André Luiz Pinheiro 15/01/2024
Uma volta ao mundo, mas também ao desconhecido
De protagonismo singular, no entanto pouco carismático. Se resguardando em garbo onde talvez coubesse espírito livre. Phileas Fogg, em nome do velho cavalheirismo se arrisca em uma aposta que transparece inconsequência e impulsividade, no entanto utiliza do estereótipo do "inglês pontual" para alçar uma aventura através do globo em troca de toda sua riqueza de gentleman.
Seu nobre escudeiro e sidekick principal permanece como seu coadjuvante de alívio cômico e traz variedade aos personagens da obra. Arriscaria dizer que Passepartout literalmente passa por tudo, não restando muitas provações ao protagonista que se encasula em uma aura óbviamente representativa britânica, mas que não causa entusiasmo ao leitor. Dentre os personagens, de fato, fui menos preso à trama por Fogg do que por qualquer outro.
O enredo é imaginativo, criativo e a escrita conta com riqueza descritiva sensorial e bons diálogos,principalmente os cômicos. O intuito do livro é deslumbrar e divertir, e devo admitir que o atingiu.
A ressalva principal, muito devido a seu recorte temporal, reside nas descrições pouco profundas em questões culturais das aventuras e de suas localidades, aparentando afinal uma visão de senso comum ou de estereótipo que visava agradar as pré concepções dos leitores de Verne.
Soma-se a isso, reitero, a pouca presença do personagem principal, pouco desenvolvimento dos personagens e das localidades visitadas, infelizmentente não utilizando da grande oportunidade de tornar o livro uma novela, afastando o leitor em uma nuvem de crônica.
Esta obra é um convite ao imaginário e à aventura, talvez um aperitivo ao interesse e à descoberta de novas culturas, novos lugares e à diversidade,mas também é uma marca do olhar europeu sobre o mundo tão belo e plural, capaz de dar a volta ao mundo em 80 dias ainda em seu terno e cartola.