esta realidade e de trazer essa região para mais perto da República, garantindo mais paz e segurança para os planetas ali presentes, a Chanceler Lina Soh resolveu inaugurar esta estação, que servirá tanto como um posto avançado de Jedi, como uma embaixada da República, um posto médico avançado, um centro cultural, uma estação espacial e etc.
Porém, antes que esta grandiosa estação pudesse ser inaugurada algo terrível acontece que prejudica e abala toda a galáxia: o chamado “Grande Desastre”. O Grande Desastre faz referência a destruição de uma nave da República no Hiperespaço. Muitas naves no universo Star Wars viajam pelo hiperespaço por ser uma opção mais segura e rápida. São necessários muitos cálculos para pular para o Hiperespaço, porém assim que estes são feitos é como se você estivesse em um mundo paralelo, então outra nave aparecer no mesmo lugar que a sua no Hiperespaço, deveria ser – em tese – impossível. Porém, não é bem assim. Isso acontece, e a Legacy Run acaba sendo totalmente destroçada, contudo, como a nave foi destruída no hiperespaço isso significa que seus destroços e fragmentos podem aparecer em literalmente qualquer lugar da galáxia, destruindo diversos planetas e matando bilhões de inocentes. É só imaginar fragmentos gigantes saindo do espaço em uma grande velocidade – quase como centenas de meteoros.
E é basicamente isso que acontece na primeira parte do livro. Os fragmentos da Legacy Run acabam chegando em um sistema específico e matam bilhões de pessoas, porém logo os Jedi e a República chegam para ajudar q minimizar o problema. No entanto, eles não imaginavam que seu maior desafio não seria os fragmentos da Legacy Run e sim um grupo de saqueadores selvagens mais conhecidos como: Nihil. O livro é dividido assim em três partes diferentes: “The Great Disaster” onde basicamente há a narrativa sobre a destruição da Legacy Run e suas consequências imediatas. “The Paths” o desenvolvimento do livro, se aprofundando mais nos Nihil, nos Jedi, na República e nas consequências - um pouco mais a longo prazo - do Grande Desastre e por fim “The Storm” a grande batalha final da República x Nihil e os cliffhangers para os próximos livros.
E eu estou simplesmente encantada com esse livro e com essa nova fase, é possível perceber o quanto tempo foi dedicado em cada pequeno detalhe desta era, e o quão tudo está impecável e totalmente conectado entre si. Eu mal posso esperar para ler todos os tipos de mídia sobre a High Republic e no final pegar todas as referências, conexões e ligações entre elas. Tem tanta coisa para falar sobre essa nova fase, porém vou começar do principal: a era de ouro. Esse novo apogeu e era na saga é simplesmente lindo de se ver, é algo que eu nunca tinha visto tão bem trabalhado antes. A República está em sua melhor fase, é uma era de prosperidade e de paz, e as pessoas no poder - como a Lina Soh - realmente estão preocupados em tornar a galáxia um lugar melhor, mais justo e mais seguro. Algo que nunca tivemos antes, pois nas prequels vemos uma República polarizada, ou seja, temos aqueles que acreditam nela ou nos separatistas, ao longo da saga a República se transforma em Império, depois em Nova República novamente, depois em Primeira Ordem.
Então, ao longo da saga a República sempre foi algo instável, quebrada e ineficaz, sempre sofrendo golpes de líderes ou figuras autoritárias e trazendo o oposto de paz a galáxia. Aqui em High Republic ela é uma figura imponente, notável, que traz respeito, que une o povo e que tem o desejo de união e desenvolvimento. É algo lindo de se ver, realmente te faz acreditar nessa forma de governo e te dá esperança para um futuro melhor. A Chanceler Lina Soh é uma personagem bem construída, no meu ponto de vista ela é bastante contida e justa, ela não aceita ser contrariada e faz de tudo para garantir o bem da galáxia e de seu povo. Ela realmente acredita na galáxia, e na República e em tudo de bom que ela pode oferecer, por isso se agarra tanto ao seu lema “We are all the Republic”. Ela é um exemplo de uma boa líder, e tenho certeza que parte da República é o que é hoje por conta de Lina, então quem sabe a decadência da República no futuro não está ligada com a saída de Lina do poder?! Pois, sabemos a diferença que um bom e um péssimo líder pode fazer para um país/planeta/galáxia.
A Ordem Jedi está mais unida e desenvolvida do que nunca. Nas prequels nós temos um conselho jedi frágil, autoritário, errôneo e precipitado. É um conselho que comete vários erros – lê-se o que fizeram com Anakin Skywalker e Ashoka Tano – que tem regras demais e acaba atendendo apenas parte da população. É uma ordem grande e bem desenvolvida, mas que já mostrava seus sinais de decadência. Seus membros eram descreditados e facilmente corrompidos para o lado negro da força ou para o lado dos separatistas. Eles possuíam valores e missões e ideias muito duvidosos e difíceis de alcançar, o que causava dúvida e aflição em muitos dos seus membros. Já aqui em High Republic é exatamente o contrário. A Ordem Jedi é gigantesca, formada por centenas de Jedi, que acreditam veemente na Força e no seu propósito. Eles se veem como verdadeiros guardiões da paz e pretendem fazer tudo que estiver ao alcance deles para salvarem o máximo de vidas possíveis.
Não sei se aqui eles possuem tantas regras e proibições como nas prequels, mas os valores da Ordem parecem ser intrínsecos a cada um, sendo assim não é necessário ficar batendo na mesma tecla de “medo leva a raiva e a ódio que leva ao lado negro e etc”, pois é algo que já existe dentro deles e que eles realmente não parecem muito preocupados. A diversidade de Jedi aqui presentes é gigantesca, e eles são incríveis, desde Padawans a Cavaleiros e por fim Mestres Jedi. As próximas mídias podem ser focadas apenas em cada um que já seria ótimo. Alguns ganharam mais espaço do que outros, só que já é possível ter noção da personalidade de cada um.
Sendo assim, devo ressaltar que meus personagens favoritos foram: Bell Zettifar, Burryaga e a Avar Kriss. O Bell ganha bastante espaço na narrativa justamente por estar envolvido em um dos subplots principais, mas o fato de eu ter me identificado demais com ele também ajudou. Ele é um personagem que se esforça bastante e sempre quer dar o seu melhor, as vezes seu melhor não é o suficiente e ele tenta mesmo assim, mesmo querendo desistir. Eu gosto que ele tem um grande desafio pessoal no livro e ele só consegue superar esse desafio quando percebe que é algo maior do que ele, que envolve o próximo e compaixão para com eles. Ele é um personagem bastante interessante e empático, e eu estou sedenta por uma história solo dele. Obs: o Bell é pai de pet, então já ganhou meu coração logo no começo.
O Burryaga é um Wookie, e como uma boa cidadã eu devo amar e proteger todos os wookies da saga. O que me fez gostar bastante do Burryaga é o quão gentil, amável e empático ele é. Uma das primeiras aparições dele é impedindo que milhares de inocentes sejam mortos, e depois ele cuidando – como um irmão – de um garotinho órfão. Ele se sente bastante excluído em alguns momentos por não falar o “idioma comum” e isso não o impede de fazer o bem ao próximo. A relação dele com sua mestre é linda também, espero ver mais dele no futuro. A Avar Kriss para mim é a própria personificação de ser um Jedi, ela representa tudo de bom e justo na galáxia, ela é para mim aquela figura do direito com a balança na mão e a faixa nos olhos.
A Avar Kriss vai fazer tudo que estiver ao seu alcance para trazer o bem a galáxia e manter a Ordem Jedi, e aquelas que ela ama, seguros e intactos. Meu único ponto negativo é que sinto que conhecemos mais a Avar Kriss Jedi do que a Avar Kriss pessoa, eu sinto que ela é uma personagem bastante profunda e que tem muitas camadas para serem reveladas, então estou ansiosa para descobrir mais a respeito dela. Na minha opinião ela é a protagonista da saga, então sinto que ainda vai ter muito espaço para desenvolvê-la e contar sua história. Inclusive a Kriss tem uma das habilidades mais legais que eu já vi na saga, ela ouve a Força como música, quase como uma presença ao seu redor, e consegue a utilizar para fazer uma conexão, que fortalece ainda mais, os Jedi. É incrível, e com ela a Ordem Jedi é ainda mais forte.
O livro apresenta dezenas de Jedi, estes três foram meus favoritos, porém vale lembrar e citar outros incríveis: como Loden Greatstorm, Elzar Mann, Indeera Stookes, Nib Asseka, Stellan Gios, Jora Malli e vários outros. Inclusive, tivemos forte cliffhangers com Loden e Elzar. Cliffhangers estes que irão determinar o futuro das próximas fases, com certeza, eles terão livros solos mais voltados para as dificuldades deles e estes terão desdobramentos gigantescos que irão afetar essa nova era como um todo.
Para mim o maior acerto da narrativa – que são vários por sinal – é sem dúvidas, os vilões, os Nihil. Já tivemos vários tipos de vilões em Star Wars, desde a piratas e saqueadores, e Siths a Imperadores. Todos pareciam ter honra e compaixão a sua maneira, mas os Nihil são sanguinários, eles não se importam com nada nem ninguém, não tem regras. Fazem o que quiser e quando quiser e isso traz enorme confusão. Ao longo do livro a gente vê que há muito atritos entre estes saqueadores, muitos conflitos, ódios e ressentimentos, eles são o oposto dos Jedi não são muito unidos e mesmo assim são perigosos. O final da narrativa mostra uma nova era para os Nihil que, sem dúvidas, os tornarão ainda mais implacáveis e perigosos. Eu gostei muito de como temos a visão de Marchion Ro, os líderes dos Nihil, e dos sublideres, é interessante ver a visão de cada um. E Marchion Ro é sem dúvidas um vilão a altura para esta nova Republica e esta imponente Ordem Jedi.
Eu gosto de como o livro é narrado por várias pessoas diferentes, em vários lugares diferentes. Por ser o primeiro livro de The High Republic, penso que fez um excelente trabalho em apresentar a narrativa e os novos personagens. É como se nos desse um gostinho do que esta por vir. Eu, particularmente, acho os capítulos mais técnicos – que falam de coordenadas, naves, droides, e etc – maçantes e chatos, mas esta é uma opinião pessoal e não acho que estraga a experiência do livro. Pelo contrário, o livro tem tantas camadas, e personagens e plots incríveis e eletrizantes que a última coisa que ele vai parecer é chato.
Por ser uma iniciativa multimídia, que será contada ao longo de várias mídias nos próximos anos, ficou muita coisa aberta e muitas dúvidas e curiosidades em aberto que serão desenvolvidas nos próximos livros. Porém, a história proposta em “Light of the Jedi” recebe um final altamente satisfatório e fechado. A narrativa ali proposta foi resolvida, e resolvida com sucesso, agora os desdobramentos de tudo que aconteceu ali irá guiar as próximas obras, que irão ser incríveis.
Eu não indico o livro – ou essa iniciativa – para alguém que não é fã de star wars e não sabe nada da saga. É claro que você pode começar e irá entender super bem, mas acho que tem outra energia e sensação em ler tudo isso e já saber o que vai acontecer no futuro, em como tudo vai acabar. Pegar as referências da saga e comparar os períodos é simplesmente incrível, por isso recomendo para um fã mais veterano que vai amar isso aqui sem nem pensar duas vezes. Obrigada por tudo Charles Soule e The High Republic!
"We are all the Republic"