Ilana 08/06/2020
Não era amor era... Cilada!
Katorze é um livro sofrível. Comecei sem saber ao certo o que esperar, a sinopse não revela muita coisa. Mas ao me embrenhar na literatura de Caroline Andrade, a decepção me invadiu e isso foi tudo o que restou.
Andrade conta a história do que ela chama de "amor que foge de os padrões", porém o livro nos mostra uma adolescente, escravizada, estuprada, espancada, sendo abusada dia após dia pelo homem que ela diz amar e que a colocou em cativeiro. O romance conta a história de uma personagem vivendo em Síndrome de Estocolmo e que, como qualquer pessoa não curada de algo tão terrível como isso, insiste que isso não é amor, como não pode viver sem o homem que cometeu os abusos com ela.
É uma barbaridade toda essa romantização. Achei que o livro ainda tivesse uma saída, mas do meio para o final percebi que não, a direção que a autora dá para a história não me agrada por diversos motivos, mas o primeiro e principal deles é a romantização dos abusos.
Um autor, um escritor, é, muitas vezes, um herói, alguém que implanta ideia, alguém que é seguido. Quando um livro é publicado o autor precisa arcar com sua história, com suas palavras, com a forma como as pessoas vão enxergar através do que ele escreveu. Toda vez que leio um livro que leva numa boa e passa a mão na cabeça de estupradores, abusadores, que romantiza violência e acha aceitável uma personagem principal se render ao seu abusador, eu sinto como se a falha viesse do autor.
Então me pego pensando em como seria uma pessoa mais jovem, inocente, que vive em um relacionamento abusivo ou não sabe como reconhecer um, lendo essa história.
Passei o livro inteiro indignada. E acho que agora que acabei continuo assim. E nem falo dos erros ortográficos, das expressões repetidas página após página, nem dos erros básicos de enredo como uma menina que não foi alfabetizada conhecer palavras e expressões que não poderia conhecer.
Quando descobri o enredo precisei ler até o final, tentando não julgar a história antes de terminá-la. Andrade mostrou um lado feio no livro, um lado feio de uma situação horrorosa que jamais pode ser chamada de romance, amor ou paixão.
Não, não é amor, talvez seja só cilada mesmo, junto com o abuso, a síndrome de Estocolmo e tristeza em saber que muita gente que leu vai identificar nessa história um grande caso de amor.