Rodrigo | @muitacoisaescrita 20/05/2020
Bem como diz Winnie, a presença de Patricia Hill Collins está se tornando cada vez mais constante nos cursos pelas faculdades brasileiras, principalmente em pesquisas sobre gênero e raça. No entanto, obras brasileiras que discutam os conceitos elaborados/aprofundados por Hill Collins ainda são raras, senão inexistentes até a publicação deste livro. Fruto da pesquisa de mestrado de Winnie, este livro nos fornece um debate riquíssimo e cheio de referências à outras obras de Hill Collins e várias autoras feministas negras, inclusive brasileiras. Sobre isso, aliás, Winnie "traduz" com excelência as imagens de controle para o contexto brasileiro, considerando suas especificidades.
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Alguns artigos de Patricia Hill Collins já haviam sido publicados em português antes da edição da Boitempo de "Pensamento feminista negro". Recomendo, aliás, que sejam lidos antes de iniciar este livro e até mesmo o livro de Collins, pois eles nos oferecem uma capacidade de entender o pensamento riquíssimo da socióloga, principalmente os conceitos de outsider within e interseccionalidade enquanto ferramenta para alcançar a justiça social.
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Neste livro, Winnie explica, baseado nas concepções de Patricia Hill Collins, como as imagens de controle surgiram a fim de "punir" as mulheres negras que haviam saído há pouco do sistema escravagista, para que o poder hegemônico as colocassem "em seus devidos lugares". Ou são tidas como assexuadas ou como hiperssexualizadas, nunca "normais", pois o "normal" é branco e masculino. Ou são caladas - quase mudas - ou são assertivas (e, por serem assertivas demais, ficam sozinhas); suas vozes, quando apresentam algum conteúdo que questione o status quo, não podem ser ouvidas pelo poder hegemônico... Pode o subalterno falar? (Se sim, o quê?) Em que posições (sociais, políticas e econômicas) as mulheres negras devem permanecer para que homens brancos permaneçam onde estiveram por um longo tempo? E qual o papel das imagens de controle para a normalização dessas posições?
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As imagens de controle, no entanto, também podem ser "positivas demais" - e isso é explicado de uma ótima maneira no livro. A busca por autodefinição é, portanto, um dos temas centrais dentro do pensamento feminista negro. Essa busca pode ocorrer nos nomeados espaços seguros, a fim de alcançar o empoderamento. Nesse sentido, recomendo o livro "Empoderamento", de Joice Berth, para um melhor entendimento do conceito, visto que houve uma despolitização do conceito e o que ele de fato significa.