Caminhos cruzados

Caminhos cruzados Erico Verissimo




Resenhas - Caminhos Cruzados


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Lays Alves 22/11/2016

Caminhos se cruzaram
A primeira obra que li do Érico foi: "Ana Terra", vindo de uma indicação da minha ex professora de Português. Eu adorei o livro e o jeito que o Érico escrevia era fantástico.
O segundo, foi "Caminhos Cruzados". Por coincidência, ele está na lista obrigatório de livros da UNICAMP e eu tive que ler. E é isso o que fiz, li e gostei. Acho que se não estivesse na lista da UNICAMP eu nunca na minha vida iria ouvir falar deste livro e também não iria admirar o Veríssimo, este excelente escritor.
Quando eu tiver tempo, quero ler: "Olhai os lírios do campo." =D
Irilene 17/12/2016minha estante
'Olhai os lírios do campo' é maravilhoso, Lays.




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Nélson 14/05/2015

Caminhos cruzados
É incrível a capacidade de Érico para criar personagens verossimilhantes.

Histórias se cruzam pelas ruas da capital, e o tempo segue a martelar suas badaladas. O adolescente apaixonado pela meretriz, os novos ricos e sua falta de zelo, o professor metódico e a velha agourenta. Personagens tão familiares que parecem reais.

O autor faz um retrato de uma época, que em muita coisa se parece com os dias de hoje, principalmente a hipocrisia, o mal gosto e o moralismo da burguesia.

Também são hilários os diálogos com erros de português tão vistos por aí, mesmo nas classes abastadas e teoricamente melhor instruídas.

Ps.: O autor usou o substantivo "presidenta" em uma passagem do livro; acho que isso encerra a questão para a turma da crítica gratuita.
Arsenio Meira 14/05/2015minha estante
Perfeito! Panorama claro do que o romance pode oferecer.
E o Erico encerrou a questão do substantivo a que aludiste, rsrsrs!
Valeu. Abraços!


Mari 27/05/2015minha estante
já li! :D


larissa dowdney 14/02/2016minha estante
Belas observações!




Yan 29/04/2015

Caminhos cruzados- Erico verissimo
Caminhos cruzados é uma obra com três edições, a mais recente em 2005, pela Campanhia das letras. Esse romance de Verissimo vem com a apresentação de Antonio Candido, prefácio de Moacyr Scliar e prefácio do próprio autor. Caminhos cruzados é uma história contada em cinco dias: Sábado, Domingo, Segunda-feira, Terça-feira e Quarta- feira, nesses dias conta-se a rotina dos personagens que vivem no sul, precisamente em Porto alegre, na década de trinta.
Professor Clarimundo que quer escrever seu livro, e para se sustentar dá aulas, uma de suas alunas é Chinita, uma moça que sonha com Hollywood e com Salu, Salustiano um jovem moreno, que nunca se envolvia sentimentalmente com mulheres, mas com Chinita era diferente. João Benévolo, casado e desempregado, com seu filho sempre doente; Fernanda uma mulher que sustenta sua mãe e seu irmão mais novo, e que descobre o amor com Noel, garoto rico que não vê esse abismo entre as classes.
Caminhos cruzados é certamente uma crítica àquele mundo onde ricos despedi funcionários para dar lugar a protegidos, e outras hipocrisia que permeia as relações sociais.

site: http://olivronofimdocaminho.blogspot.com/2015/04/caminhos-cruzados-erico-verissimo.html
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guibre 15/04/2013

Um "reencontro".
Depois de muito tempo, volto a ler uma obra de Erico Veríssimo. Devido a reverência que tenho pelo autor, iniciei a leitura com expectativas diferenciadas.
Caminhos Cruzados é uma obra que, a meu ver, tem estrutura narrativa diferenciada por vários motivos. Primeiro, a "descentralização" do foco narrativo, com a existência de uma multiplicidade de personagens, sem que haja preponderância de qualquer deles. Segundo, o elemento temporal é trabalhado com extrema competência por Erico, que restringe-o a poucos dias, menos de uma semana. Tal fato não torna a narrativa demasiado descritiva das condutas de personagens, em parte devido ao grande número deles. Por fim, a diferenciação se dá pelos contrastes e aproximações entre os personagens, em relações e vínculos que não são óbvios, mas que retratam, com fidelidade considerável, os indivíduos e suas relações sociais.
Evidente que alguns traços são exagerados, caricaturais. A rigor, entretanto, não é possível delinear maniqueísmos gratuitos no texto. Particularmente, impressionou-me a força das curtas passagens que retratam a agonia de Maximiliano, enquanto que as descrições - mais longas - das festas dos mais ricos são menos significativas, mesmo como imagens da futilidade das classes mais altas.
Vale destacar, também, a audácia de Veríssimo ao retratar o prazer sexual feminino e a orientação sexual de uma das personagens, Vera. Enfatize-se que tais temas são tratados de forma direta, mas elegante.
Curiosamente, muitos personagens alienam-se continuamente, por motivos e métodos variados. Essas fugas da realidade, as vezes, me pareceram irritantes. Entretanto, não se pode negar que sejam humanas, em mais uma demonstração da perspicácia de Erico ao construir seus personagens.
Como já dito, é uma obra "sem começo nem fim", ao menos da menira que se costuma entendê-los. É uma imagem de uma sociedade, revelando-lhe características e vicissitudes através da narrativa de seu cotidiano.
Sinceramente, Erico não me decepcionou. Surpreendeu-me através da estrutura narrativa, produziu uma leitura agradável e, de certa forma, memorável.
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Herick 19/07/2012

Caminhos cruzados - Erico Verissimo
Confiram a resenha com melhor visualização em meu blog: http://instintodeler.blogspot.com.br/2012/07/caminhos-cruzados-erico-verissimo.html

Caminhos cruzados é um romance escrito por Erico Verissimo, ilustre escritor brasileiro do século XX. Publicado em 1935 como forma de crítica à sociedade da época, também é conhecido por retratar o Rio Grande do Sul.

"A vida, prezado leitor, é uma sucessão de acontecimentos monótonos, repetidos e sem imprevisto. Por isso alguns homens de imaginação foram obrigados a inventar o romance.
O Homem, na Terra, nasce, vive e morre sem que lhe aconteça nenhuma dessas aventuras pitorescas de que os livros estão cheios.
Debalde os romancistas tentam nos convencer de que a vida é um romance. Quando saímos da leitura duma história de amor, ficamos surpreendidos ao nos encontrarmos na vida real diante de pessoas e coisas absolutamente diferentes das pessoas e coisas das fábulas livrescas.
Repito: a vida é monótona. (...)"
Página 299.

Na década de 1930, Porto Alegre é cidade em constante desenvolvimento: a cada dia o número de habitantes aumentava, a constante força da política reverberava com desenvoltura e a elevada chegada de pessoas cultas na cidade a tornava um ícone no Brasil.

Em meio as generalizações do contexto, contudo, nos seus subúrbios e áreas mais pobres, vivia todo tipo de gente. João Benévolo, o homem sonhador e desempregado, que no presente momento vive numa situação de miséria estarrecedora, com sua esposa lamentosa e o filho frágil, sempre adoentado. Maximiliano, o tuberculoso na véspera de morte, que vive com sua esposa e dois filhos num caso de necessidade extrema.

O professor Clarumundo, um homem simples, solitário e tímido, porém sábio e amante de Einster, cujo maior almejo é realizar a vontade de escrever seu livro sem precedentes. Fernanda, enamorada de Noel, a mulher experiente e vivida, estudiosa e aplicada, mas que por infortúnios nunca consegue o trabalho adequado para sua formação.

A família do comerciante bem-sucedido Honorato Madeira, com a esposa Virgínia, mulher áspera e odiosa mãe, e o filho Noel, homem estudado, mas cujas circunstancias da vida o obrigou a tornar-se enfurnado em si mesmo, sempre frágil, sonhador e despreparado para o mundo. Dona Dodó, religiosa fervorosa da igreja católica e esposa do almejado empresário a se tornar político, Teotônio Leitão Leiria. O ex-interiorista José Maria Pedrosa, que ganhou na loteria e esbanja dinheiro em Porto Alegre, com sua esposa Maria Luisa, resmungona e amante da vida em desgraça, e a filha, Chinita, mulher infantilmente apaixonada pelo cinema americano.

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Confesso com grande pesar que iniciei a leitura deste livro de Erico Verissimo com pouco mais do que simplesmente um pé atrás, se permitem-me dizer. A relutância com que deparo ao pensar em ler obras clássicas, ou mais especificamente os clássicos brasileiros, é verdadeiramente algo amedrontador. Sempre lembro-me das leituras monótonas, tediosas e ininteligíveis que fui obrigado a ler na escola, que é, na realidade, uma forma excessivamente falha de incentivar pessoas à literatura e que proporciona o exato oposto do que se busca ao fazê-lo: o afastamento de quase todos os indivíduos que ainda refletiam na necessidade da leitura. Creio que não sou único a ter essa ideia das leituras escolares que nos são forçadas goela abaixo.

Caminhos cruzados foi uma dessas iniciativas escolares, mas ao qual fui submetido agora que possuo uma mente um tanto mais preparada para algo desse tipo, além de já ser um firme prestigiador da literatura. Admito, porém, que me vi envolvido pelo livro desde o início. Encontrei uma narrativa muito leve e dinâmica, planando entre as superficialidades mais banais e sentimentos extremamente realistas de tensão e sofrimento. A contradizer meu primeiro juízo sobre o livro, não encontrei um arsenal de termos e expressões desconhecidas que tornam a leitura cansativa e de complexa interpretação — apenas umas poucas, aqui e ali, que costumam me fazer buscar um dicionário, mas que geralmente tem em vários livros.

A história é ambientada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e busca, por meio dos diversos personagens, abranger a incontáveis situações que a vida pode trazer-nos mediante as regras impostas pela sociedade, dividindo-a em camadas opostamente desproporcionais: a riqueza de menos e a pobreza de mais, a pouca fartura e a muita miséria. O excesso disso é desumano.

O livro, que na época de sua publicação original, apresentou a "inconformidade do romancista ante as desigualdades, injustiças e absurdos da sociedade burguesa" e tomou como base o estado de Porto Alegre, ainda hoje tem conteúdo suficiente para criticar esses mesmos absurdos, que ocorrem apenas de uma maneira minimamente renovadas, além de ser válida para todo o mundo.



Caminhos cruzados é narrado inteiramente em terceira pessoa, mas distribui-se sob a concepção de vários personagens, cada qual com sua identidade e situação peculiar, vivendo em meio a soberba dos ricos, os religiosos hipócritas, os pobres indiferentes e conformados à situação miserável em que vivem. No entanto, indicia-se algo mais: o enredo abrange um contingente de personagens com características próprias, e de um modo muito simplório, a personalidade de cada um é aprofundada, tornando-os quase palpáveis.

Diferencia-se grandemente das histórias que costumeiramente lemos, que normalmente possuem protagonistas e começo, meio e fim. Contudo, nesta obra, enquanto apresenta os personagens, cada um vivenciando uma determinada situação, Erico deixa clara sua neutralidade ao não apontar nenhum predileto ou que tenha uma importância maior que outro qualquer. Todos eles, de uma maneira independente, possuem sua própria significância, mas que estando na mesma localização, emaranham suas condições umas nas outras com a mesma displicência que encontramos diversas pessoas em nosso dia-a-dia, na rua ou no trabalho, e constroem o enredo adequado para a iniciação do drama que tem a finalidade de criticar as injustiças da sociedade.

Não obstante, Erico Verissimo utiliza-se de uma tentativa propositalmente falha de imparcialidade, onde despreza sutilmente a classe alta, os ricos, e solidaria-se com a classe baixa, os pobres. De uma forma mais pessoal, também encontrei uma espécie engenhosa de ridicularização das atitudes e dos sentimentos corriqueiros dos seres humanos, como se em alguns instantes ele narrasse com ironia esses comportamentos comuns, mas não possuo base solida para afirmá-lo.

Ao contrário das suas outras obras, que de acordo com minhas pesquisas são extremamente reflexivas, Caminhos cruzados não possui uma elevada reflexão sobre o mundo e os seres humanos, nem é recheado de reflexões subjetivas — é um livro que aponta, sem qualquer rodeio, as condições em que nós vivemos e as quais somos submetidos por causa da sociedade injusta e incontrolavelmente obsessiva por ter cada vez mais, sem importar-se com as consequências das atitudes tomadas para atingir esse fim.

Por fim, concluo apenas desconsiderando todo o preconceito que senti antes de ler a obra, pois realmente esperava encontrar um clássico desinteressante e francamente levei a cara ao chão: a leitura é excelente! Recomendo à todos, sem exceção, e de forma especial àqueles que ainda pensam da mesma forma que eu pensava.
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naty 24/01/2012

Confesso que demorei um pouco para terminar de ler, sentia muito desprezo pelo João Benevolo, pela Chinita, pela Fernanda, enfim, não conseguia gostar de ninguém do livro. Porém, após terminar a leitura, começei a compreender que essa é uma história da vida mesmo. Quantas vezes não queremos ficar na cama apenas imaginando finais felizes? Quantas vezes não desejamos ser uma estrela de cinema? Érico descreveu corretamente cada sentimento mesquinho que temos dentro do nosso coração!
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Rafael 14/12/2011

Contrastes e semelhanças da vida.
Caminhos Cruzados é uma das obras do Erico que mais me cativam. A riqueza de detalhes na descrição das personagens, situações, ambientes, próprias desse consagrado escritor, me permite enxergar nitidamente a história e gravá-la nos arquivos de minha memória.
Nesse romance, tive uma ampla visão da vida e da realidade cotidiana com personagens como Fernanda, Noel, Vera, Chinita, Salu, Prof. Clarimundo, João Benévolo, Dodó, Leitão Leiria e Armênio Albuquerque. Personalidades muito distintas, vidas diferentes e, no entanto, são caminhos que não poderiam deixar de se cruzar. Há esse constante contraste entre a riqueza e a miséria, a piedade e o orgulho, a fantasia e a realidade, o sonho e a falta de esperança, o entusiasmo e a inércia, a vida e a morte.
Personagens como Noel e João Benévolo representam a dor e a tristeza de se viver alienado em uma eterna fantasia. Noel cresceu sob os cuidados e as histórias de tia Angélica, mergulhado no mundo dos contos-de-fada, dos livros, do imaginário. Na escola, sempre foi tímido, dependente dos cuidados da amiga Fernanda, que lhe tomava a f rente e o defendia de todas as provocações. O tempo foi passando e Noel sempre com medo de encarar a vida, os homens, a realidade; e, agora, já adulto e formado na faculdade, sente as consequências do seu isolamento e da sua fraqueza.
João Benévolo, no entanto, não possui a riqueza e o conforto em que Noel vive. É um homem pobre, desempregado, com mulher e filho doente, e sem nenhuma atitude, nenhuma coragem para melhorar de vida. A sua família vive desalentada, sem dinheiro para pagar o aluguel e as contas atrasadas, para comprar o leite e o remédio do filho e colocar comida na mesa todos os dias. Não obstante todos esses problemas da vida real, João Benévolo vive ausente, na sua fantasia, lendo e imaginando-se na pele de grandes heróis e aventureiros dos romances. A mulher sempre a fazer costura e a sofrer, o relógio sempre a badalar tristemente as horas, o filho sempre a chorar de dores de barriga no quarto. Assim passam os dias, e João nunca procura emprego, espera acontecer um milagre ou alguma coisa estupenda como nos livros: um velho conhecido que lhe apareça e ofereça dinheiro, trabalho. Enquanto isso não acontece, João Benévolo prefere esquecer a realidade e trancar-se no seu mundo imaginário.
Outras duas personagens muito parecidas são dona Eudóxia e dona Maria Luísa. A primeira é a mãe de Fernanda e Pedrinho, uma senhora pessimista e agourenta, que gosta de farejar desgraças em todo canto. A segunda, uma mulher infeliz com a nova vida, que mudou-se com a família para uma grande e luxuosa mansão desde que seu marido ganhou na loteria, e sente saudades da paz que reinava a humilde casa onde morava, em Jacarecanga. O que as duas tem em comum: a mesma mania de viver lamuriando, reclamar de tudo e de todos, de fazer-se mártir, adivinhar coisas ruins, imaginar desgraças.
A filha de dona Maria Luísa, Chinita, é uma moça alegre e cabeça-de-vento, sempre a sonhar com as estrelas de Hollywood, os bailes, as festas, os luxos, as cenas de cinema. Quando a família tornou-se rica e mudou-se para Porto Alegre, Chinita conheceu um rapaz chamado Salu. Este vive despreocupado com a vida, gosta de desfrutar novos amores, de sentir-se admirado e invejado. Os dois vão ficando cada vez mais apegados um ao outro, a medida em que se vão encontrando. Salu sente acender-lhe por Chinita um desejo carnal, uma sofreguidão de fruto proibido, uma imensa vontade de senti-la, amá-la, possuí-la. Em Chinita, a mesma paixão se acende, e ela sente vontade de descobrir, com ele, os grandes mistérios e sabores do amor, entregando-se abandonadamente a suas carícias.
Porém, não é só em Salu que Chinita desperta desejo e interesse. Vera, filha de Dodó e Leitão Leiria, sente-se completamente atraída pela amiga. Aborrece-a ver Chinita às voltas com o rapaz, bem como a aborrece a impertinente devoção de Armênio Albuquerque, que a segue como um cachorrinho abandonado, sempre a tentar lhe fazer agrados e puxar conversas. Vera trata-o com indiferença e, se lhe responde, é por simples delicadeza.
Na casa de Vera, dona Dodó e Teotônio Leitão Leiria vivem em função do dinheiro e da exibição. Dodó é a presidenta da Sociedade das Damas Piedosas, está sempre envolvida em fazer caridades, visitas aos pobres, e doações aos hospitais e asilos. O que a move é, de um lado, o sentimento religioso e a inspiração em Santa Teresinha, e de outro lado, o secreto gosto pelas aparições nos jornais, pelas entrevistas e pela exibição pública. Já seu marido, Teotônio, é um homem de negócios, também devoto e religioso, porém corrompido pela ganância, pelo dinheiro e pela política. Não obstante, o casal vive em plena harmonia, um a ignorar os defeitos do outro, exaltando-se como os seres mais puros do universo e merecedores da graça de Deus.
Fora deste círculo, vive Fernanda com sua família, numa casa da rua Travessa das Acácias. Fernanda sustenta o lar com o seu ordenado e a sua maturidade, sempre a tolerar as impertinências e os agouros da mãe. Na verdade, Fernanda é quem faz o papel de mãe, tanto para dona Eudóxia quanto para Pedrinho, seu irmão mais novo. Esse anda apaixonado por uma prostituta chamada Cacilda, a mesma que já esteve com Salu e com o marido de dona Dodó. Fernanda vive a trabalhar, a sonhar um pouco, a encarar a vida com coragem e a encontrar-se com seu antigo amigo de infância, Noel. Ela sente vontade de protegê-lo, de ampará-lo, pois sabe o quanto Noel é frágil e triste, e porque, no fundo, por mais que relute um pouco em reconhecer, ela o ama. O que Fernanda ignora é que Noel sente o mesmo por ela, mesmo que timidamente. Ele passa os dias entediado, já não sente o mesmo conforto de antigamente nos livros e nos discos, está fazendo-se homem e quer mudar de vida. Sente agora a vontade de ter uma presença humana por perto, uma alma viva, a lhe alegrar, a falar, a amar. E existirá alguém melhor que Fernanda para isso?
Na frente da casa de Fernanda, mora o pontual e correto professor Clarimundo: um homem metódico e inteligente, que vive sozinho no seu apartamento. Muito dedicado ao estudo da ciência, Clarimundo é fiel seguidor de Albert Einstein, e também defende com paixão a gramática, o estudo das línguas e a matemática. Vive a organizar com grande método os seus horários e suas aulas e, nas horas vagas, fica a observar distraidamente o cotidiano da vizinhança. Dessas horas de observação e meditação lhe floresceu uma brilhante ideia: escrever um livro, O observador de Sírio, em que ele há de narrar, com uma mistura de ciência e fantasia, como um ser de outra dimensão observa a monotonia da vida na Terra. Imagina que esse livro há de ser revolucionário e abalar toda a sociedade.
No meio de toda essa trama que destaca as diferenças de personalidade e os contrastes da vida urbana, pode-se perceber um grande aspecto em comum em todas as personagens: a busca pela felicidade. Seja através dos livros, ou do dinheiro, ou da religiosidade, ou do amor; ou até mesmo na ânsia desesperada de reviver a juventude, como a mãe de Noel. Seja como for, todas as pessoas vivem irremediavelmente buscando a sua própria felicidade. Alguns são mais egoístas, alguns pensam na felicidade dos outros também, mas há sempre esse secreto sentimento a mover todas as pessoas que, de alguma forma, se interessam pela vida.
Com as personagens de Caminhos Cruzados, pude entender melhor como funciona a vida em sociedade, pude compreender claramente a riqueza e a miséria, e enxergar, com os olhos da alma bem abertos, as alegrias e as tristezas que acompanham a humanidade.
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Mi Müller 21/07/2010

Caminhos Cruzados (Globo, 299 páginas), de Érico Veríssimo é uma obra que sempre surpreende. A história não tem personagens centrais, não tem heróis nem mocinhas. É uma teia de histórias que se entrelaçam de uma maneira tão real, tão possível que até assusta.

Fica ao gosto de leitor decidir qual história é central, se é a de Fernanda ou Chinita quem sabe, ou mesmo a de Janjoca, ou talvez de Cacilda? Certo apenas é que nos enveredamos por dramas reais e imaginários, vidas sofridas e vidas felizes.

Cada personagem se apresenta de maneira única, cada um deles é um universo dentro da tecitura criada pelo autor, mas todos eles se encontram interligados por estes caminhos cruzados.

As personagens são uma perfeita caricatura da sociedade Porto Alegrense ainda na época dos casarões do Moinhos de Vento, é fácil nos ansiarmos diante da demagogia hipócrita de Leitão Leiria e sua fervorosa esposa dona Dodô, sempre posando de bons cristãos, mas apenas dois espíritos ???? revestidos pelo simulacro da caridade e da benevolência. Ou então nos compadecermos da situação de João Benévolo, amante dos livros, desempregado, sem perspectivas e com mulher e filho.

Quem sabe a identificação venha com Fernanda, guria boa, pobre, que trabalha de sol a sol, cuida da mãe, do irmão e sonha com Noel, este moço que vive no mundo da fantasia, recebendo mesada do pai, ignorado pela mãe.

A miríade de personagens torna fácil se perder no meio de tantas nuances, de tão diversas personalidades e é isto que dá graça e corpo a esta história que não é só uma, mas múltiplas histórias de caminhos cruzados.

Esta resenha foi publicada originalmente no blog Bibliophile
http://mimuller.wordpress.com
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Marlo R. R. López 12/01/2010

Erico Verissimo tem uma obra maravilhosa. Os seus primeiros romances, que datam da primeira metade do século XX, conseguem suscitar temas e discussões que merecem nossa atenção ainda hoje. São livros atualíssimos. 'Caminhos cruzados' é um desses romances atemporais, e digo que é um dos mais importantes em toda a bibliografia do autor - estava muito a frente do seu tempo, qualquer leitor atencioso pode perceber isso. Facilmente é um dos romances mais emblemáticos da literatura brasileira.

Todas as personagens do romance cultivam, tímida ou abertamente, um sonho. No entanto, esse sonho sempre é massacrado impiedosamente pelas torpezas do mundo real: pelas mazelas humanas, pelas dificuldades financeiras, pelas mesquinharias cotidianas. E essa é a grande poesia do livro. Os nossos sonhos, por mais belos que sejam, não suportam a realidade contundente da sociedade que exige o máximo de nós e que, se não atendemos às suas exigências (mesmo que para isso precisemos tomar decisões morais duvidosas), nos massacra.

João Benévolo sonha com leituras fantásticas, mas é massacrado pelas contas do fim do mês e pela falta de um emprego; Noel sonha com a doçura dos contos de fadas, mas tem de enfrentar os homens sórdidos e ardilosos da laia de seu pai; Chinita emula estrelas de Hollywood, mas o luxo em que vive é evanescente e vazio; o prof. Clarimundo entende Einstein e sonha com o livro que pretende escrever, mas, ainda assim, tem de pegar diariamente um bonde apertado para ir ao trabalho cansativo.

Como o próprio narrador diz a certa altura: "O mundo infinito dos sonhos é tragado pelo mundo finito da realidade."

E a realidade do brasileiro é a realidade da desigualdade social. 'Caminhos cruzados' é um livro de denúncia contra a opulência das classes ricas de uma Porto Alegre provinciana, contra o machismo e os estereótipos femininos (sim, eu disse que era um livro atual) e contra a banalização da vida na busca pelo sustento financeiro.

Uma leitura obrigatória para quem se preocupa com a realidade do povo brasileiro, ontem e hoje.
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Elu 02/02/2009

Acho que foi a primeira vez que pensei que nem sempre a gente quer um final feliz.
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