Carla.Parreira 31/10/2024
O Medico e O Monstro (Robert Louis Stevenson) | O enredo é narrado sob a perspectiva de Mr. Utterson, um advogado que, em uma noite, participa de um passeio com seu primo, Senhor Enfield. Durante a caminhada, Enfield menciona um incidente bizarro que ocorreu perto de uma porta específica, envolvendo uma figura sinistra que atropelou uma garota. Essa descrição inicial do personagem e o acontecimento intrigante com a porta introduzem os temas de dualidade e moralidade que permeiam a história. Assim, a narrativa se desenrola com a construção de um mistério em torno da identidade do Dr. Jekyll e suas ligações com o maligno Senhor Hyde, enquanto a trama explora as complexidades da natureza humana e os conflitos entre a moralidade e a imoralidade. A narrativa avança com a descrição do impacto do incidente envolvendo a menina atropelada, que leva os pais a se envolverem na situação. O Dr. Anfield, que também é mencionado, se torna uma figura importante ao tentar entender a conexão entre o sinistro Senhor Hyde e o Dr. Jekyll. Hyde, ao ser confrontado, oferece um cheque assinado por Jekyll como compensação, o que levanta ainda mais suspeitas sobre a relação entre os dois. Mr. Utterson, intrigado, decide investigar mais a fundo, especialmente após descobrir que o testamento de Jekyll deixa suas posses para Hyde em caso de sua morte ou desaparecimento. Essa revelação incomoda Utterson, que começa a suspeitar que Hyde está manipulando Jekyll de alguma forma. Utterson busca um amigo em comum, o Dr. Lanyon, que também era próximo de Jekyll, na esperança de entender melhor a situação. Durante a conversa, Lanyon menciona que Jekyll se tornou "extravagante" e que eles perderam contato, o que aumenta a preocupação de Utterson. Ele questiona Lanyon sobre Hyde, mas Lanyon não tem conhecimento sobre ele, o que leva Utterson a decidir que ele mesmo irá investigar. Ele se coloca na posição de "senhor procura", determinado a descobrir mais sobre Hyde. Utterson passa a vigiar a porta que leva ao laboratório de Jekyll, esperando ver Hyde entrar ou sair. Em uma dessas ocasiões, ele finalmente avista Hyde e tenta abordá-lo. A interação revela que Hyde é uma figura desconcertante, com um aspecto que lembra um homem primitivo, o que provoca uma sensação de desconforto em Utterson. Ele percebe que Hyde é mais jovem e possui características que o tornam ainda mais enigmático. Essa descrição de Hyde, que evoca uma imagem de primitivismo, sugere uma dualidade entre a civilização representada por Jekyll e a selvageria que Hyde representa, aprofundando o tema central da obra sobre a luta interna entre o bem e o mal. A descrição de Mr. Hyde revela uma figura grotesca e repulsiva, com características que remetem ao homem das cavernas, como sua postura encurvada e o modo como esconde seu rosto. Utterson fica perturbado ao perceber que não é apenas a aparência física de Hyde que incomoda, mas também a energia sombria que ele irradia. Durante um encontro entre Utterson e Hyde, este último demonstra conhecê-lo bem, o que provoca ainda mais inquietação no advogado. Após a interação, Utterson reflete sobre o que viu no rosto de Hyde, chegando a associá-lo à "assinatura de Satan", uma conclusão que embasa suas suspeitas sobre a natureza maligna do personagem. Utterson se aproxima da residência de Jekyll, mas encontra apenas seu mordomo, Poole. O diálogo revela que Hyde possui as chaves da casa e entra e sai à vontade, aumentando o mistério que cerca sua ligação com Jekyll. Preocupado com o passado do médico, Utterson considera a possibilidade de que Hyde esteja chantageando Jekyll com segredos obscuros. Ele reflete sobre a vida anterior de Jekyll, que embora relativamente inocente, é manchada por ações que o atormentam, levando-o a uma profunda humilhação.
Conforme a narrativa se desenrola, a figura de Jekyll, descrita como agradável e respeitável, contrasta fortemente com a de Hyde. Utterson e outros personagens tendem a minimizar a possibilidade de que Jekyll tenha um lado sombrio, enquanto suas aparições são carregadas de segurança. Durante um jantar na casa de Jekyll, Utterson menciona suas preocupações com Hyde, que são rapidamente reconhecidas por Jekyll, indicando que ele está ciente da tensão gerada pela presença de Hyde. Jekyll se mostra genuinamente surpreendido ao ouvir que Utterson conheceu Hyde, o que dá a entender que ele pode não ter pleno controle sobre seus atos quando se transforma em Hyde. Jekyll tenta acalmar Utterson, confessando que tem um grande interesse pelo jovem, um reconhecimento que parece contradizer suas atitudes anteriores. Ele pede ao amigo que proteja Hyde e defenda seus direitos, ressaltando uma dependência emocional que justifica a relação complexa entre os dois. Utterson, embora preocupado e cético, percebe que há muito mais em jogo do que a simples dualidade entre o bem e o mal, sugerindo que a natureza humana é muito mais intricada e cheia de matizes do que se poderia imaginar. A situação se agrava com o assassinato de Mr. Carroll, que ocorre em uma noite tranquila, quando uma empregada observa Hyde se aproximar de Carroll em um parque. A cena se torna sombria quando Hyde, em um acesso de raiva, usa sua bengala para espancar Carroll até a morte. A empregada, que reconhece Hyde, se torna uma testemunha crucial. Ao lado do corpo, a polícia encontra um envelope endereçado a Utterson, o que leva o investigador a procurá-lo para que ele identifique o cadáver. Utterson, abalado ao descobrir que Carroll era um amigo e cliente, se vê envolvido em uma trama cada vez mais complexa. Ele se lembra de que Hyde havia mencionado não morar na casa de Jekyll, mas em um apartamento nas proximidades. Ao visitar o local, Utterson e o policial encontram a casa de Hyde em desordem, com sinais de que ele havia fugido rapidamente. A cena revela uma lareira recentemente apagada e documentos queimados, incluindo um talão de cheques que indica que Hyde possui uma conta bancária substancial. A busca por Hyde se intensifica, mas a maneira como a polícia lida com a situação parece ineficaz, levando Utterson a questionar a lógica das ações policiais. Ele se dirige a Jekyll para discutir a gravidade da situação, revelando que Hyde cometeu um assassinato. Jekyll, embora preocupado, ainda se mostra disposto a ajudar Hyde, o que levanta mais suspeitas sobre sua relação com o criminoso. Jekyll apresenta a Utterson uma carta escrita por Hyde, que foi parcialmente queimada, mas ainda legível. Na carta, Hyde tenta tranquilizar Jekyll, afirmando que não há motivo para preocupação e que suas ações não mancharão a reputação do médico. Utterson, intrigado, leva a carta para seu escritório, onde um funcionário especializado em caligrafia analisa o documento. Ele percebe semelhanças entre a caligrafia de Hyde e um bilhete anterior de Jekyll, levando Utterson a suspeitar que Jekyll pode estar forjando documentos para proteger Hyde. Essas revelações aumentam a tensão e a incerteza sobre a verdadeira natureza da relação entre Jekyll e Hyde, enquanto Utterson se vê cada vez mais envolvido em um mistério que desafia sua compreensão da moralidade e da identidade humana. A narrativa se aprofunda nas complexidades da amizade, lealdade e a luta interna entre o bem e o mal, refletindo as inquietações da sociedade vitoriana sobre a dualidade da natureza humana. Estava consciente do que estava fazendo, mas a situação se torna ainda mais trágica quando eles percebem que Hyde, em um último ato de desespero, decidiu acabar com sua própria vida. A cena é chocante e revela a profundidade da luta interna entre as identidades de Jekyll e Hyde. Utterson, horrorizado, tenta entender como seu amigo, o respeitável Dr. Jekyll, poderia ter se transformado em um ser tão monstruoso. Após a morte de Hyde, Utterson encontra o envelope que o advogado havia deixado com instruções específicas sobre o que fazer em caso de morte ou desaparecimento de Jekyll. Ele abre o segundo envelope, que contém um relato angustiante de Jekyll, onde ele confessa sua transformação em Hyde e a luta constante entre suas duas naturezas. Jekyll revela que, embora tenha tentado se livrar de Hyde, a força da personalidade de Hyde se tornou incontrolável, levando-o a cometer atos terríveis. A carta de Jekyll é um desabafo sobre sua busca por liberdade e a tentação de explorar os limites da moralidade. Ele descreve como a ciência e a ambição o levaram a criar uma poção que o transformava, permitindo que ele experimentasse uma vida sem as restrições sociais que o cercavam. No entanto, essa liberdade teve um custo devastador, resultando em sua eventual ruína. Utterson, ao ler a carta, sente uma mistura de tristeza e raiva, percebendo que a amizade que tinha por Jekyll foi corrompida pela influência de Hyde. Ele se vê diante da realidade de que a dualidade da natureza humana é uma luta constante, e que a linha entre o bem e o mal é muitas vezes tênue. A revelação final de Jekyll sobre sua incapacidade de controlar Hyde deixa Utterson em um estado de reflexão profunda sobre a condição humana e as consequências de ceder aos impulsos mais sombrios. A narrativa culmina em um clímax emocional, onde a tragédia da vida de Jekyll e a ascensão de Hyde servem como um alerta sobre os perigos da ambição desmedida e da negação da própria natureza. A história termina com Utterson contemplando a perda de seu amigo e a inevitabilidade da luta interna que todos enfrentam, deixando uma marca indelével na mente do leitor sobre a complexidade da identidade e da moralidade. Dr. Jekyll, embora ainda estivesse presente de alguma forma, estava em uma situação crítica, e a busca por ele se intensificava. Utterson e Poole, desconfiados, investigam o laboratório de Jekyll, onde encontram indícios que sugerem que Hyde pode ter causado a morte de Jekyll. Poole, ao espiar pela porta entreaberta, vê Hyde e rapidamente se afasta, alimentando ainda mais suas suspeitas. Utterson, ao examinar os documentos deixados por Jekyll, descobre um testamento que agora designa suas posses a ele, em vez de Hyde, o que provoca uma confusão ainda maior. Enquanto isso, Utterson encontra uma carta que Jekyll havia deixado, na qual ele antecipa seu desaparecimento e pede que Utterson leia a narrativa de Lanyon, um amigo em comum. Essa narrativa revela a experiência de Lanyon ao ser chamado ao laboratório de Jekyll, onde ele testemunha a transformação de Hyde em Jekyll após a ingestão de uma poção. A descrição de Lanyon sobre essa transformação é tão impactante que ele fica profundamente abalado, levando-o a romper laços com Jekyll. A narrativa de Lanyon destaca a dualidade da natureza humana, um tema central na obra. Jekyll, em sua carta, reflete sobre sua própria dualidade, reconhecendo que não é um hipócrita, mas sim um homem dividido entre duas identidades autênticas. Ele descreve sua busca por conhecimento e a tentação de explorar os limites da moralidade, o que o leva a criar a poção que desencadeia sua transformação em Hyde. Jekyll admite que essa busca por liberdade e autoconhecimento resultou em um desastre, revelando a verdade de que o ser humano é, na essência, duplo. À medida que a narrativa avança, Jekyll se vê cada vez mais preso à sua criação, Hyde, que representa seus instintos mais sombrios e a luta interna entre o bem e o mal. Ele conclui que a verdadeira natureza do homem é uma batalha constante entre essas duas forças, e que a tentativa de suprimir uma delas pode levar a consequências devastadoras. A história culmina em uma reflexão profunda sobre a identidade, a moralidade e a complexidade da condição humana, deixando Utterson e o leitor com uma sensação de inquietação sobre a natureza do bem e do mal que reside em cada um de nós. Jekyll vive uma vida dupla, apresentando-se como um médico respeitável e dedicado, enquanto oculta um lado obscuro de vícios e comportamentos clandestinos que poderia arruinar sua reputação. Ele labuta em busca de uma solução para separar essas duas facetas de sua personalidade, desejando que seu lado sombrio permanecesse longe dos olhos da sociedade vitoriana. Ao investigar propriedades químicas, Jekyll descobre que é possível dissociar essas partes de si mesmo, preparando uma poção que lhe permitiria acessar sua natureza inferior sem se expor. No início, a experiência com a poção traz a ele uma sensação de liberdade e juventude, mas rapidamente se transforma em um ciclo de violência e descontrole. Conforme se torna cada vez mais dependente da poção para assumir a forma de Hyde, Jekyll começa a perder o controle sobre esse lado sombrio. Um momento crítico ocorre quando ele acorda como Hyde sem ter tomado a poção, revelando que a natureza maligna de Hyde havia se apoderado dele. Jekyll tenta recuperar a dominação sobre Hyde, mas a luta se torna cada vez mais desigual, uma vez que Hyde se transforma na parte dominante de sua identidade. O desespero se intensifica quando ele percebe que, apesar de seus esforços para separar suas duas naturezas, o mal se intensifica. Em um último ato de lucidez, Jekyll altera seu testamento, transferindo suas propriedades para Utterson, indicando sua consciência de que os dias de controle estavam chegando ao fim. Ele se vê impotente frente a Hyde e, em sua busca para corrigir a situação, acaba em um ponto sem retorno, não conseguindo再 criar a poção que o salvaria. Ao se ver em uma situação desesperadora, com o medo do futuro e do que Hyde poderia fazer, decide por fim à sua vida como uma forma de se libertar de suas criações. A narrativa se desenrola dentro de uma crítica ao progresso e à dualidade humana, onde Jekyll representa o dilema moral e a luta interna entre as forças do bem e do mal. O autor, ao final, reflete sobre a impossibilidade de dividir a essência do ser humano, enfatizando que todos carregam tanto luz quanto sombra em suas almas, uma complexidade que Jekyll não conseguiu enfrentar, resultando em sua queda trágica. A dualidade não se limita apenas ao indivíduo, mas se reflete também na arquitetura de sua casa, onde o laboratório que simboliza seu lado obscuro é anexado ao seu lar respeitável. Essa representação física da divisão entre o bem e o mal ecos do conflito interno de Jekyll. Enquanto ele tenta manter sua aparência de conhecimento e virtude, o ambiente que o cerca fala da iminente corrupção que ele mesmo alimenta. Stevenson utiliza essa ambientação para reforçar a ideia de que todos nós temos um lado sombrio que pode ser escondido, mas nunca totalmente erradicado. Jekyll, ao alimentar suas vontades secretas, em um primeiro momento experimenta a euforia de ser Hyde, mas logo descobre que não pode controlar suas consequências. O autor narra a descida gradual de Jekyll ao vício, onde a poção, inicialmente uma fonte de libertação e juventude, se transforma em uma prisão que consome sua sanidade e moralidade. A relação entre Jekyll e Hyde se torna um microcosmo da luta humana entre o desejo e a moralidade, e Stevenson se recusa a revelar todos os detalhes das transgressões de Hyde, permitindo que o leitor preencha as lacunas com sua própria imaginação. Esse recurso é semelhante ao que Wilde faz com o personagem Dorian Gray, ambos explorando a natureza da reputação e as façanhas secretas de suas personagens na Londres vitoriana. A paralela entre os dois romances se torna evidente à medida que ambos os protagonistas lidam com as ramificações de suas ações e as mentiras que precisam sustentar para esconder suas vidas duplas. Enquanto Jekyll tenta assumir a responsabilidade por suas ações, ele sucumbe ao seu lado sombrio, perdendo a batalha contra Hyde. O clímax chega com a percepção de que o vício já não é algo que ele pode controlar, levando-o a um ponto de desespero, onde a única resolução possível parece ser a extinção de sua identidade e da criatura que ele criou. Nesse contexto, Stevenson faz uma crítica ao conceito de que a natureza humana pode ser facilmente dividida em boas e más facetas, mostrando como essa luta interna é complexa e muitas vezes aterradora. No final, o leitor é levado a refletir sobre os limites da moralidade e as consequências das escolhas que cada um de nós enfrenta, revelando a fragilidade da condição humana frente à tentação e ao desejo desenfreado. A necessidade de um corte radical na vida de Jekyll, que culmina em um ato extremo, o suicídio, reflete a tragédia e a catarsis que permeiam a narrativa. A obra, ao se desenrolar, leva o leitor a uma profunda imersão na mente do doutor, especialmente no último capítulo, onde ele narra sua própria história em primeira pessoa. Essa escolha estilística permite que o leitor se coloque no lugar de Jekyll, vivenciando suas angústias e dilemas morais. A leitura se transforma em um exercício de alteridade, onde a identificação com Jekyll é inevitável, mas ao mesmo tempo, o desejo é de ser como Utterson, a figura que representa a moralidade e a razão. Utterson, com sua postura rígida e sua natureza confiável, se torna um contraponto ao comportamento autodestrutivo de Jekyll. Ele é descrito como um homem de poucas palavras, mas com uma sólida tolerância, que se esforça para ajudar seu amigo, mesmo diante da ambiguidade moral que Jekyll representa. Apesar de seus esforços, Utterson não consegue salvar Jekyll de seu destino trágico, o que ressalta a impotência diante da luta interna que cada um enfrenta. A relação entre os dois personagens destaca a fragilidade das conexões humanas quando confrontadas com os demônios pessoais. A narrativa, portanto, não apenas explora a dualidade da natureza humana, mas também a importância da amizade e da lealdade, mesmo quando estas se mostram insuficientes para evitar a queda de um amigo. A obra termina deixando uma reflexão profunda sobre as consequências das escolhas e a inevitabilidade do destino.